Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas: 02/12/2012
Dolores Duran não foi cantora de tanto sucesso quanto estrelas de sua geração, a exemplo de Dalva de Oliveira, Ângela Maria e Maysa. Mas essa carioca deixou sua marca inconfundível na história da MPB. Bambas como Milton Nascimento, Carlos Lyra e Elis Regina interpretaram canções dela. Morta em 1959, aos 29 anos, Dolores é a mulher que teve mais composições gravadas na história da música brasileira. A obra da autora dos clássicos Castigo, Fim de caso e A noite do meu bem ganhou cerca de 800 regravações.
O jornalista Rodrigo Faour, autor de exaustiva pesquisa sobre a artista, acaba de lançar o livro Dolores Duran – A noite a as canções de uma mulher fascinante. A ideia de contar a vida da compositora e intérprete surgiu há dois anos, enquanto ele organizava a caixa Os anos dourados de Dolores Duran para a gravadora EMI. “Certo dia, mostrei o trabalho para a minha mãe e ela disse: ‘Isso está mais para livro. Por que você não escreve?’”, relembra o jornalista, autor de História sexual da MPB (2006).
Desafio aceito, Rodrigo arregaçou as mangas. Não foi uma tarefa fácil, mas valeu a pena, pois as surpresas aumentavam à medida que o autor mergulhava na história de Adileia Silva da Rocha, que encantaria o Brasil e o mundo como Dolores Duran.
“Até hoje, ninguém conhecia bem a mulher Dolores. Aliás, não se conhecia nem a cantora, logo esquecida. Só as músicas dela eram ouvidas. A cada depoimento, a cada nota de jornal, surgia uma novidade que revelava a mulher que não era bonita, mas carismática, fascinante e à frente do seu tempo”, diz Faour.
O jornalista elege Castigo como “a obra-prima atemporal de Dolores”. E lembra que a artista foi, realmente, precoce: aos 16 anos, metia-se a cantar em clubes e na rádio da cidade fluminense de Duque de Caxias, onde morava com a família. Não demorou muito para ela fazer sucesso nas boates da Zona Sul carioca. Aquela menina pobre, filha de nordestinos, tinha tudo para acontecer depressa.
COMUNISTA Fascinado pela personagem, Rodrigo Faour revela: apesar de ter estudado até a 5ª série, Dolores era intelectualizada, lia grandes escritores e falava várias línguas. “Politizada, ela chegou a ser simpatizante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Como se não bastasse, era boa cozinheira e amiga generosa. Sedutora e namoradeira, não foi uma presa fácil para os homens. Na maioria das vezes, Dolores os escolhia e os descartava quando percebia que não estavam correspondendo”, diz o biógrafo.
Boêmia, Dolores Duran gostava de terminar as noites no bar bebendo com os amigos, mesmo no ambiente conservador dos anos 1950. Numa daqueles inícios de manhã, a Bochecha, como era chamada pelos íntimos, chegou em casa. Brincou com a filha, Maria Fernanda. Depois, chamou a empregada e disse a frase que entrou para a história: “Rita, querida, estou muito cansada. Vou para a cama e não quero ser incomodada. Se alguém telefonar, não me chame. Quero dormir até morrer!”.
No outro dia, Rita a encontrou morta. As especulações de que Dolores havia se suicidado, alimentadas por suas últimas palavras, espalharam-se pelo país. Mas elas se revelaram infundadas: o coração calou a mulher que compôs Castigo.
DOLORES DURAN
A noite e as canções de uma mulher fascinante
De Rodrigo Faour
Record, 558 páginas, R$ 49,90
O jornalista Rodrigo Faour, autor de exaustiva pesquisa sobre a artista, acaba de lançar o livro Dolores Duran – A noite a as canções de uma mulher fascinante. A ideia de contar a vida da compositora e intérprete surgiu há dois anos, enquanto ele organizava a caixa Os anos dourados de Dolores Duran para a gravadora EMI. “Certo dia, mostrei o trabalho para a minha mãe e ela disse: ‘Isso está mais para livro. Por que você não escreve?’”, relembra o jornalista, autor de História sexual da MPB (2006).
Desafio aceito, Rodrigo arregaçou as mangas. Não foi uma tarefa fácil, mas valeu a pena, pois as surpresas aumentavam à medida que o autor mergulhava na história de Adileia Silva da Rocha, que encantaria o Brasil e o mundo como Dolores Duran.
“Até hoje, ninguém conhecia bem a mulher Dolores. Aliás, não se conhecia nem a cantora, logo esquecida. Só as músicas dela eram ouvidas. A cada depoimento, a cada nota de jornal, surgia uma novidade que revelava a mulher que não era bonita, mas carismática, fascinante e à frente do seu tempo”, diz Faour.
O jornalista elege Castigo como “a obra-prima atemporal de Dolores”. E lembra que a artista foi, realmente, precoce: aos 16 anos, metia-se a cantar em clubes e na rádio da cidade fluminense de Duque de Caxias, onde morava com a família. Não demorou muito para ela fazer sucesso nas boates da Zona Sul carioca. Aquela menina pobre, filha de nordestinos, tinha tudo para acontecer depressa.
COMUNISTA Fascinado pela personagem, Rodrigo Faour revela: apesar de ter estudado até a 5ª série, Dolores era intelectualizada, lia grandes escritores e falava várias línguas. “Politizada, ela chegou a ser simpatizante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Como se não bastasse, era boa cozinheira e amiga generosa. Sedutora e namoradeira, não foi uma presa fácil para os homens. Na maioria das vezes, Dolores os escolhia e os descartava quando percebia que não estavam correspondendo”, diz o biógrafo.
Boêmia, Dolores Duran gostava de terminar as noites no bar bebendo com os amigos, mesmo no ambiente conservador dos anos 1950. Numa daqueles inícios de manhã, a Bochecha, como era chamada pelos íntimos, chegou em casa. Brincou com a filha, Maria Fernanda. Depois, chamou a empregada e disse a frase que entrou para a história: “Rita, querida, estou muito cansada. Vou para a cama e não quero ser incomodada. Se alguém telefonar, não me chame. Quero dormir até morrer!”.
No outro dia, Rita a encontrou morta. As especulações de que Dolores havia se suicidado, alimentadas por suas últimas palavras, espalharam-se pelo país. Mas elas se revelaram infundadas: o coração calou a mulher que compôs Castigo.
DOLORES DURAN
A noite e as canções de uma mulher fascinante
De Rodrigo Faour
Record, 558 páginas, R$ 49,90
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