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sábado, 17 de agosto de 2013

'Bolsa anticrack' atende primeiros viciados - Sabine Righetti

folha de são paulo
11 dependentes químicos foram selecionados para tratamento em instituição filantrópica de Campinas, interior de SP
Estado anunciou meta de 300 parcerias, mas só 34 entidades já toparam receber internos por R$ 1.350
SABINE RIGHETTIENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS (SP)A "bolsa anticrack" do Estado para atender viciados começou a sair do papel há duas semanas e meia.
Os primeiros 11 dependentes químicos selecionados para receber um crédito mensal de R$ 1.350 para tratamento estão sendo atendidos em uma instituição filantrópica de Campinas (a 93 km de SP).
Sorocaba e Ribeirão Preto devem ser as próximas.
O Estado, no entanto, ainda patina para conseguir as parcerias com entidades interessadas no programa --batizado de "Recomeço".
Da meta de 300 anunciada no primeiro semestre, só 34 já toparam receber residentes pelo valor estipulado e deram início ao credenciamento na Secretaria de Justiça.
A bolsa que ficou conhecida como "anticrack" foi anunciada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) em maio, com a justificativa de tentar evitar que viciados que passaram por desintoxicação em hospitais e clínicas públicas tenham recaídas.
Cada beneficiado terá R$ 1.350 mensais, repassados pelo governo às comunidades terapêuticas (entidades que acolhem dependentes químicos), por até seis meses.
A iniciativa é motivo de divergência entre especialistas.
As 11 pessoas que já estão em tratamento--nove dependentes de crack e dois de entorpecentes como cocaína-- estão acolhidas na instituição Padre Haroldo.
Encaminhadas pela Prefeitura de Campinas ao Estado, elas dividem quartos e passam por atividades físicas e acompanhamento psicológico, com tarefas que vão das 5h30 às 22h. No local, há 120 dependentes, dos quais 11 estão incluídos na "bolsa anticrack" do Estado. Os demais pagam R$ 2.400 por mês.
Na rotina da entidade, além do tratamento, os residentes participam da limpeza e do preparo da comida.
Apesar de ter sido criada por um padre, a instituição não se define como religiosa.
Por enquanto, não houve desistência. Mas, segundo Cesar Rosolen Jorge, gestor técnico da Padre Haroldo, cerca de 50% dos residentes costumam desistir do tratamento logo no primeiro mês.
Os primeiros dependentes estão participando de uma fase para testar principalmente a tecnologia biométrica (de identificação das digitais) para controle do tratamento.
É como um cartão de ponto: todos os dias, o residente coloca a digital em uma máquina que fica na instituição. Depois disso, o governo faz o pagamento da sua diária.
Para receber a "bolsa" não é preciso ter baixa renda.
"Mas quem tem dinheiro acaba pagando", diz Gleuda Apolinário, coordenadora do projeto na Secretaria de Desenvolvimento Social.
Para dar início ao tratamento é preciso estar com a saúde estável. Essa parte é monitorada pela Secretaria Estadual de Saúde, que, via SUS, atesta tanto a dependência quanto o estado clínico.
O Estado atribui a adesão de só 34 entidades até agora à quantidade de documentos para credenciamento. Mas mantém a meta de 300.
    Internação de dependentes é controversa
    DE SÃO PAULOO acolhimento de dependentes químicos em comunidades terapêuticas divide opiniões de especialistas em todo o mundo.
    De um lado, há quem seja contra o tratamento fora de casa. Isso porque o dependente químico não estaria "doente" a ponto de precisar de uma internação e precisaria manter laços familiares
    Outros, além de preferir a internação, defendem que ela seja compulsória (que aconteça mesmo contra a vontade do paciente).
    "O primeiro grande engano [do Recomeço] é que já se determina de antemão uma estratégia terapêutica fundamentada na internação", diz Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretor do Proad (Programa de Orientação e Assistência a Dependentes).
    De acordo com o professor, que trabalha com dependentes há 24 anos, não existe fundamentação científica para privilegiar o tratamento via internação em detrimento de um tratamento ambulatorial.
    "A eficácia tende a ser maior quando o dependente é atendido ambulatorialmente por uma equipe multidisciplinar", afirma.
    No Recomeço, o acolhimento é voluntário. Se a triagem na prefeitura constatar necessidade de acolhimento, o residente deve escrever uma carta concordando com os termos.
    "E ele pode sair a qualquer momento", explica Cesar Rosolen Jorge, da instituição Padre Haroldo.
    No dia em que a reportagem visitou o espaço, uma senhora de 80 anos pedia a internação compulsória do filho de 40, viciado em crack. "Se eu chegar em casa agora, ele vai me matar", disse.
      ANÁLISE
      Com drogas nas ruas, sociedade pede respostas do poder público
      APARECIDA ROSÂNGELA SILVEIRAESPECIAL PARA A FOLHAHá na atualidade uma intensa mobilização da sociedade em relação ao tratamento de usuários de drogas.
      Esse debate tem sido provocado pelo mal-estar que o consumo abusivo de drogas promove na vida nas cidades, onde as pessoas passam a conviver rotineiramente com vidas degradadas, especialmente na "era do crack". Tal situação tem levado à exigência de respostas do Estado.
      A questão gira em torno da recuperação, da reabilitação ou do tratamento do dependente químico, pautada pelo ideal de superação do uso de drogas na sociedade e pela busca de uma vida saudável sem o uso de entorpecentes.
      É sabido que o uso de drogas ultrapassa culturas e acompanha o ser humano ao longo da sua história.
      Mas não podemos recuar diante da necessidade de tratamento para alguns casos.
      Experiências internacionais apontam duas tendências: um modelo de tratamento que busca remodelar o comportamento dos usuários pela via da abstinência, do isolamento e da tutela e outra abordagem que busca saídas possíveis construídas por cada sujeito em liberdade.
      Há um tensionamento entre as demandas da sociedade, os direitos de cidadania e os sujeitos.
      Políticas públicas precisam ser construídas para dar respostas à sociedade. No entanto, nenhum tratamento é possível sem levar em consideração cada sujeito em sua singularidade, sua história e seus laços sociais.

        Minha História - V., 27

        folha de são paulo
        MINHA HISTÓRIA - V., 27
        Caminho de volta
        Pretendo ficar o tempo que for preciso, os seis meses de tratamento; e espero que não precise ser internada de novo
        RESUMO V., 27, mãe de uma menina de sete, é dependente de cocaína e de álcool há quatro anos. Já tentou largar a droga sozinha, conta, sem sucesso. Drogada, chegava a passar três dias andando pelas ruas. Isso a levou a uma depressão profunda e a tentativas de suicídio. Hoje, ela é residente da instituição Padre Haroldo, em Campinas, interior de São Paulo, no programa do governo do Estado
        (...)Depoimento a
        SABINE RIGHETTIENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS (SP)Começou há uns quatro anos, quando me separei do meu marido. Eu não conseguia fazer nada sem beber. Depois, passei a usar cocaína. Aí perdi o controle.
        Quando eu tinha um trabalho novo, eu passava na padaria de manhã e já colocava duas cervejas no bolso. Eu precisava da bebida para ter estímulo para as coisas. E também usava droga.
        Se eu estava feliz, usava droga. Se estava triste, usava droga. Então eu nem sabia mais do que gostava porque eu estava sempre drogada.
        Tinha vezes que eu saía de casa e ficava andando uns três dias nas ruas. Isso acontecia com frequência. Eu ficava várias noites na favela.
        Quando eu voltava para a casa onde moro com meus pais e minha filha de sete anos, eu ficava com peso na consciência. Depois eu fazia tudo de novo. Acho que tudo o que eu queria era chamar atenção, sabe?
        Já me atirei na frente de ônibus, tentei me matar várias vezes. Tenho muitas marcas no pulso, olha.
        Tive depressão profunda, passei a tomar remédios para conseguir acordar e remédios para conseguir dormir.
        Minha mãe trabalhava em um salão de cabeleireiro, mas parou para cuidar de mim e da minha filha. Meu pai nos sustenta. Jamais poderíamos pagar uma clínica particular.
        Já tentei me tratar sozinha participando do NA [Narcóticos Anônimos]. Mas tenho muita dificuldade de ficar sem a droga e sempre acabo desistindo e voltando.
        Há dois meses fiquei muito assustada porque meu tio, que era alcoólatra, acabou se matando. Foi muito sofrimento para a minha mãe.
        Decidi participar da triagem [da Prefeitura de Campinas] já pensando que eu poderia vir parar aqui [na Fundação Padre Haroldo].
        Estou aqui há 18 dias. Pretendo ficar o tempo que for preciso, os seis meses de tratamento se for necessário. E espero que eu não precise ser internada de novo.
        Eu nunca gostei de esportes, nunca gostei de nada. Mas descobri aqui que gosto de ioga. Estou me descobrindo. Isso é bom porque, se eu encontrar coisas que gosto de fazer, eu paro de usar droga.
        É difícil, sinto falta da família, da minha filha. E tem a questão de conviver com as meninas [que estão no mesmo quarto]. Tem dias que estamos todos injuriadas.
        Mas temos atividades o tempo todo, então nem penso muito nesses detalhes.
        Eu não estou sentindo falta de droga aqui. Isso até me dá medo porque geralmente as pessoas sentem falta, ficam irritadas. Mas eu estou bem tranquila. Talvez eu não precise tanto da cocaína quanto eu pensava.

          quarta-feira, 24 de julho de 2013

          Ministro da Ciência diz que faltam verbas para grandes projetos - Sabine Righetti

          folha de são paulo
          Participação do Brasil nos maiores centros de física e astronomia mundiais corre risco por causa de orçamento
          Verbas extras para concretizar parcerias internacionais podem não sair; projetos não são unanimidade
          SABINE RIGHETTIENVIADA ESPECIAL AO RECIFE
          A novela sobre a participação brasileira nos maiores centros de pesquisa em astronomia e física do mundo --o ESO (Observatório Europeu do Sul) e o Cern (Centro Europeu para Pesquisa Nuclear)-- ainda está longe de um final feliz.
          Segundo o ministro Marco Antonio Raupp (Ciência), o governo quer tocar as iniciativas, mas faltam recursos.
          "Não posso tirar dinheiro dos outros projetos para colocar no ESO e no Cern", disse àFolha durante a reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Recife.
          A entrada do Brasil no ESO está em tramitação no Congresso há mais de um ano.
          "Quando se aprova um acordo de cooperação internacional, é preciso dar uma sustentação orçamentária. Senão é colocar uma batata quente no nosso colo", diz.
          Para usar as instalações do ESO --incluindo o maior e mais avançado telescópio terrestre do mundo, em construção em solo chileno,-- o Brasil teria de desembolsar, segundo o ministro, cerca de R$ 1 bilhão ao longo de dez anos.
          Hoje, o orçamento anual da pasta é de R$ 3,8 bilhões, sendo que R$ 1,4 bilhão é para bolsas de pesquisa.
          Se o projeto de entrada do Brasil no ESO for aprovado no Congresso, um recurso extraorçamentário deve ser repassado ao ministério.
          Conforme a Folha apurou, no entanto, a tendência do governo é enxugar o que for extraorçamentário.
          Anteontem, a presidente Dilma Rousseff anunciou um corte de R$ 10 bilhões e há a previsão de outros.
          "As atividades no ESO contribuem para o desenvolvimento científico em todas as áreas", diz Adriana Válio, presidente da SAB (Sociedade Astronômica Brasileira).
          Ela pretende ir ao Congresso com um grupo de cientistas para falar com deputados sobre a importância do projeto para a ciência nacional.
          O acordo, no entanto, não é unanimidade entre a comunidade científica brasileira.
          "O Brasil vai subsidiar a ciência europeia com o dinheiro do contribuinte. O ministério que assina esse tipo de acordo é irresponsável", diz João Steiner, professor do IAG (departamento de astronomia) da USP.
          IMBRÓGLIO
          O atraso na liberação das verbas para o ESO, três anos após a assinatura do contrato de adesão, tem prejudicado também a participação do país no maior acelerador de partículas do mundo.
          O conselho superior do Cern, na Suíça, ainda não ratificou o pedido de associação do Brasil. O laboratório só costuma aprovar países nos quais o poder executivo tenha dado sinal claro de que há interesse (e dinheiro).
          Desde o início das negociações, a ideia é que fosse aprovada verba extra, sem onerar o orçamento do MCTI. Sergio Novaes, da Unesp, um dos físicos articuladores da parceria Brasil-Cern, lamenta que haja risco de retrocesso.
          "Hoje que se fala tanto em internacionalização e no Ciência Sem Fronteiras, o Brasil se tornar membro do Cern seria algo na direção que a presidente quer dar para a ciência e a tecnologia", diz.
          A associação permitiria ao país participar de licitações para construir peças de aceleradores de partículas, ampliar o intercâmbio de cientistas que já vem sendo feito e concorrer a alguns cargos de gestão no laboratório.
          Acelerador de partículas aguarda recursos
          DA ENVIADA AO RECIFEDE SÃO PAULONo Brasil, outro projeto aguarda a liberação do dinheiro: o novo anel de luz síncrotron, localizado em Campinas, interior de SP.
          O terreno onde será construído o chamado projeto Sirius, orçado em R$ 650 milhões, já está em terraplanagem. A expectativa é começar a obra em setembro. Mas o dinheiro ainda não é certo.
          "O dinheiro está planejado no orçamento plurianual. Mas é um planejamento. Se houver cortes federais, se as condições do país mudarem, a gente tem de mudar o orçamento", diz Raupp.
          Se não houver cortes, a obra ficará pronta em 2016. O anel permitirá que os cientistas, por exemplo, enxerguem o conteúdo de um ovo fossilizado de dinossauro.
          Segundo Antonio José Roque da Silva, diretor do LNLS (Laboratório Nacional de Luz Síncrotron), até o momento o projeto recebeu R$ 55 milhões do ministério. "Neste ano, o Sirius deve receber quase R$ 87 milhões."
          De acordo com o diretor, cerca de 25 empresas já demonstraram interesse na fabricação dos componentes do anel em parceria.
          O aperto no orçamento não se aplica aos recursos destinados a pesquisas feitas nas empresas. O dinheiro operado para pesquisa privada no ministério já chega a R$ 5,5 bilhões em créditos para inovação (via Finep, órgão federal que financia projetos de inovação).
            País terá instituto de estudos do mar com navio de R$ 80 milhões
            Embarcação adquirida da China deve chegar ao Brasil em 2014
            DA ENVIADA AO RECIFEO governo oficializou a criação do Inpo (Instituto Nacional de Pesquisas Oceanográficas) para coletar informações sobre o mar e a costa brasileira.
            O anúncio foi feito na reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), no Recife. A iniciativa foi adiantada pela Folha no ano passado.
            A proposta é viabilizar, por meio do instituto, pesquisas sobre o mar que já são feitas em universidades, institutos e empresas do país, além de estimular novos estudos.
            "A ideia é organizar e financiar projetos na área do mar", disse o ministro Marco Antonio Raupp (Ciência). O projeto é uma parceria do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação com a Marinha, a Petrobras e a Vale.
            Uma das novidades é a aquisição de um navio chinês que será adaptado para as pesquisas --uma espécie de navio-laboratório.
            De acordo com Raupp, o navio está sendo comprado pela Marinha por R$ 80 milhões e deve chegar ao Brasil em outubro de 2014. A ideia é que o instituto tenha também um espaço físico.

              segunda-feira, 22 de julho de 2013

              Minha História David Santos Sousa - Sabine Righetti

              folha de são paulo

              Ciclista que teve braço arrancado busca vida normal com prótese

              DEPOIMENTO A SABINE RIGHETTI
              DE SÃO PAULO

              David Santos Sousa, 21, estava pedalando na madrugada do domingo, 10 de março, quando foi atropelado por um carro na avenida Paulista.
              Ele iria limpar os vidros externos de um prédio comercial. O motorista que o atropelou, Alex Siwek, também 21, estudante de psicologia, voltava embriagado de uma balada. Fugiu sem prestar ajuda e ainda jogou o braço decepado do ciclista, que ficara preso no carro, em um córrego da zona sul de São Paulo.
              Eles nunca se falaram.
              Enquanto um aguarda julgamento em liberdade, o outro tenta voltar à rotina que tinha, usando um braço biônico doado.
              Rivaldo Gomes/Folhapress
              David Santos Souza, 21, exibe a prótese que começou a usar após ter o braço decepado ao ser atropelado de bicicleta na avenida Paulista, em março
              David Santos Souza, 21, exibe a prótese que começou a usar após ter o braço decepado ao ser atropelado de bicicleta
              *
              Eu não aguento mais dar entrevistas. Também não gosto de ser reconhecido na rua. Sempre acontece, tem gente que pede para tirar foto comigo. Aonde eu vou me param para conversar.
              Mas eu não sou celebridade, sabe? Só quero ter uma vida normal.
              Desde o acidente que sofri, em março, estou tentando voltar à rotina que tinha.
              Na hora em que caí no chão na avenida Paulista, naquela madrugada, eu percebi o que tinha acontecido. Eu tinha perdido o braço.
              Fiquei quase um mês no hospital. Tive muita dor.
              No começo, eu sentia o braço que perdi. Mas desde que voltei para casa estou melhorando. Voltei a trabalhar assim que tive alta do hospital.
              Sou instrutor de rapel [atividade com uso de cordas e de equipamentos para a descida de paredões, de prédios e cachoeiras, por exemplo].
              Continuo trabalhando com isso. Mas parei de limpar vidros externos com o rapel, como eu fazia. Agora eu só dou instruções de rapel. Limpar vidro com um braço só ou com a prótese não dá.
              Naquela madrugada do acidente eu estava indo limpar o vidro externo de um prédio na avenida Paulista. Eu ia trabalhar das 6 horas até umas 16 horas, mais ou menos. Era um domingo.
              Eu tinha saído cedo de casa e ido de bicicleta até o local de trabalho, como sempre fiz. Estava pedalando na ciclofaixa. Fui pego de frente.
              Depois descobri que até dei sorte. Se eu tivesse sido pego de costas, eu poderia estar paraplégico ou tetraplégico.
              Também tive sorte porque meu ombro foi preservado e a cirurgia foi bem feita. Isso facilita o uso da prótese.
              NOVO RITMO
              Eu continuo andando de bicicleta, mas perdi velocidade. Essa foi a grande mudança desde que perdi o braço: eu perdi velocidade em tudo o que faço. E em muitas coisas eu preciso de ajuda.
              A minha mãe sempre esteve ao meu lado. Ela parou de trabalhar quando sofri o acidente. Enquanto eu ainda estava no hospital, ela teve de ajudar meu irmão, que sofreu um acidente de moto. Ele quebrou o fêmur e a bacia. Tem um filho recém-nascido.
              Agora, ela divide o tempo dela entre o meu irmão e eu. Ela vive pedindo para eu parar de andar de bicicleta, mas eu não vou parar. A bicicleta sempre foi o meu meio de transporte. Pego rua, viela, parque, avenida, tudo. Tem dias que pedalo uns 50 km.
              OUTRO ACIDENTE
              Há algumas semanas levei um novo susto andando de bicicleta. Um motorista distraído bateu na bicicleta, mas brecou antes de passar por cima de mim. Levantei na hora, a bicicleta se machucou.
              Dessa vez, o motorista parou para ajudar. O outro motorista, do acidente de março, nunca procurou a mim nem a minha família. Nunca quis saber como eu estou.
              Não sinto vontade de falar com ele, não tenho nada para dizer. Estou aguardando o julgamento. O problema é que tudo é lento neste país.
              As pessoas precisam entender que não sou eu quem devo parar de andar de bicicleta. Os motoristas de carro é que precisam dirigir com atenção. Tem gente que dirige ao celular. É óbvio que isso não vai dar certo.
              AULA DE DANÇA
              Depois do acidente em que perdi o braço comecei a pensar mais em mim, nos meus objetivos. Entrei na aula de dança. Faço sertanejo universitário. A gente tem de tirar as meninas para dançar. Não são todas que topam, não! Mas é bom para manter a forma e não engordar.
              Também continuo fazendo Muay Thai [luta tailandesa]. Sempre gostei de esportes.
              Hoje também tenho pensado em estudar. Quero muito fazer engenharia civil.
              Continuo desenhando, agora com o braço esquerdo. Está sendo difícil porque sou destro, mas estou me acostumando. Gostava de fazer desenhos de caveiras como essas tatuadas na prótese. Eu que pedi esses desenhos no braço. Achei irado, as caveiras brilham no escuro! (risos)
              Minha meta é conseguir desenhar com o braço biônico. Dizem que dá. Estou aprendendo devagar a mexer. Já consigo cumprimentar, olha [ele estende a mão biônica para a repórter].
              Também consigo levantar um copo. O resto vem com o tempo.
              Estou dividindo os meus dias entre o trabalho, a academia, as entrevistas e as viagens a Sorocaba [onde fica a empresa doadora da prótese] para os testes com o braço.
              A rotina está corrida. Mas eu gosto assim. Eu sou bem agitado. Se a gente parar, o coração para de bater, né?
              É claro que tudo está sendo mais difícil agora. Mas a vida continua. Não vou desistir porque perdi o braço. Daqui para frente é vida nova.
              Prótese doada por empresários custa R$ 300 mil
              DE SÃO PAULOA prótese que está sendo usada por David Santos Sousa desde a semana passada tem tecnologia alemã e preço de carro de elite: cerca de R$ 300 mil.
              O modelo capta a contração e o relaxamento do que restou do braço amputado de David e repassa, via sensores, à prótese.
              Para fazer alguns movimentos específicos é preciso apertar uns botões. Já o dedão passa da lateral da mão para baixo dela com a ajuda da outra mão.
              "Tudo segue uma sequência. É preciso decorá-la", explica o fisioterapeuta Anderson Tuzino Nolé, da Conforpés. A empresa, localizada em Sorocaba (100 km de São Paulo), é a doadora da prótese.
              David já consegue abrir e fechar a mão, segurar um copo, dobrar o cotovelo e cumprimentar. O domínio dos movimentos virá em 15 dias, acredita Nolé.
              O braço é feito com fibra de carbono e tem o mesmo peso e as medidas do braço decepado do ciclista.
              "É o que existe de mais moderno em braço biônico na América do Sul", diz.
              Agora, o ciclista aguarda a confecção da cobertura da mão biônica que está sendo feita na Alemanha. Terá seu tom de pele e seus próprios pelos. (

              domingo, 21 de julho de 2013

              USP reconhece que terá de alterar bônus no seu vestibular - Sabine Righetti e Fabio Takahashi

              folha de são paulo
              Universidade persegue meta posta pelo governo de ter 50% dos calouros provenientes de escolas públicas
              Mudança em bonificação racial e para alunos de escolas públicas foi aprovada pelo Conselho Universitário neste mês
              SABINE RIGHETTIFÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULOSem apresentar estudos que mostrem a base para a mudança em sua política de bônus no vestibular a alunos de escolas públicas, a USP reconhece que outras alterações serão necessárias.
              Situação parecida vive a Unicamp, que também alterou recentemente sua política de benefício a estudantes das escolas públicas.
              As instituições perseguem a meta posta pelo governo estadual de ter 50% dos calouros provenientes da rede pública, em cada curso. Na USP, a média hoje é de 28%, mas chega a 17% em medicina.
              A universidade aprovou no início deste mês bônus de 5% para vestibulandos pretos, pardos e indígenas. Para os demais alunos de escolas públicas, o benefício subiu de 15% para 20%.
              SEM EXPLICAÇÃO
              Proposta pela pró-reitoria de graduação, a mudança foi aprovada pelo Conselho Universitário. Membros do órgão reclamaram que não foram apresentados estudos que mostrassem seu impacto.
              Assim, não foi explicado, por exemplo, qual será a mudança no perfil dos ingressantes nem se a medida será suficiente para chegar à meta. "A pauta do dia tinha 200 páginas. Para a parte da inclusão era apenas uma", disse Leandro Salvatico, representante dos pós-graduandos.
              Folha pediu nas três últimas semanas os estudos que deram embasamento à alteração. Sem sucesso.
              A universidade informou apenas que há "várias" simulações, mas não as mostrou. Afirmou ainda que a ideia é "ajustar" os bônus nos próximos anos e incentivar que mais alunos de escolas públicas prestem o vestibular.
              O próprio reitor, João Grandino Rodas, disse logo após a votação que uma possibilidade era aumentar os bônus nos cursos mais elitizados, como medicina e engenharia.
              PRESSÃO
              A alteração aprovada pela USP foi feita após o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pressionar as universidades a se tornarem menos elitistas.
              Nas federais, já neste ano, começou a implementação das cotas, tanto para escolas públicas quanto para negros.
              Alckmin e os reitores chegaram a apresentar um modelo de metas no final do ano passado, que previa que, até 2016, metade dos calouros sairiam das escolas públicas, sendo 35% deles pretos, pardos ou indígenas.
              Pressionadas, mas com autonomia, as universidades buscaram alternativas à proposta. A USP determinou que as metas podem ser atingidas até 2018; a Unicamp, até 2017. Não haverá punição caso os objetivos não sejam atingidos.
              Além disso, as duas instituições recusaram uma das ações propostas pelo governo: a criação do "college" --um curso intermediário semipresencial, de dois anos, em que os alunos que terminassem o ensino médio poderiam estudar nas universidades.
              "Foi mais uma maneira da USP de burlar a sociedade", afirma Frei David, presidente da ONG Educafro.
              "A USP está acirrando os ânimos da comunidade negra. Não aceitaremos sermos enganados mais uma vez."
              No vestibular deste ano, não houve nenhum negro aprovado no curso de medicina, por exemplo.
              OUTRAS INSTITUIÇÕES
              A direção da Unicamp também não apresentou ao Conselho Universitário ou à reportagem os estudos que embasaram o aumento em seus bônus no vestibular.
              Das três universidades estaduais paulistas, apenas a Unesp decidiu manter 2016 como prazo para se atingir as metas de inclusão.
              Foi a primeira das três instituições a tomar uma decisão, em abril passado.
              Mas a instituição não fez alterações na sua seleção e não deixa claro como aumentará a participação de quem estudou em escolas públicas entre os matriculados.
              Principal era aprovar metas, diz governo
              Apesar de sua proposta ter sido alterada, gestão Alckmin afirma estar satisfeita com decisões das universidades
              Uma das dificuldades para chegar aos objetivos é a baixa procura das escolas públicas ao vestibular
              DE SÃO PAULOApesar de USP e Unicamp terem aumentado o prazo para se chegar às metas de inclusão propostas pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), a gestão estadual paulista diz estar satisfeita com as decisões.
              "A aprovação das metas pelas universidades é a espinha dorsal da proposta", diz Carlos Vogt, assessor especial do governo para assuntos de ensino superior.
              De acordo com ele, cada universidade fará o que for preciso para atingir as metas.
              "As universidades estão avaliando suas próprias estratégias", afirma.
              Em privado, professores que participaram da elaboração da proposta inicial do governo --que teve o apoio dos reitores-- afirmam que chegaram a temer que as metas nem fossem aprovadas pelos Conselhos Universitários.
              Um dos problemas, dizem, foi a proposta da criação do "college", que enfrentou forte resistência nas faculdades.
              A ideia era que o aluno de escola pública se preparasse melhor no curso intermediário, de dois anos, antes de ingressar nas universidades.
              Mas houve críticas em relação ao modelo semipresencial e à demora que haveria até o aluno entrar na USP, na Unesp ou na Unicamp.
              Assim, o governo passou a defender que o importante eram as metas. As ações ficariam a cargo de cada escola.
              ATRATIVIDADE
              Um dos problemas para que as metas de aprovados egressos do ensino médio público sejam atingidas é a baixa procura desse público pelos vestibulares.
              Apesar de a rede pública representar 85% do total de matrículas no Estado, a participação desses alunos entre os inscritos na Fuvest é de apenas 35%. Na Unicamp, a taxa chega a 28%.
              Professores da USP envolvidos nas discussões apontam que corre-se o risco de se aprovar estudantes com muito deficit de conteúdos se a universidade "forçar" que 50% dos calouros sejam de escolas públicas.
              Além disso, é preciso garantir que os alunos permaneçam nas instituições.
              "Sabemos que os alunos que vieram de escolas públicas terão dificuldades, inclusive financeiras, para se manter", afirma Vera Lucia Felicetti, doutora em educação e especialista em inclusão social na educação superior.
              "As universidades também precisam se preparar para isso", complementa.
              DESIGUALDADE INTERNA
              A participação de egressos de escolas públicas varia de curso para curso.
              Na Unesp, por exemplo, 40% dos matriculados vieram do ensino oficial. Mas, em medicina, a taxa cai para 2%.
              A universidade afirmou, via assessoria de imprensa, que aposta em cursinhos pré-vestibulares gratuitos para que as metas sejam atingidas.
              Assim, quem não teve um bom ensino médio --que, em geral, é particular-- poderia compensar o deficit no cursinho da própria Unesp.
              A partir deste ano, a USP também seguirá estratégia dos cursinhos. Serão oferecidas mil vagas, destinadas a alunos que tiveram bom desempenho no vestibular. Eles também ganharão auxílio financeiro.
              ANÁLISE
              Universidades exerceram sua autonomia e mudaram plano
              LEANDRO TESSLERESPECIAL PARA A FOLHAO Pimesp (programa para inclusão social nas universidades paulistas, apresentado em dezembro) propõe atingir o mesmo objetivo da lei de cotas das instituições federais de ensino superior por meio de uma formação inicial em um colégio semipresencial e posterior transferência.
              Na proposta, essas metas deveriam ser atingidas até 2016. Como as universidades estaduais paulistas gozam de autonomia, o projeto precisava ser aprovado nos Conselhos Universitários.
              USP, Unicamp e Unesp recusaram a transferência automática dos alunos do curso semipresencial e também o prazo proposto para se chegar às metas (só a Unesp manteve o prazo).
              A Unicamp decidiu dobrar o bônus que já concedia no vestibular aos oriundos de escola pública. A USP também aumentou o seu bônus.
              As medidas permitem prever que a meta do Pimesp será atingida em qualquer prazo? Não. Ou pelo menos não foram fornecidos aos conselheiros dados que demonstrem isso claramente. As decisões foram tomadas em um prazo bastante curto.
              É possível chegar a 50% das vagas para oriundos da escola pública admitindo os melhores talentos?
              Sim, mas somente se o percentual de candidatos de escola pública for de 50%. Não, se ele se mantiver em 30%.
              É difícil entender por que a lei de cotas e o Pimesp propõem só 50% enquanto 88% dos concluintes do ensino médio saem da rede pública.
              Não há cota capaz de compensar uma formação deficiente. O ideal seria romper a separação que se configura com as crianças das classes A e B estudando em escolas particulares quase totalmente brancas e as demais em escolas públicas, que em média formam mal os estudantes.
              Inclusão social requer uma mudança na sociedade. O convívio entre brancos e pretos, pobres e ricos deve ocorrer desde o início da formação, não só durante o ensino superior.

                'Vaquinha virtual' de ONG ajuda jovens a estudar fora - Sabine Righetti

                folha de são paulo
                Estudantes tentam usar doações feitas pela internet para pagar graduações
                Beneficiados têm a obrigação de voltar ao Brasil para retribuir o investimento que receberam de doadores
                SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO
                " Sou a classe média baixa do Lula. Nunca teria dinheiro para pagar inglêsGabriela Tomestudante
                Ela cresceu na periferia de São Paulo, estudou em escola pública e nunca teve dinheiro para um curso de inglês. Mas nada disso impede que Gabriela Tom, 19, esteja de malas prontas para fazer universidade nos EUA.
                Gabriela faz parte de um grupo de 14 jovens que estão participando de um crowdfunding pela internet para arrecadar dinheiro para fazer faculdade fora do país (no www.estudarfora.org.br).
                É uma espécie de "vaquinha on-line". Eles contam sua história em um vídeo de um minuto e pedem uma contribuição de qualquer valor.
                Até agora o grupo todo já conseguiu R$ 200 mil. As doações variam de R$ 10 até milhares de reais, de pessoas físicas e de empresas.
                Tudo isso é encabeçado pela Fundação Estudar, uma ONG que apoia jovens com projetos educacionais.
                A condição para receber o dinheiro é que os jovens se comprometam a voltar para o Brasil para retribuir o investimento que receberam.
                "Pensei em fazer faculdade no Brasil, mas não entrei na USP. Então vou para os Estados Unidos", diz Gabriela.
                A garota fez o processo de ingresso nas universidades dos EUA também com a ajuda da Fundação Estudar.
                Nessa etapa, teve de provar proficiência em inglês --coisa que ela conseguiu graças a uma bolsa de estudos de quatro anos que teve da Associação Alumni para alunos da rede pública.
                MUITAS CIFRAS
                O sonho de estudar fora pesa no bolso. Além de ter de falar inglês fluentemente, um curso completo em uma boa universidade dos EUA custa uma média de R$ 300 mil.
                Gabriela conseguiu U$S 15 mil pelo crowdfunding (cerca de R$ 33,5 mil reais). Isso é o suficiente para cobrir os gastos pessoais que ela terá enquanto estudar relações internacionais na Universidade de Evansville, em Indiana.
                Já o curso será coberto por uma bolsa da própria universidade (80% do valor) e pelo Grupo ABC, do empresário Nizan Guanaes (20%).
                O mesmo caminho está sendo seguido por Victória Jalowitzki de Quadros, 18, de Soledade (RS). Ela foi aprovada na Universidade Harvard --considerada a melhor do mundo. Para embarcar, precisará de R$ 40 mil. Por enquanto, conseguiu uma "parte pequena desse valor".
                Mas não são só os EUA que estão na mira dos estudantes.
                O carioca Victor Hugo Corrêa Rodrigues, 18, pleiteia R$ 24 mil no crowdfunding para estudar na Universidade de Helsinki, na Finlândia --uma das melhores instituições da Europa.
                "Quero ser mais um para mostrar para o mundo que nós somos muito mais do que samba e futebol."

                sábado, 13 de julho de 2013

                Escolas de medicina já estão inseridas no SUS, dizem alunos

                folha de são paulo
                FOCO
                SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULOMesmo sem terem sido afetados pela mudança dos cursos de medicina, os atuais alunos debatem o assunto em redes sociais e faculdades.
                Os cursos terão dois anos de trabalho compulsório no SUS a partir de 2015, depois dos atuais seis anos de curso.
                "Sou totalmente contra essa mudança", argumenta Daniele Battaglini, aluna do 4º ano da Furb (Universidade Regional de Blumenau), no interior de SC, e presidente do centro acadêmico.
                "Já temos um terço do curso no regime de internato, com aulas práticas, em que atendemos pacientes do SUS com supervisão de professores. É o treinamento final para ser médico", afirma.
                Hoje, os estudantes têm quatro anos de disciplina e mais dois anos de "internato" nos hospitais-escola, antes de receberem o diploma.
                Depois, ainda seguem para a residência --as especializações, que podem durar até quatro anos, feitas em hospitais públicos ou privados.
                Para Daniele, a obrigação de os alunos trabalharem para o governo por dois anos "fere o princípio de liberdade da Constituição".
                FAMÍLIA ABASTADA
                O argumento do governo é que os dois anos humanizariam a saúde pública, já que colocariam todos os estudantes em contato com o SUS.
                Conforme levantamento feito pela Folha, os dois anos de internato nos hospitais-escola são, para a maioria dos estudantes de medicina, o único contato com o SUS.
                A maioria deles vem de famílias abastadas. Nas universidades estaduais paulistas, por exemplo, a participação em medicina de quem veio de escola pública é bem inferior à média geral das instituições.
                Na Unesp, apenas 2% cursaram colégio público, contra 40% no geral (veja quadro).
                Na USP, 20% deles têm renda familiar superior a R$ 20 mil. Não há negros na turma ingressante em 2013.
                "Os estudantes de medicina já estão inseridos no SUS", avalia Juliana Campanha, 29, do 5º ano na Unesp em Botucatu, interior de SP. "Eu atendo pelo SUS no hospital-escola da Unesp desde o 3º ano."
                Roger Santana de Araújo, 19, do 2º ano de medicina da USP, considera que os alunos já contribuem para a sociedade via hospitais-escola.
                "Só a medicina atende a sociedade de graça. Isso não acontece no curso de direito, por exemplo. Mas na medicina já atendemos pelo SUS nos hospitais-escola", diz.
                Para ele, o problema do SUS é "mais fundo", como falta de recursos e falta de investimentos. "Se o SUS tivesse boas condições, os médicos iriam para o sistema público por vontade própria, como acontece no Reino Unido", diz.
                Além disso, lembra Roger, o sistema não é composto só por médicos. "O SUS também precisa de enfermeiros, fisioterapeutas e afins."

                  terça-feira, 9 de julho de 2013

                  Estudantes de medicina terão que trabalhar por dois anos no SUS

                  folha de são paulo
                  Governo ampliará tempo de curso de 6 para 8 anos e exigirá atuação na rede pública de saúde
                  Medida vale para quem entrar a partir de 2015 em faculdades públicas e privadas; aluno terá bolsa de até R$ 8.000
                  JOHANNA NUBLATFLÁVIA FOREQUEDE BRASÍLIAQuem entrar na faculdade de medicina a partir de 2015 terá que trabalhar dois anos na atenção básica da rede pública após cursar os atuais seis anos da graduação. Apenas após esses oito anos, o profissional terá o registro permanente de médico e poderá dar plantões e abrir consultório.
                  As novas regras foram anunciadas ontem pela presidente Dilma Rousseff no lançamento do "Mais Médicos", um pacote de medidas para a saúde que também inclui a "importação" de profissionais estrangeiros.
                  A mudança na formação ocorreu via medida provisória --que pode ser alterada pelo Congresso Nacional.
                  A intenção do governo é estabelecer dois ciclos no curso. O primeiro segue o modelo atual de seis anos, que pode ser reduzido para cinco a depender de avaliação do Conselho Nacional de Educação.
                  A novidade é o segundo ciclo, em que o profissional atuará com um registro provisório do Conselho Regional de Medicina em postos de saúde, prontos-socorros e Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) da rede pública.
                  Será uma espécie de "residência na atenção básica", vinculada à instituição de origem e sob supervisão.
                  Nesse período, o médico em formação receberá uma bolsa federal --em valor ainda não definido, mas de R$ 3.000 a R$ 8.000-- e só poderá trabalhar no local designado pela instituição de ensino de origem.
                  A mudança no currículo vale para instituições de ensino públicas e privadas --neste caso, o aluno não pagará mensalidade após o 6º ano.
                  O conselho terá seis meses para regulamentar as alterações. Caberá ao órgão decidir, por exemplo, as diretrizes, avaliações periódicas e carga horária do segundo ciclo. Ele também pode definir a utilização dos dois anos para abater um período de especialização futura do estudante.
                  O ministro Aloizio Mercadante (Educação) disse que houve boa recepção de diretores de faculdades e que tem expectativa positiva sobre a aprovação pelo conselho.
                  MAIS MÉDICOS NO SUS
                  O governo rejeita comparar o novo modelo com o serviço civil obrigatório. Argumenta que é uma etapa ampliada da formação, com avaliações, enquanto o serviço civil é apenas trabalho.
                  O Ministério da Saúde afirma que o objetivo é melhorar a formação do médico brasileiro na atenção básica.
                  A medida também vai garantir ao SUS cerca de 20 mil médicos a mais em 2021, ano inaugural do segundo ciclo-- e mais 20 mil no seguinte.
                  É a falta de profissionais na atenção básica, especialmente em áreas remotas, que embasa a decisão de atrair médicos estrangeiros ao país.
                  Há Estados, como o Pará, onde a proporção de médicos que atuam no SUS é de 0,5 por mil habitantes, enquanto no Distrito Federal é de 1,72 (ou 4,09, se somados aos da rede particular), segundo a Demografia Médica no Brasil.
                  O governo diz que caberá às universidades distribuir os alunos após o 6º ano. A expectativa é que uma parte vá para o interior, já que, até lá, novos cursos serão abertos em locais definidos pelo governo.
                    ANÁLISE
                    Não se faz saúde só com médicos, mas com condições adequadas
                    MILTON DE ARRUDA MARTINSESPECIAL PARA A FOLHAA presidente Dilma Rousseff lançou o programa "Mais médicos para o Brasil" com medidas que tentam dar uma resposta às manifestações populares das últimas semanas.
                    O programa, que propõe mudanças radicais na formação dos médicos e no seu exercício profissional, foi elaborado e anunciado sem uma consulta ampla à sociedade.
                    Pretende-se criar 11.400 vagas em cursos de medicina --o que pode ser desnecessário, por já ter havido uma enorme expansão.
                    O fundamental, agora, é garantir a qualidade dos cursos de medicina já existentes. Muitos têm sérios problemas, incluindo a falta de docentes qualificados e de hospitais.
                    A formação dos médicos passaria de seis para oito anos, com a instituição de dois anos obrigatórios em serviços da rede pública.
                    Não houve, por parte do governo, consulta, por exemplo, à Associação Brasileira de Educação Médica e ao Conselho Federal de Medicina, que tem a responsabilidade legal de controlar o exercício da medicina.
                    A preocupação é se, com isso, ele não corre o risco de se distanciar de entidades e de pessoas que poderiam colaborar para aperfeiçoar a formação dos médicos e melhorar sua distribuição.
                    Serão oferecidos postos de trabalho em áreas com falta de médicos. Se não houver o preenchimento dessas vagas por médicos formados no Brasil, serão aceitos médicos brasileiros que fizeram medicina em outros países e médicos estrangeiros.
                    É essencial, no entanto, que qualquer médico que estudou no exterior, brasileiro ou estrangeiro, seja submetido a exames, antes de ser autorizado seu exercício profissional.
                    Não há saúde sem médicos, mas também não há saúde só com médicos. A solução mais adequada é a criação de carreiras profissionais na saúde, como as carreiras de promotores e juízes.
                    A experiência de muitos países já demonstrou que, para haver médicos em regiões de difícil acesso ou provimento, há necessidade de salário adequado, mas também de condições de trabalho, segurança, recursos diagnósticos adequados, oportunidades de educação permanente e estabilidade profissional.
                      País busca exemplo do Reino Unido
                      BERNARDO MELLO FRANCODE LONDRESCitado pelo governo brasileiro como exemplo a ser seguido na formação de médicos, o Reino Unido obriga todo recém-formado a cumprir dois anos de treinamento no sistema público de saúde.
                      Depois de deixar a faculdade, que dura em média cinco anos, o futuro doutor recebe um registro provisório e precisa se inscrever no chamado "The Foundation Programme".
                      Nesta etapa, o residente fica à disposição do NHS (Serviço Nacional de Saúde, na sigla em inglês), que pode alocá-lo conforme sua demanda.
                      O piso salarial nesta fase é de 22,4 mil libras anuais (cerca de R$ 75,85 mil) no primeiro ano.
                      Depois de 12 meses, o médico pode receber o registro permanente da profissão. O piso salarial sobe para 27,8 mil libras anuais (cerca de R$ 94,1 mil).
                      Embora os políticos em Brasília repitam que o SUS é inspirado no NHS, o sistema britânico está anos-luz à frente do modelo brasileiro e é motivo de orgulho no país.
                      Todo cidadão do Reino Unido tem direito a se inscrever na unidade de saúde mais próxima para receber atendimento e fazer consultas gratuitas.
                      Além disso, a maioria dos remédios é fornecida de graça: o paciente só paga a receita, que custa 7,85 libras (R$ 26,57).
                        Surpreendidas, entidades médicas dizem que medidas são arbitrárias
                        Segundo conselhos e associação, alterações na formação configuram 'serviço civil obrigatório'
                        Medida é vista como 'eleitoreira' e de pouco efeito; organizações dizem que vão recorrer ao Congresso e à Justiça
                        DE SÃO PAULODE BRASÍLIAEntidades médicas afirmam que foram surpreendidas pelo anúncio do governo federal de que aumentará a carga horária do curso e obrigará alunos a atuarem no SUS.
                        O presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), Roberto Luiz d'Ávila, comparou a obrigatoriedade a um ato de país totalitário.
                        "Países sérios criam condições para que os recém-formados possam ir espontaneamente ao interior. Por que só os médicos? Não faltam engenheiros? Se derem as condições e uma carreira, o médico estará em todo o lugar", disse.
                        "Isso nunca foi discutido com ninguém. Nem com as entidades médicas, nem com as escolas de medicina", afirmou Renato Azevedo Júnior, presidente do Cremesp (Conselho Regional de Medicina).
                        Para ele, impor mudanças na formação médica por medida provisória é uma decisão autoritária. A proposta, diz, configura um serviço civil obrigatório "com outras palavras".
                        "Vão obrigar as pessoas, mesmo as de universidades privadas, a trabalhar em determinado lugar. E a liberdade individual, onde fica?"
                        Florentino Cardoso, presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), tem a mesma opinião. "Um país democrático não deve submeter o médico a trabalhar onde não quer. Não vamos ficar calados diante disso."
                        QUALIDADE
                        Na opinião de D'Ávila, as medidas não resolverão o problema da saúde, que precisa de qualidade, e não quantidade. "É um programa vazio, sem consistência, com medidas paliativas e eleitoreiras."
                        Ele afirma que o atendimento não vai melhorar com o aumento de médicos.
                        "A população não pediu mais médicos. O governo inventou isso. Depois de um gerenciamento incompetente, vem colocar a culpa dizendo que faltam médicos. É maldade colocar a responsabilidade nos médicos, dizer que não querem ir ao interior", disse.
                        "Queremos ir, mas falta estrutura. É impossível trabalhar se falta agulha, medicamento. É um sofrimento muito grande", afirmou.
                        Segundo Cardoso, da AMB, as necessidades da saúde são outras: um melhor financiamento, uma melhor gestão e o combate à corrupção.
                        Para o presidente do Cremesp, experiências internacionais mostram que é necessário investir em três eixos para fixar médicos no interior e nas periferias.
                        O primeiro seria a perspectiva de carreira no serviço ("saber, por exemplo, que depois de dois anos nos grotões do país poderá voltar para um grande centro"), seguido de condições de trabalho ("ter outros profissionais auxiliando") e, por último salário.
                        O presidente do Conselho Federal de Medicina disse que a entidade vai trabalhar em duas frentes para derrubar o projeto do governo.
                        A primeira é, ainda no Congresso, para alterar a medida provisória. Além disso, o conselho disse que analisará o texto para questioná-lo na Justiça.
                          Para especialistas, sucesso depende de supervisão
                          DE SÃO PAULOApesar de pegos de surpresa com o anúncio da mudança nos cursos de medicina, especialistas do meio acadêmico apoiam a medida, desde que o programa do governo federal cumpra o que está sendo estabelecido.
                          "O projeto poderá ser uma boa solução se houver boa supervisão", diz o cardiologista Sergio Timerman, diretor nacional das escolas médicas da Laureate Brasil.
                          "Realmente não estávamos sabendo", afirma a diretora de graduação da PUC-RS, Valderez Lima.
                          Ela, porém avalia a medida como positiva. "Os currículos são uma estrutura viva e devem atender as demandas sociais."
                          Para Gustavo Balduino, secretário-executivo da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), apesar de ter sido surpreendido, a ideia é positiva."Quem faz a demanda de médicos especialistas é o mercado. O médico se forma onde tem emprego, e não onde a doença está", diz.
                          Carlos Vogt, especialista em ensino superior e ex-reitor da Unicamp, também viu a mudança com bons olhos.
                          "Como medida social é muito bom. As universidades são autônomas, mas não são soberanas", diz.
                          SUPERVISÃO
                          Para Vanessa Truda, presidente do Comitê de Acadêmicos da Associação Paulista de Medicina, a medida precisa ser bem discutida, pois "não há médicos para supervisionar os alunos".
                          A USP afirmou, via assessoria de imprensa, que terá uma posição oficial após discutir o tema.
                          Universidades federais como a do Rio de Janeiro (UFRJ) e a de Minas Gerais (UFMG) também anunciaram que não comentariam o caso antes de ver a publicação da medida provisória.
                            Ex-ministro defende 'especialista de gente'
                            DE SÃO PAULOO cardiologista e ex-ministro da Saúde Adib Jatene, que preside uma comissão que auxiliou o governo na formulação do projeto para a mudança do ensino médico, defende a proposta apresentada ontem pela presidente Dilma, mas afirma que não conhece a versão final.
                            Para Jatene, o ensino médico está formando candidatos à residência médica, com muita ênfase às especializações e à alta tecnologia. "O médico precisa se transformar num especialista de gente."
                            CLÁUDIA COLLUCCI
                            -
                            Folha - O que o sr. achou das mudanças propostas para a mudança do ensino médico?
                            Adib Jatene - O ensino médico está formando candidatos à residência médica. Isso estimula a especialização precoce. Precisamos formar um médico capaz de atender a população sem usar a alta tecnologia. O médico precisa se transformar num especialista de gente.
                            E como ficará a supervisão?
                            É a própria faculdade de medicina que cuidará disso. A proposta [original] é que ele fique dois anos no Estado que se formou, supervisionado pela faculdade. A escola vai fazer parte do sistema de saúde, não simplesmente dar o diploma. Com telemedicina e teleconferência fica fácil.
                            O sr. foi consultado sobre isso?
                            Vínhamos trabalhando nessa proposta, mas não sabíamos que já seria anunciada. O ministro Mercadante me telefonou dizendo que a presidente Dilma iria anunciar, mas não deu maiores detalhes. Mas parece que está está dentro dos princípios.
                            A proposta era mesmo de aumentar para oito anos?
                            Sim. Quando me formei em medicina, em 1953, o curso já era de seis anos, e o conhecimento era muito pequeno. Hoje é colossal e o curso continua de seis anos.
                            E em relação à política para fixar médicos no interior?
                            Municípios pequenos deveriam integrar um consórcio para uso de alta tecnologia. Precisam, porém de um médico polivalente, que atenda de parto a uma emergência.
                              'Não pode ser à força', diz professor da USP
                              DE SÃO PAULOO urologista Miguel Srougi, professor titular da USP, diz que a mudança do ensino médico é "filosoficamente perfeita" porque é uma forma de o estudante de escola pública retribuir à sociedade o investimento na sua formação.
                              Ao mesmo tempo, ele vê problemas na proposta e defende o debate amplo com universidades, setor público, sociedades médicas. "[a mudança] Não pode ser entuchada na cara de todo mundo."
                              (CC)
                              -
                              Folha - Como o sr. avalia as mudanças anunciadas nos cursos de medicina?
                              Miguel Srougi - Filosoficamente, a ideia me agrada muito. Existe uma dívida dos indivíduos que estudam medicina nas escolas públicas, isso aconteceu comigo.
                              De alguma forma, retribuir à sociedade o privilégio que tivemos, é muito importante.
                              Mas, pelo que vi, é preciso ser mais bem desenhada. Envolve mudar a grade curricular de todas faculdades. Não sei até que ponto não fere a autonomia universitária.
                              Como assim?
                              Acho complicado criar uma lei obrigando as pessoas a fazerem determinadas coisas. Nem serviço militar é totalmente obrigatório, a pessoa pode alegar questões de foro íntimo, religiosas, e não fazer.
                              Não sei até que ponto não feriria a liberdade individual. Não se pode obrigar alguém a fazer o que não quer.
                              Esse aumento do curso para oito anos também pode ser complicado. O sujeito vai precisar de mais três ou quatro anos para a residência. Ou seja, vai passar 13 anos estudando. E se tem família para sustentar, como é que fica?
                              Mas ele já vai entrar na faculdade sabendo das regras...
                              Essa ideia é filosoficamente perfeita se bem explorada. Mas não pode ser entuchada na cara de todo mundo. Esses jovens médicos precisam de instrutores de qualidade.
                              Os professores vão para os grotões supervisioná-los?
                              É preciso ter um debate amplo com a sociedade, envolvendo as universidades, o setor público, as sociedades médicas. O governo não pode colocar isso à força de um dia para o outro.
                                Interior e periferia recebem estrangeiros a partir de setembro
                                Plano para atrair médicos a área carente deve ter brasileiros e 'importados', que receberão bolsa mensal e ajuda de custo
                                Governo federal pretende ainda criar vagas em universidades para formar 40 mil profissionais até 2025
                                DE BRASÍLIAO governo pretende distribuir aos municípios do interior e à periferia das grandes cidades, já em setembro, os primeiros médicos brasileiros e estrangeiros que aderirem ao novo programa de fixação desses profissionais.
                                Um edital será lançado hoje direcionado a médicos de todas as nacionalidades.
                                A prioridade será dos formados no Brasil. Em seguida, serão chamados os brasileiros formados no exterior. E, por último, os estrangeiros.
                                O programa foi lançado ontem pela presidente Dilma Rousseff, após meses de críticas das entidades médicas. Dilma afirmou que o objetivo é "acelerar soluções" e "buscar novos caminhos".
                                A presidente ponderou que "não se pode obrigar um médico que vive na capital a ir para o interior".
                                "Mas precisamos admitir honestamente que algo deve ser feito para que todos os brasileiros tenham direito a um médico", afirmou.
                                O governo vai pagar aos médicos bolsa mensal de R$ 10 mil e ajuda de custo, em parcela única, de R$ 10 mil a R$ 30 mil, a depender do destino.
                                A prioridade será dada a capitais, regiões metropolitanas com áreas de vulnerabilidade, distritos indígenas e as cidades com maior concentração de pobreza.
                                No entanto, todos os municípios poderão se inscrever, desde que o médico fique situado nos bairros pobres.
                                INTERESSE
                                O total de profissionais convocados dependerá do interesse dos municípios, afirmou o Ministério da Saúde. A expectativa, nas últimas semanas, era atrair 10 mil médicos, por meio de chamadas mensais.
                                No caso de estrangeiros, só poderão se candidatar profissionais que atuam em países com maior proporção de médicos que o Brasil (o que exclui a Bolívia e o Paraguai, entre outros) e aqueles que têm diplomas que o autorizam a trabalhar no país de formação.
                                Nesta etapa, as inscrições são individuais, e não por meio de acordos com governos ou instituições. Essa característica poderá dificultar a inscrição de cubanos.
                                Folha revelou ontem que foram congeladas as negociações com o governo de Cuba para a vinda de seus médicos.
                                NOVAS VAGAS
                                A criação de 11,5 mil vagas em cursos de medicina até 2017 colocará um adicional de 40 mil médicos no mercado nos próximos 12 anos, estima o governo federal.
                                Com as novas vagas, que integram o programa "Mais Médicos", o país deverá ter 585 mil médicos em 2025. Sem as vagas, seriam 545 mil.
                                A ideia, anunciada no início do ano, é direcionar essas vagas a locais com carência de profissionais, mas com estrutura da rede de saúde.
                                Pelo mapeamento do governo, as vagas estarão concentradas principalmente no Nordeste (4.200) e Sudeste (3.100).
                                Na Grande São Paulo, há possibilidade de abertura de vagas em Diadema, Guarulhos, Mogi das Cruzes, Osasco, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e São Paulo.
                                  LISTA
                                  São Paulo tem 47 cidades prioritárias
                                  Na lista do governo de áreas prioritárias para receber médicos, os Estados com mais locais são Bahia (264), Maranhão (147), Ceará (128), Piauí (127) e Pernambuco (114). São Paulo aparece em 12º lugar. A lista inclui municípios e distritos indígenas. A participação depende da adesão das prefeituras. Os municípios fora da relação de prioridades também podem se inscrever.

                                  domingo, 7 de julho de 2013

                                  Alunos estudam e fazem quimioterapia em 'escola móvel'

                                  folha de são paulo
                                  Projeto desenvolvido em São Paulo permite que crianças aprendam enquanto fazem tratamento contra câncer
                                  Cerca de 270 estudantes fazem tratamento no hospital; pela 1ª vez, quatro deles prestarão Enem no próprio Graacc
                                  SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO
                                  "Vou aproveitar a recuperação no hospital [após um transplante de medula] para dar um gás nos estudos"Quando o câncer voltou eu fiquei assustado. Mas estamos aí, sempre lutando"Assim que ficar curado quero viajar o mundo. Quero ver de perto a arquitetura de Dubai! Arthur Francisco GaldinoEstudante do 3º ano do ensino médio pela escola móvel do Graacc
                                  Apesar da pouca idade, o adolescente Arthur Francisco Andrade Galdino, 16, já tem um amplo currículo de superação: venceu duas doenças graves e está lutando para passar pela terceira.
                                  Ele ainda tem outro desafio: sair-se bem no Enem (Exame Nacional de Ensino Médio). Quer ser engenheiro civil, como sua mãe. Uma boa nota do Enem é pré-requisito para entrar na universidade.
                                  Arthur está fazendo tratamento contra um sarcoma de Ewing, um tipo de câncer nos ossos, no Graac (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), em São Paulo.
                                  Antes, ele venceu uma leucemia. No meio do caminho, teve mal de Chagas, uma infecção causada por um parasita, provavelmente contraída em alguma transfusão de sangue. A doença também foi vencida por Arthur.
                                  É lá mesmo, no Graacc, que ele estuda, nas chamadas "escolas móveis", desde 2009. Ele chegou a voltar para a escola regular, mas teve de retornar ao hospital devido a um novo tratamento.
                                  E é lá que o garoto fará o Enem. O exame será acompanhado por uma equipe do Ministério da Educação. Pela primeira vez, quatro jovens em tratamento --incluindo Arthur-- farão o exame juntos no Graacc. "Vou aproveitar a recuperação para dar um gás nos estudos."
                                  Ele fará uma transfusão de medula óssea nas próximas semanas, antes de uma nova batelada de quimioterapia. Já foram 26 sessões até hoje.
                                  As aulas da escola móvel acontecem até durante a químio, dependendo da disposição de cada estudante.
                                  São como aulas particulares. O professor encontra o aluno e leva o material didático, que varia entre livros, brinquedos e tablets. Quase 270 alunos participam.
                                  "Quando o aluno está na UTI usamos apenas o tablet, que é mais fácil de higienizar", explica Vanessa dos Santos Marques, 25, professora de português. Ela ensina oito crianças por semana.
                                  APRENDENDO A LER
                                  A escola móvel atende também os pequeninos. Alguns nem tiveram tempo de ir à escola. Caso de Pedro Alexsander Grandes Martins, 7, diagnosticado com meduloblastoma, um tipo grave de tumor cerebral, há três anos.
                                  Quando a reportagem conversou com ele, Pedro fazia um desenho ao lado de uma professora na sala de espera de mais um procedimento. Ele está sendo alfabetizado.
                                  A mãe dele, Elisandra Grandes Nunes, deixou o emprego em Manaus (AM), mudou-se para São Paulo e acompanha o filho nas aulas e nos procedimentos. Não desanima: "Ele é um lutador".
                                  Quem também estuda no Graacc é Merycler de Alcântara Silva, 11, nove deles em tratamento contra leucemia linfoblástica aguda, câncer nas células brancas.
                                  Agora que está curada, ela se prepara para frequentar a escola regular. "Quero ser médica quando crescer."
                                    Professores precisam de formação específica
                                    Docentes recebem aviso eletrônico quando alunos estão em tratamento
                                    Vantagem do modelo é permitir inserção da criança mesmo durante tratamento, que leva em média três anos
                                    SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO
                                    "O tratamento de uma criança com câncer leva uma média de três anos. Nesse período, mesmo que não fique internada, a criança pode estar debilitada. É muito tempo para ficar fora da escola Amália CovicFísica com doutorado em educação e coordenadora de pós-graduação em atendimento escolar hospitalar da Unifesp (Universidade Federal de SP)
                                    A vantagem do modelo de escola móvel do Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer) é garantir a inserção da criança na escola mesmo no processo de cura feito no hospital.
                                    "O tratamento de câncer em crianças leva uma média de três anos. É muito tempo para ficar fora da escola", diz Amália Covic, coordenadora de uma pós-graduação em atendimento escolar hospitalar da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
                                    Os alunos da pós, que dura dois anos, fazem residência no Graacc durante o curso com uma bolsa paga pela Petrobras, que apoia o projeto. Hoje, 50% do orçamento vem de empresas e de doações de pessoas físicas. A outra metade é do SUS (Sistema Único de Saúde).
                                    De acordo com Covic, os professores que atuam no hospital precisam de uma formação específica porque o trabalho é bem diferente do que seria encontrado em uma sala de aula regular.
                                    No hospital, o professor prepara a aula, ministra e tem de perceber a hora de parar. "O professor não tem sinal indicando que a aula acabou. O sinal é o limite do aluno."
                                    São os professores também que procuram os alunos pelas alas do hospital -- eles recebem uma notificação eletrônica quando o paciente entra em algum procedimento.
                                    Quase todos os 270 pacientes da instituição estudam. O projeto já atendeu mais de mil alunos desde que começou, em 2000.

                                      quinta-feira, 4 de julho de 2013

                                      Jovens fazem vídeos para falar de sexo e até transexualidade

                                      folha de são paulo
                                      SABINE RIGHETTI
                                      DE SÃO PAULO

                                      Um projeto que tem apoio da Fundação Carlos Chagas resolveu colocar o melhor interlocutor possível para falar sobre temas de sexo com os jovens: os próprios jovens.
                                      Em um conjunto de cinco vídeos disponíveis no YouTube (www.youtube.com/user/DarVozaosJovens), eles falam sobre temas como gravidez precoce, violência sexual e transexualidade.
                                      Os "atores" têm de 14 a 19 anos, a maioria de escolas públicas paulistas, e estão participando de um projeto do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento).
                                      "Fizemos um diagnóstico e vimos que existe muito material em livros, vídeos e afins sobre sexo. O problema é que esses materiais tem uma linguagem muito formal", explica Thais Gava, responsável pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas.
                                      Mais de 50 jovens se inscreveram para o projeto. Ao todo, 19 foram selecionados.
                                      O grupo escolheu os temas dos vídeos e fez um curso de produção dos roteiros que durou mais de 80 horas, em julho do ano passado.
                                      Depois, os jovens escreveram os seus roteiros e foram às gravações com ajuda de um apoio técnico do projeto.
                                      Nos vídeos, alguns encenam. Outros contam sua própria história: "Eu apanhava quase todo dia na escola. Foi por causa disso que parei de estudar", conta um aluno transexual no vídeo "Essa é a minha vida" --o mais assistido até o momento.
                                      De acordo com Gaya, a ideia é debater temas que fazem parte do dia a dia dos jovens "sem tabu".
                                      Um desses temas, que mais chama atenção pelo impacto que tem na vida escolar, diz Gaya, é a homofobia.
                                      "Se o jovem não vai à escola por causa de discriminação ele sofrerá consequências."
                                      A ideia agora é divulgar os vídeos em escolas públicas e particulares e incluir o material na formação de professores. "Não podemos partir do pressuposto de que o professor sabe lidar com questões de sexualidade", diz Gaya.

                                      domingo, 30 de junho de 2013

                                      Para cientista social da USP, protestos revelam um país que deseja uma democracia mais participativa

                                      folha de são paulo
                                      'Há um desencontro entre os cidadãos e os seus governantes'
                                      O movimento atual, diz sociólogo, tem de aproveitar para recusar a violência e reinventar o modo de fazer política
                                      SABINE RIGHETTIDE SÃO PAULO
                                      As manifestações recentes espalhadas pelo Brasil, de acordo com Sérgio Adorno, um dos principais sociólogos do país, mostram uma negação da sociedade ao modo atual de fazer política.
                                      O problema é o surgimento da possível violência legitimada nos protestos e o risco de uma movimentação antidemocrática. Leia abaixo a entrevista exclusiva à Folha.
                                      Folha - O que está acontecendo no Brasil?
                                      Sérgio Adorno - Há um fenômeno historicamente conhecido, mas com suas singularidades. É um desencontro entre os cidadãos e as suas instituições. Não é algo novo, mas há especificidades na sua dinâmica e na sua organização --que muitas vezes parece desorganizada.
                                      Quais são as causas disso?
                                      Vejo uma forte negação do modo de fazer política no Brasil. As pessoas querem uma democracia que possa ouvir mais. Há muitas pessoas nas ruas com interesses diversos. Tem gente com ideais e tem gente que diz "vamos lá porque está acontecendo uma manifestação". Tudo é legítimo. Estamos acompanhando os desdobramentos, que podem ser bons para o fortalecimento da democracia. Mas se as manifestações derem força para quem quer a volta de um regime repressivo, o ambiente fica vulnerável.
                                      O movimento antidemocracia pode ganhar força?
                                      Por enquanto, não. A maioria das pessoas aposta na democracia. A democracia no Brasil veio para ficar. A pergunta é: qual democracia? Estamos caminhando para uma sociedade mais igualitária? Precisamos decifrar o fenômeno. Há fatos novos, como a recusa aos partidos.
                                      O que quer dizer essa recusa?
                                      É uma recusa ao modelo atual de se fazer política. A escola pública, a saúde pública e o acesso aos serviços de governo continuam produzindo desigualdades. E o transporte é muito sensível. O desgaste de uma pessoa que mora na periferia e que leva três horas para chegar ao trabalho é grande.
                                      Existe um nível tolerável de vandalismo nos protestos?
                                      Paralisações são parte da democracia. Estamos aprendendo a lidar com elas. Quanto ao vandalismo, ainda precisamos entender melhor. Temos atos de vandalismo em jogos de futebol. Mas o significado é o mesmo? O que me preocupa é que há uma linguagem de trazer de volta uma expectativa de que a violência seja legítima na política. O movimento tem de aproveitar a oportunidade para recusar a violência e reinventar a política.
                                      E em relação à polícia? O que o senhor achou da ação da PM?
                                      Quando a polícia reagiu às manifestações certamente prevaleceu uma linha mais dura da polícia que diz que "ordem é ordem". Mas não podemos imaginar que a polícia, ao ser provocada, aja como se estivesse se vingando. A polícia deve ser preparada para lidar com isso.
                                      E a reação do governo? Haveria risco de golpe com uma Assembleia Constituinte?
                                      Não acho que há possibilidade de golpe. Em 64, havia uma coalizão de setores da sociedade civil com a classe política. Havia conspiradores. Mas agora não há respaldo da sociedade. O tema tocou a todos. Há uma preocupação com o que vai acontecer.

                                      RAIO-X SÉRGIO ADORNO
                                      NOME
                                      Sérgio Adorno
                                      IDADE
                                      61 anos
                                      FORMAÇÃO
                                      Sociólogo pela USP com pós-doutorado na França
                                      CARGO
                                      Coordenador do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP; foi presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia

                                        sexta-feira, 28 de junho de 2013

                                        Conselho da USP aprova bônus racial para o vestibular

                                        folha de são paulo
                                        Proposta também aumenta bonificação para egressos de escola pública; ideia é atingir metas de inclusão do governo
                                        Documento ainda vai passar pelo Conselho Universitário da USP; Unesp e Unicamp já aprovaram suas metas
                                        SABINE RIGHETTIFÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULOO Conselho de Graduação da USP aprovou ontem a criação de bônus de 5% no vestibular para candidatos de escolas públicas que se declararem pretos, pardos ou indígenas. Hoje, não há benefício específico para esse grupo.
                                        Haverá ainda aumento do bônus para os demais candidatos da rede pública. A pontuação máxima pode ir dos atuais 15% para 20%.
                                        Ou seja, um aluno autodeclarado preto, pardo ou indígena que cursou o ensino básico na rede pública poderá ter um acréscimo de até 25% na sua nota no vestibular. Hoje, ele só pode chegar aos 15%.
                                        A instituição aposta no aumento dos bônus no vestibular para atingir as metas do projeto apresentado em dezembro pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
                                        O governo quer que 50% dos calouros de cada curso das universidades estaduais paulistas --USP, Unicamp e Unesp-- sejam egressos de escolas públicas, sendo pelo menos 35% deles pretos, pardos e indígenas. O plano é atingir essas metas em 2016.
                                        Hoje, 28% dos aprovados na USP estudaram na rede pública. A universidade pretende alcançar as metas em 2018.
                                        O documento ainda passará pelo Conselho Universitário no próximo dia 2. Se aprovado, valerá já para o próximo vestibular.
                                        CURSINHO
                                        A USP aprovou ainda um reforço escolar --curso pré-vestibular-- para alunos da rede pública. Serão mil vagas, 35% delas em cota racial.
                                        O documento aprovado na USP, ao qual a Folha teve acesso com antecedência, é uma síntese das sugestões feitas pelas suas 42 unidades.
                                        A USP foi a última universidade estadual paulista a aprovar as metas do governo.
                                        A aprovação da Unesp foi em abril. Em junho, a Unicamp dobrou os bônus no vestibular para estudantes do ensino médio público e aos pretos, pardos e indígenas.