quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Relíquias judaicas


No Bom Retiro, a sinagoga mais antiga do Estado completa 100 anos hoje e prepara inauguração de memorial dos imigrantes
FERNANDA KALENACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
A sinagoga mais antiga do Estado de São Paulo completa hoje o seu primeiro centenário. Construída em 1912, na rua da Graça, no bairro do Bom Retiro, a Kehilat Israel ou Comunidade Israelita, como é chamada, teve um papel importante na imigração de judeus para o Brasil.
Grande parte dos imigrantes desembarcava no porto de Santos rumo a São Paulo e, nas primeiras noites no bairro da região central da capital, a sinagoga era mais do que o centro religioso -ela também os abrigava.
Antigamente, ela ficava no segundo andar de um sobrado. No primeiro, havia camas e uma cozinha para os recém chegados. Assim, a sinagoga que se desenvolveu com o bairro se transformou em referência no Bom Retiro.
Entre as décadas de 1920 e 1930, segundo dados divulgados pelo IBGE no artigo Os judeus no Brasil, de Keila Grinberg, quase 30 mil judeus entraram no país.
O fluxo de imigrantes continuou com a ascensão do nazismo na Europa. Não demorou para que o local ficasse conhecida como bairro dos judeus, já que eles detinham quase todo comércio da região.
Com o passar dos anos, no entanto, esse cenário mudou. Na Kehilat Israel também.
DECLÍNIO
Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro, 70% do comércio local hoje é administrado por coreanos e apenas 20% por judeus.
"No meu prédio quase não tinha mais judeu", diz o advogado Francisco Kirchenchteyn, 74, que em 1998 trocou o Bom Retiro por Higienópolis. "Muitos judeus adquiriram status melhor e acabaram deixando o bairro", afirma ele.
Assim como o bairro, a sinagoga centenária também sentiu o impacto. Esvaziada e com poucos recursos o abandono era visível. "Quando chovia, tinha muitas goteiras. Tinha mofo e um grave problema de infiltração", diz o engenheiro mecânico Aizic Bauman, 57, que frequenta o local desde criança.
CENTENÁRIO
A sinagoga fechou no ano passado para reforma e, no mesmo espaço, está sendo construído o Memorial da Imigração Judaica.
"A ideia surgiu porque a sinagoga estava minguando, a colônia judaica no Bom Retiro diminuiu bastante. Ela é um marco na nossa imigração e é importante preservar sua história", afirma o rabino David Weitman, que integra o conselho consultivo do futuro memorial.
Entre documentos e objetos, o acervo já conta com mais de 500 itens. Todos vieram de doações das famílias judaicas de São Paulo.
A previsão é que a obra acabe em 2014, mas ainda faltam recursos. "Famílias que frequentavam a sinagoga estão ajudando a financiar o projeto, mas esperamos conseguir apoio das secretarias de cultura", conta o rabino.
A sinagoga Comunidade Israelita está comemorando 100 anos e, para marcar a data, um evento duplo: hoje, às 19h30, em frente à sinagoga, será realizada a festa do centenário e a cerimônia de colocação da Pedra Fundamental, que marca a construção do Memorial.

FRASES
"A ideia surgiu porque a sinagoga estava minguando, a colônia judaica no Bom Retiro diminuiu bastante"
"Ela é um marco na nossa imigração e é importante preservar sua história"
DAVID WEITMAN
rabino que integra o conselho consultivo do futuro memorial
"Muitos judeus adquiriram status melhor e acabaram deixando o bairro"
"No meu prédio quase não tinha mais judeu"
FRANCISCO KIRCHENCHTEYN, 74
advogado, explicando os motivos que o levaram a sair do Bom Retiro

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