Compreensão do futuro
Mesmo que o governo não tenha propensão a reformas corajosas, a China está sempre se transformando
Os asiáticos do leste, de uma maneira geral, estão sempre mais propensos a pensar no futuro do que a revisitar o passado.
Há exceções: os japoneses não se enquadram exatamente nesse perfil. Mianmar, até há pouco, valorizou deliberadamente o atraso. Mas a regra geral é olhar adiante e antecipar o que for possível.
Vale para os grandes temas e para o dia a dia. Os chineses, por exemplo, costumam chegar antes da hora aos compromissos. Estão sempre buscando negócios para fazer dinheiro rapidamente. Quando revelam a idade, acrescentam um ano ao tempo real de vida. A tradição é mudar de idade na virada do calendário lunar, não no aniversário.
A fixação no futuro explica os trens-bala, a ousadia arquitetônica, a falta de cerimônia ao derrubar construções ou mudá-las de lugar, levantando-as pelos alicerces e as movendo por inteiro, para encaixá-las no desenho urbano moderno.
Facilita também entender a lógica de certas políticas: a da previdência social, sobretudo. Na China, as mulheres aposentam-se aos 55 anos, os homens aos 60.
O Estado deve focar sua atenção nas novas gerações. Os idosos são principalmente responsabilidade dos jovens. A tal ponto que vários governos locais mantêm programas de auxílio financeiro regular para quem perdeu o seu filho único. Estima-se que haja dez milhões de famílias nessa situação.
Na administração pública, prefeitos aposentam-se aos 60 anos, líderes provinciais aos 65, sendo que vice-líderes não podem ascender se tiverem mais que 60.
O Partido Comunista, no entanto, no último Congresso, contornou a sua própria inclinação. Dos sete novos membros do Comitê Permanente, a mais alta instância decisória, se excluirmos os dois primeiros, Xi Jinping e Li Keqiang, que têm 60 e 58 anos respectivamente, a idade média é 66,6 anos.
Talvez muitos se indaguem: que compreensão do futuro terá o governo que se inicia em março?
Um fato é seguro: fora Xi e Li, os demais membros do Comitê permanecerão por, no máximo, cinco anos. Ou seja, o peso dos dois mais jovens, que ficarão por uma década, será mesmo grande.
Outro fato: mesmo que o Comitê não tenha propensão a promover reformas corajosas, a China está sempre se transformando.
Os dados de 2012, divulgados nos últimos cinco dias, parecem sinalizar novas tendências: crescimento menos vigoroso do PIB (7,8%), setor industrial crescendo menos do que em anos anteriores (8,1%), queda de 4% do investimento direto externo -reflexo de custos de produção mais elevados-, aumento expressivo dos investimentos chineses no exterior (28%), maior peso do consumo interno no PIB (51%), redução, pela primeira vez, da população em idade de trabalho.
Ou seja: é possível que o futuro também se tenha antecipado e, por si só, force a liderança a inovar.
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