Manifestantes saem de bairros distantes para participar de atos no centro de SP
Depois de confronto com a polícia na Câmara Municipal, grupo ataca loja e agência bancária
A confusão começou logo após as 19h, minutos depois de o Movimento Passe Livre (MPL) ter encerrado a sua passeata, na praça da Sé.
Manifestantes tentaram invadir o prédio, protegido por grades de ferro e PMs. Num intervalo de dez minutos, ao menos quatro bombas foram lançadas de dentro da multidão em direção ao prédio.
Gabriel, de 17 anos, veio de Lauzane Paulista, na zona norte, com seus amigos pichadores. Tinha duas caixas de bombas dentro da mochila --R$ 10 cada uma. Amarrou uma camiseta preta na cabeça e veio da praça da Sé fumando um "baseado".
No tumulto que se formou na frente das grades da Câmara, ele acendia as bombas e jogava nos policiais.
"Aqui só tem boyzinho, vai olhar quantos andam de ônibus" dizia Igor, 25, amigo de Gabriel, mostrando o Bilhete Único no bolso. "A gente já esteve no sistema, sabe como funciona."
Arrebanharam no caminho o menino Flávio, 12, que mora na praça da Sé e se animou com o "programa". "Vamos quebrar tudo! E depois podemos tomar' [roubar] os boy'."
Ao menos 55 manifestantes conseguiram entrar no prédio da Câmara, alguns foram autorizados pelo comando, outros furaram o bloqueio --15 deles bateram boca com o presidente da Casa, José Américo.
Por volta das 19h10, um oficial da PM identificou um dos manifestantes que atiravam bombas e enviou três policiais que estavam no cordão de segurança para prendê-lo.
Foi o começo da correria. Os manifestantes cercaram os policiais para impedir a prisão e um deles foi atingido com uma bomba na altura do peito.
Mais PMs saíram do prédio da Câmara para socorrer os colegas, usando bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.
O pichador Gabriel e outros manifestantes saíram correndo e arrancaram o tapume das obras ao lado da Câmara. Começaram a usar pedaços do tapume como escudo e projéteis.
Outro manifestante, de 26 anos, com uma máscara de lã preta, jogava bombas que levava na mochila. "Se a polícia revistar as mochilas, vai ser só no final, quando já vamos ter jogado todas as bombas", dizia.
Os manifestantes correram em direção à Liberdade. No caminho, montavam barricadas com sacos de lixos queimados.
Felipe, de 34 anos, estava na linha de frente que empurrou as grades para invadir a Câmara. Saiu da Câmara correndo, depois que a polícia começou a dispersar a multidão com bombas.
FÚRIA REVOLUCIONÁRIA
Com brincos e alargadores de orelha, lenço preto cobrindo e o rosto e um camiseta da banda punk britânica "The exploited", foi quebrando coisas pelo caminho. Arrancou uma lata de lixo suspensa e jogou contra um ônibus."É a fúria revolucionária!", gritava. "Tenho três filhos em casa, de 10, 12 e 14, deixei a janta na mesa e vim pra cá quebrar tudo", disse ele, que disse ser um anarcopunk da zona leste.
"Já quebrei uma porrada de coisa hoje, porque esse sistema é uma m... Democracia não existe, shoppings são uma mentira, bancos são uma mentira", disse.
"Tá vindo a viatura, vaza!"
O grupo de "black blocs" e anarcopunks continuou correndo pelo viaduto Dona Paulina. Na avenida Liberdade, quebraram os vidros e picharam uma agência bancária do Itaú e a loja de cosméticos Ikesaki.
'Mídia Gaysha' quer ser uma alternativa aos 'ninjas'
DE SÃO PAULOO sucesso do 'Mídia Ninja' na cobertura dos protestos já rendeu ao menos uma cria: ontem, três jovens autointituladas "Mídia Gaysha" também usavam o celular para transmitir as manifestações ao vivo via web.Mas as semelhanças param aí. Enquanto os "ninjas" têm cabelo desgrenhado e usam roupas surradas, compartilhadas nas casas coletivas onde vivem, as "gayshas" preferem jeans justos, echarpes coloridas e não dispensam a maquiagem e o pente.
"É uma brincadeira com outra possibilidade", disse uma delas, que se identificaram apenas como irmãs Franzese. "A subjetividade existe em qualquer observador."
Ela defendeu uma cobertura "sem o monopólio de nenhuma mídia alternativa ou tradicional".
O grupo, explica, inclui homens e mulheres, entre designers, ativistas e artistas.
Ao ser questionada se vivem em casas coletivas como os "ninjas", a integrante do grupo respondeu que "vivo com a minha irmã": "Quem não é coletivo?"
Em sua estreia na cobertura das manifestações de rua, as "gayshas" ficaram bem longe da popularidade dos "ninjas".
A transmissão na internet, localizável por uma página no Facebook, não chegou a cem acessos por vídeo. No Twitter, tinha apenas 13 seguidores até ontem à noite.
Para comparação: o Mídia Ninja', que também cobriu ao vivo os protestos de ontem, acumula cerca de 19 mil seguidores no Twitter.
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