Prefeito pretende elevar número de séries em que estudante pode ser reprovado
Projeto para 2014 prevê também lição de casa obrigatória e boletim bimestral divulgado para pais na internet
Entre as medidas está a possibilidade de reprovação em cinco das nove séries, como antecipou a Folha em julho. Hoje, o estudante só pode ser retido em duas séries.
A proposta, que ficará em consulta pública de hoje a 15 de setembro, fixa ainda obrigatoriedade de provas bimestrais e de lição de casa aos alunos, algo para o qual não há regra atualmente.
As notas irão de zero a dez, em vez dos atuais conceitos (plenamente satisfatório, satisfatório e não satisfatório).
Para o secretário de Educação, Cesar Callegari, "não se trata de mais rigidez aos alunos, mas de mais organização". Segundo ele, as escolas saberão com mais rapidez as dificuldades dos alunos e poderão atacar o problema.
Sem ter tido acesso à proposta, o presidente do Sinesp (sindicato dos diretores da rede municipal), João Alberto Rodrigues de Souza, faz ressalvas às notas de zero a dez em lugar de conceitos e à reprovação em cinco séries.
"É preciso ter cuidado com a forma como os professores receberão esses instrumentos nas mãos. Há histórico de professores que usam nota como forma de repressão, como se fosse uma arma para controlar o aluno", diz.
BOLETIM
O plano estabelece boletim bimestral para acompanhamento do desempenho de alunos, que os pais poderão consultar pela internet.No aspecto disciplinar, também há alterações. Hoje cabe a cada escola definir quais sanções serão aplicadas em caso de indisciplina.
Pela proposta, haverá uma espécie de código de conduta, com regras para advertência ou suspensão.
PREMISSA
A proposta de alteração nas reprovações se baseou em uma premissa: pelo modelo atual, em que o aluno do primeiro ciclo só pode ser retido ao final do quinto ano, ele pode ficar muito tempo na escola sem aprender.Dados da Prova Brasil de 2011 mostram que 38% dos alunos do 5º ano na cidade de São Paulo não estavam plenamente alfabetizados.
A meta é assegurar que todas as crianças saiam do terceiro ciclo alfabetizadas.
Souza, do sindicato dos diretores, acha boa a preocupação com alunos que não estão aprendendo e diz que as escolas ganharão autonomia.
A reprovação, segundo Haddad, só ocorrerá em último caso, de modo "residual". Isso porque, disse ele, haverá mais chances de recuperação durante o ano letivo.
Uma delas é a recuperação nas férias. Outra é a dependência --em que o aluno "carrega" no ano seguinte disciplinas nas quais não foi aprovado na série anterior.
Comum no ensino superior, a dependência valerá para os alunos do sétimo e do oitavo anos. Não está definido ainda qual o máximo de disciplinas a ser permitido.
OFERTA
O plano municipal também contempla ampliar a rede.Está prevista, por exemplo, a construção de 367 unidades educacionais, das quais 20 CEUs (centros de educação unificados).
Para os CEUs, a gestão Haddad erguerá unidades ao lado de clubes-escola, para aproveitar a estrutura. O secretário da Educação disse que o modelo pedagógico no novo e no antigo CEU será idêntico.
ANÁLISE - EDUCAÇÃO
Proposta do prefeito agrada docente que quer mais poderes
Educadores apontam que alunos perderam a disciplina porque sabem que a reprovação é quase impossível
OS AGRADOS CONTEMPLARÃO CATEGORIA QUE FEZ UMA GREVE DE 23 DIAS EM MAIO PASSADO, CINCO MESES APÓS FERNANDO HADDAD ASSUMIR A PREFEITURA DE SÃO PAULO
FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO
Parte das propostas apresentadas pelo prefeito Fernando Haddad (PT) vai ao encontro do que reivindicam os professores das escolas públicas: mais poderes dentro das salas de aula.
Um forte discurso entre educadores é que os alunos perderam a disciplina porque sabem que a reprovação é quase impossível após a adoção da progressão continuada, em 1992, na gestão Luiza Erundina (então no PT).
A proposta de Haddad atende aos professores ao aumentar a possibilidade de retenção das atuais duas para cinco séries do fundamental.
O prefeito diz que seu plano visa avaliar melhor e dar mais apoio pedagógico ao aluno, o que evitará que ele não saiba o conteúdo (e, consequentemente, reprove).
De qualquer forma, a ferramenta da retenção estará à disposição dos professores, para desespero de educadores que veem a reprovação como uma das principais causas da evasão escolar.
Ainda no capítulo disciplinar, o plano abre possibilidade para que se institucionalize na rede a advertência e a suspensão de alunos, outra reivindicação de docentes. A adoção de sanções hoje depende de cada escola.
Os agrados contemplarão categoria que fez uma greve de 23 dias em maio passado --cinco meses após Haddad assumir a Prefeitura de São Paulo--, reivindicando aumento salarial.
Reajuste esse que não deverá fugir muito do que já foi acertado durante o governo Gilberto Kassab (PSD), considerando a situação financeira que Haddad diz estar enfrentando no município.
Nesse panorama de aperto orçamentário, com medidas de custo quase zero, Haddad agrada boa parcela de seus professores --que tanto podem se engajar no plano de melhorar o ensino como dar ao petista considerável base para futuras eleições.
Resta saber qual será o impacto das medidas sobre os estudantes, principais interessados na melhoria do sistema educacional
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