quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Plano de educação de Haddad aumenta rigor sobre alunos - Ricardo Gallo

folha de são paulo
Prefeito pretende elevar número de séries em que estudante pode ser reprovado
Projeto para 2014 prevê também lição de casa obrigatória e boletim bimestral divulgado para pais na internet
DE SÃO PAULOO prefeito Fernando Haddad (PT) anunciará hoje um plano de reestruturação na educação municipal que prevê aumentar, a partir do ano que vem, as exigências para os alunos do ensino fundamental em São Paulo.
Entre as medidas está a possibilidade de reprovação em cinco das nove séries, como antecipou a Folha em julho. Hoje, o estudante só pode ser retido em duas séries.
A proposta, que ficará em consulta pública de hoje a 15 de setembro, fixa ainda obrigatoriedade de provas bimestrais e de lição de casa aos alunos, algo para o qual não há regra atualmente.
As notas irão de zero a dez, em vez dos atuais conceitos (plenamente satisfatório, satisfatório e não satisfatório).
Para o secretário de Educação, Cesar Callegari, "não se trata de mais rigidez aos alunos, mas de mais organização". Segundo ele, as escolas saberão com mais rapidez as dificuldades dos alunos e poderão atacar o problema.
Sem ter tido acesso à proposta, o presidente do Sinesp (sindicato dos diretores da rede municipal), João Alberto Rodrigues de Souza, faz ressalvas às notas de zero a dez em lugar de conceitos e à reprovação em cinco séries.
"É preciso ter cuidado com a forma como os professores receberão esses instrumentos nas mãos. Há histórico de professores que usam nota como forma de repressão, como se fosse uma arma para controlar o aluno", diz.
BOLETIM
O plano estabelece boletim bimestral para acompanhamento do desempenho de alunos, que os pais poderão consultar pela internet.
No aspecto disciplinar, também há alterações. Hoje cabe a cada escola definir quais sanções serão aplicadas em caso de indisciplina.
Pela proposta, haverá uma espécie de código de conduta, com regras para advertência ou suspensão.
PREMISSA
A proposta de alteração nas reprovações se baseou em uma premissa: pelo modelo atual, em que o aluno do primeiro ciclo só pode ser retido ao final do quinto ano, ele pode ficar muito tempo na escola sem aprender.
Dados da Prova Brasil de 2011 mostram que 38% dos alunos do 5º ano na cidade de São Paulo não estavam plenamente alfabetizados.
A meta é assegurar que todas as crianças saiam do terceiro ciclo alfabetizadas.
Souza, do sindicato dos diretores, acha boa a preocupação com alunos que não estão aprendendo e diz que as escolas ganharão autonomia.
A reprovação, segundo Haddad, só ocorrerá em último caso, de modo "residual". Isso porque, disse ele, haverá mais chances de recuperação durante o ano letivo.
Uma delas é a recuperação nas férias. Outra é a dependência --em que o aluno "carrega" no ano seguinte disciplinas nas quais não foi aprovado na série anterior.
Comum no ensino superior, a dependência valerá para os alunos do sétimo e do oitavo anos. Não está definido ainda qual o máximo de disciplinas a ser permitido.
OFERTA
O plano municipal também contempla ampliar a rede.
Está prevista, por exemplo, a construção de 367 unidades educacionais, das quais 20 CEUs (centros de educação unificados).
Para os CEUs, a gestão Haddad erguerá unidades ao lado de clubes-escola, para aproveitar a estrutura. O secretário da Educação disse que o modelo pedagógico no novo e no antigo CEU será idêntico.
    ANÁLISE - EDUCAÇÃO
    Proposta do prefeito agrada docente que quer mais poderes
    Educadores apontam que alunos perderam a disciplina porque sabem que a reprovação é quase impossível
    OS AGRADOS CONTEMPLARÃO CATEGORIA QUE FEZ UMA GREVE DE 23 DIAS EM MAIO PASSADO, CINCO MESES APÓS FERNANDO HADDAD ASSUMIR A PREFEITURA DE SÃO PAULO
    FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO
    Parte das propostas apresentadas pelo prefeito Fernando Haddad (PT) vai ao encontro do que reivindicam os professores das escolas públicas: mais poderes dentro das salas de aula.
    Um forte discurso entre educadores é que os alunos perderam a disciplina porque sabem que a reprovação é quase impossível após a adoção da progressão continuada, em 1992, na gestão Luiza Erundina (então no PT).
    A proposta de Haddad atende aos professores ao aumentar a possibilidade de retenção das atuais duas para cinco séries do fundamental.
    O prefeito diz que seu plano visa avaliar melhor e dar mais apoio pedagógico ao aluno, o que evitará que ele não saiba o conteúdo (e, consequentemente, reprove).
    De qualquer forma, a ferramenta da retenção estará à disposição dos professores, para desespero de educadores que veem a reprovação como uma das principais causas da evasão escolar.
    Ainda no capítulo disciplinar, o plano abre possibilidade para que se institucionalize na rede a advertência e a suspensão de alunos, outra reivindicação de docentes. A adoção de sanções hoje depende de cada escola.
    Os agrados contemplarão categoria que fez uma greve de 23 dias em maio passado --cinco meses após Haddad assumir a Prefeitura de São Paulo--, reivindicando aumento salarial.
    Reajuste esse que não deverá fugir muito do que já foi acertado durante o governo Gilberto Kassab (PSD), considerando a situação financeira que Haddad diz estar enfrentando no município.
    Nesse panorama de aperto orçamentário, com medidas de custo quase zero, Haddad agrada boa parcela de seus professores --que tanto podem se engajar no plano de melhorar o ensino como dar ao petista considerável base para futuras eleições.
    Resta saber qual será o impacto das medidas sobre os estudantes, principais interessados na melhoria do sistema educacional

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