A fabulosa fábrica de partidos
Acusado de vender uma sigla nanica em 2005, advogado já participou da criação de seis legendas e começa a encaminhar a sétima
Karime Xavier/Folhapress | ||
Marcílio em sua casa, em Mairinque (SP); com apoio da Força Sindical, advogado comanda agora a criação do 'Solidariedade' |
O cargo eletivo mais relevante que ocupou foi o de vereador de Mairinque, cidade que fica a 70 quilômetros da capital paulista e tem cerca de 50 mil habitantes.
Apesar do fiasco na carreira eleitoral - desde 1989 ele concorreu diversas vezes a deputado federal e tentou ser candidato a prefeito-, a desenvoltura que exibe para tirar legendas nanicas do papel o transformou em figura requisitada no meio político.
Como ele próprio conta, passou a ser chamado de "o maníaco das siglas" nos corredores do Congresso.
Dos seis partidos, afirma, viabilizou quatro como advogado, cobrando "R$ 300 mil, R$ 400 mil" de honorários. Assumia a organização burocrática e cumpria os requisitos exigidos pela Justiça.
ENCOMENDAS
"O PSL eu fiz para a família Tuma [senador pelo PTB, morto em 2010]. O Prona eu fiz porque me mandaram construir uma sigla pro Enéas [deputado federal, morto em 2007]. Quem mandou eu não falo. O PGT eu fiz por amizade ao Pegado [Canindé Pegado, presidente da sigla]", diz.
"De coração", afirma ter empreendido apenas o PST.
Agora, se prepara para criar sua sétima legenda, a 31ª no atual sistema eleitoral do país, o "Solidariedade", "alinhado com o trabalhador, mas não sindicalista".
As únicas experiência de Marcílio como cacique de partido foram com o PST. Da primeira vez que fundou a sigla, em 1989, diz ter contado com a ajuda de figuras como o ex-presidente Fernando Collor de Mello, eleito naquele ano. "A minha contribuição para a história foi o Collor. Eu assinei o pedido de registro [da candidatura] dele. A primeira vez que o vi ele era governador e fez um discurso para 20 pessoas como se falasse para 2 milhões", afirma.
Na época, o PST cresceu. "Consegui trazer o Alvaro Dias, que era governador. Fiz ele presidente do partido. Em pouco tempo ninguém me atendia mais, só falava com ele. Aí eu saí."
Hoje senador pelo PSDB, Dias se lembra de Marcílio. "Marcílio é um operador nessa área [de criar partidos]. Conhece bem a legislação. Acaba sempre sendo procurado", disse o senador.
MENSALÃO
Dias deixou o PST poucos anos depois, quando uma fusão extinguiu a sigla. Marcílio refundou o partido depois.
"Me mudei pra Brasília, morava no St. Peter [hotel em que parlamentares costumam se hospedar]. Era deputado sem ser", diz.
Ficou endividado e, após uma mudança na legislação eleitoral que endureceu as regras contra os nanicos, promoveu em 2003 a fusão do PST com o PL, na época comandado por Valdemar Costa Neto (PR-SP), condenado no processo do mensalão.
Marcílio diz conhecer Valdemar há anos, e que o "boy", como o deputado é chamado, sempre o ajudou eleitoralmente. "Eu pedia dez toneladas de papel. Ele dizia que podia dar uma. Assim começava a negociação. Ele sempre ajudava", diz Marcílio.
A fusão com o PL levou o nome de Marcílio para os jornais em 2005 quando estourou o escândalo do mensalão. Em depoimento à Comissão de Ética da Câmara, a ex-mulher de Valdemar, Maria Christina Mendes, acusou o ex-marido de ter comprado de Marcílio o partido nanico.
Ele nega que tenha havido negociação de dinheiro. O que ganhou com a fusão? "Fiquei com a presidência do partido em São Paulo."
Hoje, diz já não ter contato com Valdemar Costa Neto.
Marcílio foi acionado neste ano para fundar o "Solidariedade". Ele assina toda a burocracia. No meio político, no entanto, é o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), quem é citado como mentor do novo partido.
Paulinho, que está em litígio com o governo federal e em uma queda de braço com outros dirigentes de sua atual legenda, nega. Diz que ajuda Marcílio assim como ajuda outras pessoas que querem fundar partidos.
Segundo Marcílio, a Força Sindical, entidade presidida por Paulinho, auxilia a coleta de assinaturas para a fundação da sigla. E o deputado ajuda na emissão de passagens aéreas para que ele possa percorrer os Estados.
CACIQUE
Para sair do papel, a legislação exige que sejam coletadas 500 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove Estados brasileiros.
"Não me incomodo quando dizem que o Paulinho vai ser dono do partido. Pode ser presidente do partido, assim como outros líderes sindicais que ajudam, como o Patah [Ricardo Patah, da UGT]."
Marcílio calcula que até fevereiro conseguirá cumprir as exigências para dar entrada no registro do Solidariedade na Justiça Eleitoral. Diz já ter cerca de 200 mil assinaturas. E espera que sua legenda tome, ao menos, cinco deputados de siglas maiores.
Ele diz que, hoje, não tem mais gás para concorrer a deputado federal. "Talvez indique meu filho. Posso ser suplente de senador..."
FRASES
"O PSL eu fiz para a família Tuma [senador pelo PTB, morto em 2010]. O Prona eu fiz porque me mandaram construir uma sigla pro Enéas [deputado federal, morto em 2007]. Quem mandou eu não falo. O PGT eu fiz por amizade"
"Não me incomodo quando dizem que o Paulinho vai ser dono do partido ['Solidariedade']. Pode ser presidente do partido, assim como outros líderes sindicais que ajudam, como o Patah [Ricardo Patah, da UGT]"
RAIO-X - MARCÍLIO LIMA DUARTE
71
ORIGEM
Recife
PROFISSÃO
Advogado e ex-vereador de Mairinque (SP)
HISTÓRICO
Criou seis partidos nos últimos 24 anos: PSL, Prona, PGT, PST, PRTB e PTN
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