domingo, 2 de dezembro de 2012

A paixão errada - Ivan Finotti


Fábio Seixas, meu colega de Folha, nunca foi fã de carros. Gostava mesmo era de futebol. Jogava como zagueiro, comprava a revista "Placar" e colecionava as figurinhas "Futebol Cards" do chiclete Ping Pong. Pensou em fazer medicina esportiva, mas escolheu jornalismo justamente para escrever sobre futebol.

Só que nunca trabalhou com isso. Logo que entrou no caderno de esportes, foi destacado para cobrir a Fórmula Indy. E, em seguida, passou sete anos viajando o mundo para acompanhar o circo da Fórmula 1 e relatar o noticiário dos pilotos nas páginas deste jornal.
Marcelo Justo/Folhapress
Fabio Seixas, com seu Gordini, no Autodromo de Interlagos
Fabio Seixas, com seu Gordini, no Autodromo de Interlagos
Em 2003, no autódromo de Interlagos, bateu o olho num carrinho arredondado azul-calcinha. Gamou na hora. Era um Gordini 2 1965, de 40 cavalos de potência, "40 hp de pura emoção", conforme dizia o slogan publicitário da época.
O carango estava lá para participar de um desfile de carros antigos, e Seixas logo deu um jeito de dar uma volta com ele pela pista do autódromo. Conversou com o dono, ligou para a patroa pedindo permissão e comprou o dito cujo.
O amor cresceu. Fábio criou o site www.gordini.com.br, em que conta a história do carro, explica que o Dauphine e o Gordini são irmãos e posta fotos do modelão.
O Dauphine francês foi lançado pela Renault em 1956. A intenção era concorrer com o Fusca, e o sucesso foi imediato.
Chegou ao Brasil no final de 1959, pelas mãos da Willys. Tinha três marchas, 31 hp de potência e atingia 115 km/h.
O Gordini, de 1962, foi uma evolução do Dauphine, capitaneada na França pelo mecânico Amadeo Gordini. O visual era o mesmo, porém tinha quatro marchas e os tais "40 hp de pura emoção". E possuía acabamento bem mais luxuoso.
Desde o ano passado, entretanto, Fábio anda saudoso. Foi trabalhar na sucursal carioca da Folha e, por isso, tem visto pouco sua paixão.
"A cada 15 dias, meu pai anda com ele pela cidade, para não estragar."
Mas por que não levou o Gordini para o Rio, ora bolas?
"Com aquela maresia? Nem morto!"
Folhapress
Ivan Finotti é assistente de edição da revista 'Serafina' e jornalista cultural há 20 anos. Recebeu o prêmio Esso de criação gráfica como editor do 'Folhateen' em 2008. Passou ainda por jornais como 'O Estado de S.Paulo', 'Diário de S.Paulo' e 'Notícias Populares' e revistas como 'SuperInteressante'. É co-autor da biografia 'Maldito', sobre Zé do Caixão, e dono de um Maverick 74. Escreve aos domingos, a cada duas semanas, no caderno 'Veículos'.

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