segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A evolução de Matisse rumo ao êxtase - Roberta Smith


ROBERTA SMITH
RESENHA DE ARTE
O grande modernista francês Henri Matisse (1869-1954) não era alguém que gostava de aderir a causas. No início do século 20, ele liderou o breve ataque dos "fauves" -aqueles "animais selvagens" de cores fogosas-, mas se absteve dos movimentos mais simbólicos da arte moderna.
Ele comungava com artistas do passado e periodicamente roçou ombros com o cubismo. Mas seu desejo era, como ele mesmo disse, "ir mais longe e mais a fundo na verdadeira pintura".
Sua evolução rigorosa e inabalável é o tema de "Matisse: Em Busca da Verdadeira Pintura", no Metropolitan Museu of Art, em Nova York, uma das exposições mais emocionantes e instrutivas sobre esse pintor. Ela estará em cartaz até o dia 17 de março. Tão maravilhosa quanto sucinta, a exposição desliza pela longa carreira desse mestre francês com apenas 49 pinturas, mas quase todas são obras estelares e pivotantes.
A exposição projeta uma nova luz sobre a tendência de Matisse a copiar e a trabalhar em séries. As pinturas procedem em pares ou em grupos alinhados pelo tema: dois arranjos de natureza-morta com frutas e compota, de 1899, duas versões de um jovem marinheiro cochilando em uma cadeira, de 1906, quatro vistas (1930 a 1914) de Notre-Dame de Paris.
A última galeria oferece cinco pinturas do final dos anos 1940 que mostram o estúdio de Matisse em Vence em cores planas e saturadas.
Espalhadas por oito galerias, cada par ou grupo forma seu próprio minisseminário. Juntos eles mostram a incansável hesitação de Matisse entre extremos, sempre repensando e revisando sua maneira de alcançar a grandeza com ideias radicais sobre economia e acabamento. Deve-se dar atenção a seu hábito de pintar cores escuras sobre outras claras para criar um sutil brilho inferior e sua frequente ênfase à tela branca como uma fonte de luz e textura. Ele buscava uma direção implicitamente moderna que criou uma forte intimidade entre artista, objeto e espectador. Ele afirmou: "Trabalho em direção ao que eu sinto, em direção a uma espécie de êxtase".
A prática de copiar de Matisse surgiu de sua educação acadêmica, que por longa tradição envolvia copiar antigos mestres no Louvre. Mas ele mudou esse exercício na direção do presente, copiando obras muito mais contemporâneas e fazendo experimentações de estilos, principalmente dos pós-impressionistas. A primeira galeria inclui a homenagem de natureza-morta a Cézanne (1904) e outra obra representando o mesmo arranjo à maneira pontilhista de Paul Signac (1904-1905).
Ainda mais interessantes são as duas naturezas-mortas de 1899 com compotas e frutas. Uma é pintada ricamente, um tributo pós-impressionista abrangente (Van Gogh, Gauguin, Cézanne, Vuillard) moldado em uma luz melíflua. A outra é despida, quase esquelética: as frutas e os vasos são denotados por silhuetas planas em cores vivas.
É possível passar toda a visita nas segunda e terceira galerias da exposição, meditando sobre os marinheiros e os nus com echarpes brancas. É quase chocante ver que a grande "Vista de Notre-Dame" (quase toda azul) do Museu de Arte Moderna (1914) tem uma gêmea improvável do mesmo ano: uma visão relativamente realista da catedral. Nos anos 1930, Matisse começou a tirar fotos em preto e branco de suas pinturas enquanto trabalhava nelas. Em 1945, ele chegou a exibir seis pinturas, cada qual cercada de suas fotografias, na Galeria Maeght, em Paris.
A sétima galeria da exposição no Metropolitan apresenta três telas da Maeght, entre suas fotos evidenciais. Elas estabelecem que o progresso de Matisse era muitas vezes duro, e que ele trabalhava desafiando suas dificuldades até uma imagem final que emana frescor consumado e facilidade. É claro que as pinturas de Matisse são quase sempre destilações duramente conquistadas, mas é de todo modo maravilhoso ver o processo tão amplamente registrado.[New York Times na Folha de são PaULO]

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