Terra de índio
SÃO PAULO - Newtown, a cidade americana onde ocorreu o massacre de crianças na sexta, originou-se de uma fatia de terra comprada dos índios por colonos brancos no início do século 18. Foi o modo típico da expansão anglo-saxônica na Nova Inglaterra -porção norte da costa atlântica dos Estados Unidos.
Os experimentos puritanos na região começaram quase um século antes. A sucessão de Elizabeth pelo rei James, em 1603, mudou a balança de poder na Inglaterra, em desfavor dos protestantes de inspiração calvinista. A emigração para a América foi um modo de escapar da perseguição real e de instalar ali cidades perfeitas, em harmonia com a doutrina da predestinação desses religiosos.
O autogoverno daqueles primeiros assentamentos não se confundia com democracia. O poder religioso e o civil se misturavam num penetrante mecanismo de controle e uniformização de condutas. Tornou-se comum expurgar quem não se dobrava aos comandos e às interpretações das Escrituras oriundos dos chefes pregadores e políticos.
Não tardou para que se formassem, na América, grupos de perseguidos por aqueles que eram perseguidos na Europa. Tiveram de virar-se com os índios -comprar deles terra- e com a Inglaterra para fixar-se fora das fronteiras das colônias puritanas sem ser molestados.
Dessa contingência nasceu, em meados do século 17, um dos primeiros experimentos de separação rigorosa entre poder civil e religioso, no vilarejo de Providence, hoje no Estado de Rhode Island. Seu fundador, o duplamente perseguido Roger Williams, ajudou a difundir os princípios da liberdade religiosa e da origem popular do poder na Europa.
Vários massacres houve, no velho e no novo mundo, em torno dessas disputas religiosas e territoriais. Por mais odiosos que tenham sido, é possível entender suas motivações. O que aconteceu em Newtown, a 200 km de Providence, não se explica.
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