segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Papai Noel traz inflação no trenó - Marta Vieira‏

O monstro da inflação chegou para salgar a ceia de celebração do nascimento de Cristo este ano na Grande BH, tornando-a quatro vezes mais cara em relação a 2011. São 5,16%, contra 1,27%. Carnes, frutas e embutidos são os maiores vilões. Os cálculos, com base no IPCA, são do analista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Antonio Braz e levam em conta uma cesta contendo 34 itens. A variação pode ser maior porque o indicador inflacionário oficial desconsidera produtos como peru, panetone, bacalhau, frutas secas e castanhas, também típicos dos cardápios nas comemorações de fim de ano. Para driblar os preços e não estourar o orçamento, o consumidor tem como opção ficar de olho em ofertas e usar a criatividade para levar à cozinha e à mesa ingredientes mais acessíveis ao bolso.

Papai Noel traz inflação no trenó 

Custo das festas de dezembro em Belo Horizonte quadruplicou, na comparação com os gastos feitos no mesmo período do ano passado. Alta de cesta com presentes e alimentos chegou a 5,16%
 

Marta Vieira
Estado de Minas 17/12/2012
A festa do Natal na Região Metropolitana de Belo Horizonte encareceu quatro vezes mais neste ano em relação à variação dos gastos de 2011, sob a pressão dos aumentos dos preços das carnes, embutidos, frutas e bebidas. O conjunto das despesas com a celebração cristã nem passou perto do clima de proteção divina que cerca a data, enfrentando uma inflação de 5,16% de janeiro a novembro, comparada com a registrada em dezembro do ano passado, baseada numa cesta contendo 34 itens típicos de consumo no período, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período de 2011, confrontado com dezembro de 2010, o indicador calculado pelo analista do escritório do IBGE em Minas Gerais Antonio Braz de Oliveira e Silva havia mostrado alta de 1,27%.

Para algum consolo das famílias da capital mineira e entorno, apesar da pancada no orçamento de 2012, a inflação do Natal na Grande BH foi a terceira mais baixa entre as 11 regiões metropolitanas onde o IPCA é apurado, depois de Brasília e do Rio de Janeiro (veja o quadro). O custo da festa, no entanto, pode ter superado a evolução encontrada nos números do IBGE, uma vez que desconsidera produtos com demanda ativa nesta época, a exemplo do peru, panetone, frutas secas, castanhas e bacalhau, itens que não entram na composição do IPCA.

A inflação natalina inclui carnes de porco, frango, filé-mignon, camarão, presunto, cerveja, eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos, TV, som e informática, joias e bijuteria, brinquedos e material esportivo, entre outros gastos. Âncoras da carestia, o grupo dos alimentos encareceu 7,72% na Região Metropolitana de BH, ante deflação de 0,79% registrada no ano passado, seguido da remarcação de 11,15% dos preços das bebidas, que já haviam encarecido 13,10% em 2011. O resultado não surpreendeu Antonio Braz diante da elevação do custo da comida em geral neste ano.

“Em todas as regiões do país, as variações dos preços de alimentos e bebidas ficaram acima do IPCA, seja no domicílio ou fora dele”, afirma o analista do IBGE. O IPCA acumulou 5,48% de janeiro a novembro na Grande BH, impulsionado pela variação de 8,48% do grupo de alimentos e bebidas.

Houve ainda uma revisão do cálculo do indicador, para adaptação à mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares, a POF, de 2008/2009, que aboliu o bacalhau, por exemplo, um produto sazonal, diferença que ajuda a entender parte das alterações da inflação do Natal de 2011 para 2012. Os preços do frango inteiro aumentaram 14,04% e os da carne de porco subiram 7,36%, em média, ganhando destaque que gera reclamações. 

Enquanto confere o atendimento dos clientes do açougue Feijoada de Minas, no Mercado Central de BH, Rogério Belo, dono do estabelecimento, diz que a carne de porco despontou com uma elevação de preços de 10% só nos últimos seis meses. “Não há como deixar de repassar um aumento desses”, afirma. Consumidora frequente de carneiro, a aposentada Maria Aparecida da Silva já se preparou para cortar outros ingredientes da ceia de Natal para 30 pessoas da família, como parte das frutas, na tentativa de compensar o aumento da despesa com a carne preferida. O preço subiu R$ 3 por quilo em menos de três meses, saindo de R$ 19,90 para R$ 22,90. “A solução é deixar de comprar alguns produtos”, afirma.
DE GOLE EM GOLE Insatisfeito com as remarcações da cerveja neste ano, o garçom Marcos Rogério Lima diz que chega a pagar até R$ 7 pela garrafa da bebida em bares e restaurantes da cidade, aumento médio que correspondeu a R$ 2,25, e vai tornar mais cara a festa da família. “Vamos ter de apelar para a vaquinha”, sugere, ao lado do amigo Carlos Alberto Paulino, estudante, que não dispensa a paixão na mesa do Natal. A compra direto nas distribuidoras pode ser a saída para Carlos. Elas vendem a caixa de 24 garrafas na faixa de R$ 70, ante os R$ 85 que o cliente pagaria num bar. O aperto na tributação estadual explica a alta, de acordo com Cristiano Lamêgo, superintendente do Sindicato das Indústrias de Bebidas de Minas Gerais (Sindbebidas).

No caso da cerveja, pesa também o consumo sazonal muito forte da bebida do fim da primavera até o carnaval, que eleva os preços no varejo. Só a cachaça fugiu ao aumento médio de 2% da taxação sobre a pauta dos itens que compõem o cálculo do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) incidente nas bebidas, consideradas produto supérfluo. “Há um excesso de tributação que acaba inibindo investimentos na produção e em novas fábricas, o que poderia favorecer os preços para o consumidor”, justifica Lamêgo.


Clientes tentam driblar preços 


Nos extremos do ranking da inflação do Natal, a Região Metropolitana de Porto Alegre (RS) ficou na dianteira, com uma variação de 6,41%, em contraposição à elevação modesta para os padrões de 2012 de 3,51% em Brasília. A média do índice no Brasil acumulou 5,37%. “A inflação continua sob controle, mas, de fato, desejávamos uma variação mais próxima da meta (estabelecida pelo governo federal em 4,5%)”, diz Wanderley Ramalho, coordenador de pesquisas da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, que apura os índices IPCA e IPC-R na capital mineira.

Boa parte da elevação do IPCA no fim do ano reflete um forte componente especulativo na formação dos preços, que só o brasileiro indignado e que recusa aumentos exagerados pode evitar. “O consumidor tem de mostrar explicitamente que está vigilante. Do contrário, a componente especulativa ganha força”, diz Ramalho. Convicta desse papel, a dona de casa Lúcia Teixeira Campos não vê explicação razoável para remarcações de até 30% dos preços das carnes de boi e frango neste ano.

Para a ceia de Natal da família, que reúne pelo menos 60 pessoas, Lúcia Campos costuma preparar bacalhau e pernil, mas se necessário não pensará duas vezes em substituir itens típicos do jantar. “Uma alternativa é comprar os ingredientes mais perto da data, porque sempre aparecem as ofertas”, recomenda. Além dos alimentos e bebidas, pesaram na inflação do Natal na capital mineira os grupos de despesas com recreação e joias e bijuterias. Os preços dos eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, TV, som, informática e aparelhos telefônicos, por sua vez, ajudaram a conter o fôlego do dragão. 

A valorização do ouro, embalada pela crise financeira mundial, foi um dos fatores de encarecimento do grupo de joias e bijuterias – de 16,39%, mais do dobro da variação de 5,95% no ano passado –, na avaliação de Raimundo Viana, presidente do Sindicato das Indústrias de Joalheria, Ourivesaria, Lapidação de Pedras Preciosas e Relojoaria de Minas Gerais (Sindijoias). Outro argumento é o de que, acuada pela invasão chinesa, a indústria de folheados migrou para a fabricação de bijuterias , segmento que necessita de muita mão de obra, e valorizou a produção com o uso de pedras como o quartzo em substituição ao material sintético, movimento que ajudou a elevar os preços no varejo. “A alta reflete um produto que tem maior valor e qualidade embutidos na produção”, garante Viana. (MV)

DAQUI PARA O FUTURO » Riscos em 2013 

Previsões neste momento sobre o comportamento da inflação podem se limitar à pura ousadia. Para Wanderley Ramalho, coordenador da Fundação Ipead, vinculada à UFMG, a grande interrogação envolvendo os preços em 2013 é a possibilidade de estar se formando no país uma inflação reprimida. A dúvida é clara, na visão do pesquisador, sobre os efeitos da contenção de reajustes dos serviços públicos, exemplo clássico dos combustíveis. Embora não se trate de nenhuma ameaça inflacionária, Ramalho observa que se o governo retardar a correção dos preços da gasolina, ao soltar as rédeas mais à frente poderá provocar um problema no impacto que o ajuste terá em cadeia, desde o encarecimento do frete, passando pela produção da indústria até chegar às vitrines do comércio. 

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