Partido-ônibus
RIO DE JANEIRO - O Rio está ocupado. Ontem, além da Câmara Municipal e das calçadas em frente à rua do governador, manifestantes ocupavam várias vias da capital.Eram professores em greve, moradores de favela reclamando da morte de um jovem, familiares do desaparecido Amarildo pedindo justiça, só para citar alguns casos. Gente gritando por quase tudo em quase todo lado.
Se os protestos diários entram na rotina, a situação da Câmara tem contornos de tragicomédia. Manifestantes ganharam pulseiras VIP para poder circular e pedem melhores condições de ocupação. Investigadores da CPI são vereadores que não queriam que nada fosse investigado.
Transporte é problema crucial no Rio. Seja em relação à mobilidade, seja na comumente controvertida relação entre prefeitura e empresários.
O motivo da ocupação da Câmara é a CPI dos Ônibus, criada para investigar a "implantação, fiscalização e operação do transporte coletivo".
Na sexta-feira, a comissão definiu como presidente (Chiquinho Brazão) e relator (Professor Uóston) vereadores da base do prefeito Eduardo Paes (PMDB), que não assinaram o pedido de CPI. Foi o estopim da ocupação por manifestantes que exigem na presidência o autor do requerimento, Eliomar Coelho (PSOL). Paes diz que não se mete no Legislativo e que, assim como não interferiu na coleta de assinaturas, não vai atuar na composição. Difícil acreditar que sua base aja apenas por vontade própria.
Para o prefeito, a questionada licitação de ônibus já foi fiscalizada e não há irregularidades. Entretanto, ele é claro: "Se eu mandasse na Câmara, não tinha CPI".
Paes quer deixar a marca de prefeito interessado em ouvir múltiplas vozes, atento à agenda da rua. Não deveria temer a CPI. Nem se omitir como liderança partidária. Mesmo que o seu seja um partido-ônibus, ou, numa definição mais clara, um balaio de gatos.
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