À moda da chefe
BRASÍLIA - Dilma exaltava em Paris seu plano de reestruturar o setor aeroportuário por meio de concessões à iniciativa privada quando cometeu a gafe: prometeu construir 800 terminais, um para cada cidade com mais de 100 mil habitantes.O número passou batido na hora, mas está errado. Há no Brasil apenas 283 municípios desse porte -e quase a metade já tem aeroporto.
Na verdade, o projeto em formulação no governo federal contempla 200 terminais regionais. Algo ambicioso, mas muito aquém do que foi anunciado pela presidente.
Bastava alguém da Secretaria de Aviação Civil, da Infraero ou da Casa Civil pôr as coisas no devido lugar. Mas isso não aconteceu. Todo mundo fugiu da imprensa.
Uns, com pavor de levar a culpa, correram para descobrir de onde Dilma teria tirado o número irreal.
Outros deram de ombros. Afinal, é a presidente quem decide tudo mesmo -do conteúdo do PowerPoint introdutor das novidades à posição de estacionamento das aeronaves. Por que ela não poderia inventar uma meta estratosférica?
O caso, aparentemente menor, ilustra deficiência crônica deste governo. Muitas repartições estão paradas ou desmotivadas. Seja porque se pelam de medo da presidente. Seja porque, certas do atropelo do Planalto, deixaram de se importar.
Há algo de errado num negócio em que o subalterno jamais questiona o chefe. Qualquer especialista em gestão ou recursos humanos, desses que emplacam best-sellers em livrarias de... aeroportos, sabe que bons resultados aparecem quando há espaço e estímulo à crítica.
Dilma contribui muito para a agenda pública ao se dedicar à microgerência. Sinaliza cuidado com o patrimônio que pertence a todos.
Porém, ao desperdiçar energia em todo tipo de miudeza, a presidente aliena quem poderia ajudá-la no essencial. E, ao intimidar a equipe, só reforça nela a saudade de Lula.
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