ANÁLISE FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL
Para Davos, Brasil perde o brilho e Brics se reduzem ao 'C', de China
Já estão na fila os países emergentes candidatos a tomar o lugar da 'Velha Guarda'; entre eles, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Turquia
"A China joga em um campeonato próprio", comentou, por exemplo, John Defterios, editor de Mercados Emergentes da CNN, em debate ontem sobre tais mercados.
O programa irá ao ar amanhã e dirá que "a narrativa sobre a ascensão inevitável e impressionante dos Brics" que marcou Davos nos últimos anos agora está sendo substituída por uma avaliação "mais nuançada".
O que é explicável: o crescimento desses países deixou de ser luminoso. Mesmo o da China, na imponente altura dos 7,8%, é o menor desde 1999, ou seja, desde antes de o Goldman Sachs inventar a sigla, em 2001.
O Brasil é um caso particular de desapontamento: pelas contas do FMI (Fundo Monetário Internacional), cresceu no ano passado apenas 1%, menos da metade do desempenho da África do Sul (2,3%), o segundo pior resultado do grupo.
Como se fosse pouco, a fila anda: já estão na pista os chamados "Próximos 11", países emergentes candidatos a tomar o lugar do que Defterios chamou de "velha guarda". Entre eles, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Turquia.
De certa forma, o México já atropelou o Brasil como o novo queridinho dos mercados, pelo menos no âmbito latino-americano, até porque cresceu quase quatro vezes mais que o Brasil.
A Nigéria, segundo o presidente de seu banco central, Sanusi Lamido Sanusi, prepara-se para dar um salto para um crescimento de dois dígitos. Para isso, precisa "reexaminar sua relação com a China", de forma a produzir valor agregado na própria África para vender para o país asiático, em vez de simplesmente exportar commodities.
DESAFIO À LÓGICA
É significativo que Carlos Ghosn, o marroquino-brasileiro que preside a Renault-Nissan, tenha cobrado "o desafio à lógica" que representa o fato de o Brasil exportar minério de ferro para a Coreia do Sul, por exemplo, e importar produtos acabados. Ou seja, não produz o valor agregado que a "nova guarda" coloca na agenda.
Já o Brasil não tem ambições tão grandes, ao menos a julgar pelo que disse o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, no debate de ontem. Limitou-se a relatar as medidas já anunciadas pelo governo para aumentar a produtividade, via redução do custo da energia e dos impostos sobre a folha de pagamento.
De todo modo, Tombini reafirmou para a plateia global da CNN, de que Davos é um ótimo condensado, que o Brasil retomará um nível mais robusto de crescimento (3% neste ano).
É justo dizer, de todo modo, que Tombini tem um ponto: o magro crescimento de 2012 não impediu o país de criar 1 milhão de empregos e de viver uma situação de virtual pleno emprego.
São esses diferentes números (baixo crescimento/alto emprego) que criam um cenário em que a popularidade da presidente é elevadíssima internamente, mas a imagem do país, externamente, já não tem o brilho de dois anos atrás.
Para presidente da Renault, país tem taxas demais
MARIA CRISTINA FRIASENVIADA ESPECIAL A DAVOSCarlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, criticou a excessiva tributação no Brasil, em debate no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça), que teve a participação de Alexandre Tombini, presidente do BC."Vemos taxas demais em alguns produtos no Brasil. O risco do Brasil é não conseguir reduzir taxas enquanto o país se desenvolve, não encorajar a competitividade nem remover obstáculos para reforçá-la", disse.
Ghosn lembrou, na frente do presidente do BC, que, quando há redução do IPI sobre os carros, a venda de veículos cresce.
"O consumidor está pedindo isso. Está dizendo: 'Se a taxa tributária cai, [eu compro]'", dizia o presidente da montadora quando foi interrompido por Tombini. "Temos que fazer isso de forma sustentável ao longo do tempo."
O presidente do BC ouviu do moderador do debate questões sobre a expansão fraca do país e o intervencionismo da presidente Dilma, "que prejudicaria o crescimento do setor privado, que clama por melhor infraestrutura".
"O crescimento virá neste ano, já está vindo", disse Tombini. "Tive reuniões com investidores em várias áreas, financeiras, de seguros, do setor produtivo, e o que se vê é muito interesse em investir no país."
Ghosn também espera crescimento "muito melhor" no país neste ano. Questionado sobre as ferramentas para combater a desaceleração, o presidente do BC afirmou que o desaquecimento da economia era necessário.
"Estávamos indo muito rápido em 2010, acima do nosso potencial. Neste ano, o mercado espera crescimento do PIB de 3%, que é factível."
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