Walter Sebastião
Estado de Minas: 26/01/2013
Remadores e barcos encalhados em ilhas de lixo. Paredes de labirinto construídas com vidros de alimento com data vencida. Gigantescas garrafas pet flutuando no rio. Assim são as obras do paulista Eduardo Srur, de 38 anos, reunidas no livro Manual de intervenção urbana (Editora Bei).
Diário de bordo, a publicação tem dois objetivos: registrar o que o artista criou nos últimos 16 anos e mostrar o que ele chama de “ bastidores da intervenção urbana”, com detalhes da execução dos projetos e erros ocorridos durante o processo. Vários obstáculos tiveram de ser superados para colocar diante do cidadão trabalhos que o fazem pensar sobre o mundo.
“O manual e a cidade são para o uso de qualquer um”, escreve Eduardo Srur na introdução de seu livro. Paulista e formado em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), ele começou sua carreira em 1996, dedicando-se à pintura. “O ateliê ficou pequeno e, aos poucos, comecei a enxergar a cidade com o olhar de artista e pintor”, revela.
Uma pintura com fragmentos de céu levou à instalação de barracas de camping na área externa do prédio onde Srur morava – até hoje o estúdio dele funciona lá. A obra se chamava Acampamento de anjos. “Os vizinhos, que já me achavam louco, imaginaram que estava ficando ainda mais doido”, conta o artista. “Para mim, hoje em dia, é como a cidade fosse a tela em branco”, afirma, sinalizando que a matriz de seu trabalho é o pictórico.
Eduardo se propõe a fazer arte em contexto mais amplo, sem que isso signifique protesto contra galerias e museus. “Lido com problemas urbanos: rios poluídos, monumentos abandonados, construções inacabadas, paisagens saturadas em que os excessos – para menos ou para mais – explodem”, resume. Há dimensão lúdica nas intervenções – aspecto que já foi mais presente, segundo ele. Humor e ironia são fundamentais para esse paulista. “E também para trabalhar o sistema social, pois sem isso as obras ficam pesadas”, ressalta.
Srur define seu trabalho como “resposta do cidadão que cansou de ficar passivo diante dos problemas que vê à sua volta”. E avisa: “Acredito em mudanças no comportamento e no olhar”.
Atraído pelo alcance da intervenção urbana, ele quer se aproximar do público. “Ativo a reflexão e o apuro do olhar das pessoas. É a democratização da arte”, resume Eduardo Srur. O artista explica que se trata de linguagem recente, “muito encaixotada” no espaço das artes visuais.
“À medida que atravessamos a última fronteira – o circuito asséptico de arte e dos negócios –, tomamos para o artista algo que, por direito, lhe pertence: o espaço público”, observa Srur, enfatizando um problema concreto no Brasil: a existência de poucas galerias de arte. “Tenho urgência de criar. Não vou ficar esperando que elas se multipliquem”, avisa.
Na opinião dele, a intervenção urbana traz contribuição decisiva ao mundo cultural. “O público ainda entende pouco o que vê, muito por culpa da própria arte. Intervenção urbana educa, prepara o olhar para questões trabalhadas pela arte contemporânea”, diz Eduardo. “O artista brasileiro deve desempenhar também o papel de agente de formação”, conclui.
Saiba mais
BH pioneira
A intervenção urbana é atividade recente. Na BH dos anos 1970, essa linguagem ganhou praticamente um manifesto: a exposição Do corpo à terra, com curadoria do crítico Frederico Morais. Pode-se dizer que grande número de artistas (não só aqueles ligados às artes visuais) já realizou pelo menos uma ação dessa natureza. Curiosamente, é rara a bibliografia sobre o tema. Em português, até agora havia apenas um livro: Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos: ações poéticas do Poro (Radical Livros). O volume reúne trabalhos e reflexões do grupo Poro, formado por Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada. Coletânea de ensaios sobre arte de rua pode ser encontrada no quarto número da revista Arte das Américas, editada em BH.
MANUAL DE INTERVENÇÃO URBANA
De Eduardo Srur
Bei
256 páginas, R$ 80
Diário de bordo, a publicação tem dois objetivos: registrar o que o artista criou nos últimos 16 anos e mostrar o que ele chama de “ bastidores da intervenção urbana”, com detalhes da execução dos projetos e erros ocorridos durante o processo. Vários obstáculos tiveram de ser superados para colocar diante do cidadão trabalhos que o fazem pensar sobre o mundo.
“O manual e a cidade são para o uso de qualquer um”, escreve Eduardo Srur na introdução de seu livro. Paulista e formado em artes plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), ele começou sua carreira em 1996, dedicando-se à pintura. “O ateliê ficou pequeno e, aos poucos, comecei a enxergar a cidade com o olhar de artista e pintor”, revela.
Uma pintura com fragmentos de céu levou à instalação de barracas de camping na área externa do prédio onde Srur morava – até hoje o estúdio dele funciona lá. A obra se chamava Acampamento de anjos. “Os vizinhos, que já me achavam louco, imaginaram que estava ficando ainda mais doido”, conta o artista. “Para mim, hoje em dia, é como a cidade fosse a tela em branco”, afirma, sinalizando que a matriz de seu trabalho é o pictórico.
Eduardo se propõe a fazer arte em contexto mais amplo, sem que isso signifique protesto contra galerias e museus. “Lido com problemas urbanos: rios poluídos, monumentos abandonados, construções inacabadas, paisagens saturadas em que os excessos – para menos ou para mais – explodem”, resume. Há dimensão lúdica nas intervenções – aspecto que já foi mais presente, segundo ele. Humor e ironia são fundamentais para esse paulista. “E também para trabalhar o sistema social, pois sem isso as obras ficam pesadas”, ressalta.
Srur define seu trabalho como “resposta do cidadão que cansou de ficar passivo diante dos problemas que vê à sua volta”. E avisa: “Acredito em mudanças no comportamento e no olhar”.
Atraído pelo alcance da intervenção urbana, ele quer se aproximar do público. “Ativo a reflexão e o apuro do olhar das pessoas. É a democratização da arte”, resume Eduardo Srur. O artista explica que se trata de linguagem recente, “muito encaixotada” no espaço das artes visuais.
“À medida que atravessamos a última fronteira – o circuito asséptico de arte e dos negócios –, tomamos para o artista algo que, por direito, lhe pertence: o espaço público”, observa Srur, enfatizando um problema concreto no Brasil: a existência de poucas galerias de arte. “Tenho urgência de criar. Não vou ficar esperando que elas se multipliquem”, avisa.
Na opinião dele, a intervenção urbana traz contribuição decisiva ao mundo cultural. “O público ainda entende pouco o que vê, muito por culpa da própria arte. Intervenção urbana educa, prepara o olhar para questões trabalhadas pela arte contemporânea”, diz Eduardo. “O artista brasileiro deve desempenhar também o papel de agente de formação”, conclui.
Saiba mais
BH pioneira
A intervenção urbana é atividade recente. Na BH dos anos 1970, essa linguagem ganhou praticamente um manifesto: a exposição Do corpo à terra, com curadoria do crítico Frederico Morais. Pode-se dizer que grande número de artistas (não só aqueles ligados às artes visuais) já realizou pelo menos uma ação dessa natureza. Curiosamente, é rara a bibliografia sobre o tema. Em português, até agora havia apenas um livro: Intervalo, respiro, pequenos deslocamentos: ações poéticas do Poro (Radical Livros). O volume reúne trabalhos e reflexões do grupo Poro, formado por Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada. Coletânea de ensaios sobre arte de rua pode ser encontrada no quarto número da revista Arte das Américas, editada em BH.
MANUAL DE INTERVENÇÃO URBANA
De Eduardo Srur
Bei
256 páginas, R$ 80
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