O Brasil é um êxito, não foi?
Está ocorrendo um fenômeno viral para dizer que o país, agora, está longe de ser a bola da vez
Sinal inequívoco da incrível aceleração dos tempos que caracteriza a contemporaneidade: em apenas três anos, o Brasil passou de foguete que disparava rumo ao infinito a economia "moribunda", tudo nas páginas de uma mesma revista, a "Economist".Convém lembrar que a reportagem da "Economist" foi apenas a mais recente de uma série de análises em que o brilho da estrela Brasil aparece apagado ou se apagando. Quase dá para dizer que o país está sendo vítima de um "meme" (ou "mimi", em português), palavra que significa um fenômeno, sensação, rumor ou esquisitice que é passada adiante rapidamente.
É natural, nessa situação, que no Ministério da Fazenda se culpe a "turma da bufunfa" pela disseminação do "meme". É uma expressão criada por Paulo Nogueira Batista Júnior, representante do Brasil e de oito países latino-americanos no FMI, para designar o pessoal que vive de aplicações financeiras, os rentistas, em português mais castiço e menos fiel à realidade.
O economista Yoshiaki Nakano, que não é ligado ao governo, até deu números para a suspeita, em artigo para o "Valor Econômico": a taxa de juros caiu 5,25 pontos percentuais nos últimos 15 meses, o que significa que os rentistas deixaram de ganhar nessa proporção.
Como sou o inimigo número 1 das teorias conspiratórias, prefiro pensar em outras explicações.
A mais simples: houve exagero duplo da revista. Nem o Brasil era um foguete imparável em 2009 nem sua economia está morrendo agora.
Se fosse um foguete, não teria desacelerado no biênio 2011/12. Se estivesse à morte agora, não continuaria gerando emprego e renda, que, enfim, é o que importa para a maioria da população.
Além disso, uma economia de fato moribunda levaria a popularidade do governante de turno ao rés do chão, o oposto do que está ocorrendo com Dilma Rousseff.
Não quer dizer, como é óbvio, que a economia brasileira seja uma maravilha. Longe disso. Exceto em 2010, o crescimento tem sido "medíocre" nos últimos 20 anos, como lembrou ontem o professor Delfim Netto, em sua coluna para a Folha.
Para Delfim, o baixo crescimento "tem mais a ver com uma redução dos investimentos gerada por uma desconfiança exagerada entre o setor privado e o governo".
Só faltou Delfim explicitar as razões para a desconfiança. Afinal, o setor privado foi tão bem tratado desde pelo menos o governo Lula que o então presidente usava seu folclórico bordão para dizer que "nunca antes o empresariado lucrara tanto" como o fazia com ele.
Tão bem tratado que o presidente da CUT, Vagner Freitas, reclama isonomia, ao dizer que "a classe trabalhadora não recebe do governo o mesmo tratamento dado aos empresários". Freitas lembra que a pauta dos assalariados "ainda não foi levada em consideração pelo governo", mas, do outro lado, 41 setores da economia foram beneficiados com medidas de estímulo desde o início da crise internacional.
Será essa desconfiança, que não se explica pelos fatos, a responsável pela derrubada da estrela Brasil?
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