segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ausência de gene leva à anemia - Paloma Oliveto‏


Estudo identifica problema que causa deficiência de hemoglobina, quadro característico dos pacientes em estado grave 

Paloma Oliveto
Estado de Minas: 17/12/2012 
Todo mundo conhece uma receita para combater a anemia, condição que afeta uma em cada quatro pessoas no planeta. Ingerir mais alimentos com ferro, tomar suplementos e receber injeções de vitaminas, por exemplo, são medidas simples que geralmente resolvem rapidamente o problema. Mas há casos graves, como a forma congênita, quando a pessoa nasce com uma mutação que afeta a produção das células vermelhas. Nessas situações, o paciente pode até morrer. 

Estudo publicado na revista Nature identificou um gene que, quando ausente, induz a deficiência de hemoglobina, proteína responsável por fazer o transporte de oxigênio para as hemácias e os glóbulos vermelhos. Quando isso ocorre, as células ficam defeituosas e se rompem, levando à anemia grave. Segundo os autores, a descoberta vai ajudar a compreender melhor a fabricação das células sanguíneas e levar a tratamentos mais eficazes. 

“Apesar de haver muitas pesquisas sobre os padrões de regulação e metabolismo dessas células, ainda existem hiatos no conhecimento sobre os genes que regulam os níveis intracelulares de ferro, o transporte de enzimas e a homeostase. Essa compreensão incompleta atrapalha o desenvolvimento de terapias-alvo para uma boa quantidade de distúrbios, incluindo as anemias congênitas”, explica o hematologista Barry Baw, coautor do estudo e professor da Faculdade de Medicina de Harvard. Com a identificação do gene Atpif 1, ele acredita que os cientistas têm em mãos um forte candidato para entender e tratar anemias e doenças mitocondriais.

Para descobrir a mutação, os pesquisadores usaram o peixe-zebra como modelo, pois esse animal compartilha com humanos muitos genes relacionados à regulação das células sanguíneas. Entre os espécimes disponíveis, havia um embrião praticamente sem sangue nas veias. “Era exatamente isso que estávamos procurando. Uma variante do peixe-zebra com níveis muito baixos de produção sanguínea provavelmente encontra-se nesse estado porque o gene responsável pela formação das células do sangue está inativo”, diz Baw.

O genoma do peixe anêmico foi sequenciado pelos cientistas, que identificaram a falta do gene Atpif 1 e associaram o defeito ao metabolismo de uma proteína chamada heme. Na hemoglobina, ela é responsável por deixar as moléculas de oxigênio entrarem dentro das células. Para que a proteína funcione normalmente, é preciso que outro elemento celular, a enzima ferroquelastase, seja regulada corretamente e, em indivíduos saudáveis, o responsável por isso é o Atpif 1, presente também em humanos. 

“Nosso estudo estabeleceu uma ligação funcional única entre o gene e a modulação da síntese da proteína heme. Acredito que isso significará avanços importantes para o estudo da formação das células vermelhas”, diz Dhavnit Shah, pesquisador da Divisão de Hematologia do Boston Woman’s Hospital e principal autor do estudo. “Essas células não estão relacionadas apenas às anemias, há muitas outras doenças e síndromes relacionadas ao processo de formação dos eritrócitos, por isso acredito que estamos diante de um novo campo de investigações, que poderá solucionar muitas questões para as quais ainda não temos respostas”, afirma Shah. De acordo com ele, o estudo não terminou com a publicação do artigo na Nature. Ele e Barry Baw continuam procurando genes que revelem mecanismos até agora desconhecidos de regulação dos componentes das células sanguíneas. 

“Identificar novos processos intracelulares não apenas leva ao desenvolvimento de novas terapias, mas pode melhorar muito os resultados do tratamento de pacientes anêmicos”, avalia Greg Hare, cientista do Instituto La Ka Shing do Hospital de St. Michael, em Toronto. A linha de pesquisa do hematologista também se concentra em padrões celulares ainda desconhecidos relacionados à anemia. “No caso de pacientes crônicos ou muito debilitados, a anemia desempenha um papel importantíssimo na progressão da doença. As transfusões de sangue são procedimentos habituais nessas condições, mas o fato é que isso não tem conseguido diminuir as taxas de mortalidade”, afirma. “Isso aponta a necessidade de uma compreensão mais aprofundada das respostas moleculares à anemia, um campo de investigações que ainda aguarda para ser desvendado.”

Teste rápido pelo celular 
Publicação: 17/12/2012 04:00
Um dispositivo barato conectado ao aparelho celular poderá salvar milhares de pessoas que sofrem de anemia. Alunos de engenharia biomédica da Universidade de Johns Hopkins (EUA) desenvolveram o protótipo de um equipamento, o HemoGlobe, que consegue medir o nível de hemoglobina no sangue com resultado na hora. Basta posicionar o dedo no dispositivo para que diferentes comprimentos de onda emitidos pela pele sejam captados e interpretados por um aplicativo, na tela do celular. Dependendo da cor, é possível saber se a pessoa sofre de anemia simples, moderada ou severa. 

O HemoGlobe poderá ser importante também para indicar locais onde a prevalência da anemia é maior. Depois de cada teste, o telefone manda uma mensagem automática com os resultados para um servidor central, que produz um mapa em tempo real indicando onde há maior concentração de casos. 

Os estudantes projetaram o equipamento pensando nas populações de países em desenvolvimento. “Em locais onde esse acesso é mais fácil, os médicos fazem testes de rotina em grávidas e prescrevem o tratamento, que inclui suplementação de ferro. Mas nos países mais pobres, onde os hospitais nem sempre estão por perto, essa condição pode não ser detectada. Ainda assim, são regiões geralmente servidas por agentes comunitários de saúde”, observa Soumyadipta Acharya, orientador da pesquisa.

“A equipe percebeu que todo agente comunitário carrega um poderoso computador em seu bolso — o telefone celular. Isso facilita muito, pois não foi preciso fabricar um computador portátil para ser conectado ao nosso equipamento”, conta Acharya.

 A estimativa é de que a produção de cada unidade do HemoGlobe custe de US$ 10 a US$ 20. “No primeiro ano, nos focamos na invenção de uma tecnologia que funciona. Agora, temos um grande desafio: provar que o aparelho tem um impacto real, detectando a anemia e encaminhando os pacientes para o tratamento”, diz Achayra. 

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