COMÉRCIO DE MEDICAMENTOS » 'Indústria da felicidade' fatura alto
Avanço na venda de antidepressivos e ansiolíticos ultrapassa 42 milhões de caixas e põe o país na liderança mundial. É como se um a cada cinco brasileiros tomasse esses remédios
Marinella Castro e Geórgea Choucair
Estado de Minas: 26/01/2013
“Tenho depressão e não tenho preconceito com medicamentos. Gosto mais de mim com o remédio. Aprendi que, com ele, não deixo de ser eu mesma. Passo a ser quem eu sou.” Assim, Letícia, psicóloga e professora, de 34 anos, define sua relação com os antidepressivos, mercado que não para de crescer e só no ano passado movimentou R$ 1,85 bilhão, junto com os estabilizadores de humor. A alta é de 16,29% em relação a 2011, quando movimentou R$ 1,59 bilhão.
Os dados fazem parte de levantamento feito para o Estado de Minas pelo IMS Health, instituto de pesquisa que faz auditoria para o mercado de medicamentos. Foram 42,33 milhões de caixas vendidas em 2012 dos remédios que ajudam a amenizar desde depressão até a insônia de quem não consegue relaxar, tamanho o estresse do dia – alta de 8,72% em relação a 2011, quando foram vendidas 38,94 milhões de caixas. É como se um a cada cinco brasileiros consumisse uma caixa de antidepressivo ou estabilizador de humor por ano.
Com preços que podem ir de R$ 8 a mais de R$ 200, a venda de antidepressivos e ansiolíticos coloca o Brasil na liderança mundial. Medicamentos como o clonazepam, princípio ativo do ansiolítico Rivotril, estão entre os mais vendidos do país, à frente até mesmo de pílulas anticoncepcionais e analgésicos. Depois de investir bilhões de dólares, a indústria farmacêutica, para muitos, desvendou a química da felicidade. No país, o faturamento com a comercialização desses medicamentos cresceu mais de 200% nos últimos seis anos. Os números são favoráveis para a indústria, entretanto desafiam especialistas em saúde.
ASSÉDIO “Há uma simplificação do tratamento. Muita gente acaba reduzindo-o ao consumo de remédio, o que muitas vezes provoca distorção”, afirma Maurício Leão de Rezende, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP) e diretor-secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “O consumo de antidepressivo tanto na rede privada quanto na pública é em função da irracionalidade da prescrição. Além disso, a investida da indústria farmacêutica continua acirrada”, completa Rilke Novato Públio, vice-presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar).
Para efeito de comparação, neste ano, 900 mil turistas devem espantar a tristeza em quatro dias de carnaval no Rio de Janeiro – para o mundo, símbolo da alegria brasileira. A estimativa é de que eles gastem R$ 665 milhões, ou seja, menos da metade do valor desembolsado para a pílula da felicidade em 2012.
Há oito anos em tratamento, Letícia está em ótima fase. Encontrou o medicamento certo, que tem como princípio ativo a bupropiona. Com despesa de R$ 150 ao mês, ela conta que conseguiu controlar o que é mais que uma tristeza, “uma ausência de sentimentos”. Como o remédio é uma droga moderna, ainda não está disponível para distribuição gratuita. O custo/benefício vale a pena. “No início, já tive resistência, mas agora não, o remédio me ajudou a me encontrar”, revela.
Em 2007, a geóloga Luiza de Barros iniciou um tratamento para vencer a depressão e a ansiedade. Ela diz que a despesa com dois remédios, bupropiona associada ao cloridrato de venlafaxina, soma R$ 200 no seu orçamento mensal. O peso é considerável, mas o custo/benefício compensa, já que medicação mais barata não mostrou os mesmos resultados. “Sempre busquei tratamento com especialistas na área. Hoje me sinto melhor, e bem mais tranquila”, diz.
SOBRE OS OMBROS O aquecimento da construção civil fez crescer a demanda para muitos profissionais da área, mas junto com o pacote avança também o estresse. Com a pressão de alguns prédios sobre os ombros, o engenheiro Antônio João, de 42 anos, foi parar no médico com dor no estômago, insônia e pesadelos. A receita para tamanha ansiedade foi o ansiolítico lorazepan, prescrito pelo clínico. Depois do remédio, os problemas não resistiram ao sono, e dormir ficou mais fácil. “O tratamento durou dois meses, mas por conta própria substituí o remédio por um esporte, mudei a alimentação e passei a olhar para os problemas de outra forma. O desembolso não era alto, cerca de R$ 20 ao mês. Meu medo era de viciar no remédio.”
Os dados fazem parte de levantamento feito para o Estado de Minas pelo IMS Health, instituto de pesquisa que faz auditoria para o mercado de medicamentos. Foram 42,33 milhões de caixas vendidas em 2012 dos remédios que ajudam a amenizar desde depressão até a insônia de quem não consegue relaxar, tamanho o estresse do dia – alta de 8,72% em relação a 2011, quando foram vendidas 38,94 milhões de caixas. É como se um a cada cinco brasileiros consumisse uma caixa de antidepressivo ou estabilizador de humor por ano.
Com preços que podem ir de R$ 8 a mais de R$ 200, a venda de antidepressivos e ansiolíticos coloca o Brasil na liderança mundial. Medicamentos como o clonazepam, princípio ativo do ansiolítico Rivotril, estão entre os mais vendidos do país, à frente até mesmo de pílulas anticoncepcionais e analgésicos. Depois de investir bilhões de dólares, a indústria farmacêutica, para muitos, desvendou a química da felicidade. No país, o faturamento com a comercialização desses medicamentos cresceu mais de 200% nos últimos seis anos. Os números são favoráveis para a indústria, entretanto desafiam especialistas em saúde.
ASSÉDIO “Há uma simplificação do tratamento. Muita gente acaba reduzindo-o ao consumo de remédio, o que muitas vezes provoca distorção”, afirma Maurício Leão de Rezende, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP) e diretor-secretário da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). “O consumo de antidepressivo tanto na rede privada quanto na pública é em função da irracionalidade da prescrição. Além disso, a investida da indústria farmacêutica continua acirrada”, completa Rilke Novato Públio, vice-presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar).
Para efeito de comparação, neste ano, 900 mil turistas devem espantar a tristeza em quatro dias de carnaval no Rio de Janeiro – para o mundo, símbolo da alegria brasileira. A estimativa é de que eles gastem R$ 665 milhões, ou seja, menos da metade do valor desembolsado para a pílula da felicidade em 2012.
Há oito anos em tratamento, Letícia está em ótima fase. Encontrou o medicamento certo, que tem como princípio ativo a bupropiona. Com despesa de R$ 150 ao mês, ela conta que conseguiu controlar o que é mais que uma tristeza, “uma ausência de sentimentos”. Como o remédio é uma droga moderna, ainda não está disponível para distribuição gratuita. O custo/benefício vale a pena. “No início, já tive resistência, mas agora não, o remédio me ajudou a me encontrar”, revela.
Em 2007, a geóloga Luiza de Barros iniciou um tratamento para vencer a depressão e a ansiedade. Ela diz que a despesa com dois remédios, bupropiona associada ao cloridrato de venlafaxina, soma R$ 200 no seu orçamento mensal. O peso é considerável, mas o custo/benefício compensa, já que medicação mais barata não mostrou os mesmos resultados. “Sempre busquei tratamento com especialistas na área. Hoje me sinto melhor, e bem mais tranquila”, diz.
SOBRE OS OMBROS O aquecimento da construção civil fez crescer a demanda para muitos profissionais da área, mas junto com o pacote avança também o estresse. Com a pressão de alguns prédios sobre os ombros, o engenheiro Antônio João, de 42 anos, foi parar no médico com dor no estômago, insônia e pesadelos. A receita para tamanha ansiedade foi o ansiolítico lorazepan, prescrito pelo clínico. Depois do remédio, os problemas não resistiram ao sono, e dormir ficou mais fácil. “O tratamento durou dois meses, mas por conta própria substituí o remédio por um esporte, mudei a alimentação e passei a olhar para os problemas de outra forma. O desembolso não era alto, cerca de R$ 20 ao mês. Meu medo era de viciar no remédio.”
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