GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
O sertão do Ceará já foi rio e, 130 milhões de anos atrás, tinha até tubarão.
Um grupo de paleontólogos brasileiros acaba de anunciar uma nova espécie de tubarão de água doce que habitou a região. E as surpresas não param por aí: eles já têm vestígios de outras espécies ainda não catalogadas, que vão desde inofensivos peixes até ferozes crocodilos.
"Começamos a trabalhar em algumas bacias ainda pouco exploradas do Ceará e foi assim que descobrimos a espécie. Nesses locais, há um grande potencial para encontrarmos muita coisa relevante", diz Felipe Pinheiro, do Laboratório de Paleontologia e Vertebrados da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e um dos autores do trabalho.
Editoria de Arte/Folhapress |
O novo tubarão foi encontrado na bacia de Lima Santos, que fica cerca de 100 km ao norte da região do Araripe --principal sítio arqueológico da região e famoso mundialmente pela qualidade dos fósseis--, onde também foram encontrados sinais da sua presença.
O tamanho do bicho é estimado em menos de um metro. "À primeira vista, pelo olhar de um leigo, ele seria parecido com um tubarão dos dias de hoje. Mas esse tubarão era distinto em aspectos importantes, como o posicionamento da boca", completa o paleontólogo.
A descrição da espécie, publicada nesta semana na revista especializada "Cretaceous Research", foi feita com base em dentes. Pode parecer pouco, mas os cientistas dizem que, com base nisso, já é possível saber muito.
"O corpo dos tubarões é essencialmente cartilaginoso. Então, em geral, o que nós encontramos fossilizados são os dentes. E por eles já é possível inferir tamanho e outras características."
O nome do tubarão,Planohybodus marki, é uma homenagem ao paleontólogo Mark Van Tomme, que ajudou o grupo no início das pesquisas. O cientista acabou sem ver o trabalho publicado. Ele não resistiu a uma leucemia e morreu no ano passado com apenas 30 anos.
A linhagem do P. marki já está extinta, mas isso não significa que sua descoberta seja de pouca relevância.
Embora esses animais sejam relativamente comuns em outras partes do mundo, eles são raros na América do Sul, com apenas duas espécies descritas para o Brasil.
O estudo desses tubarões, bem como do resto da fauna e da flora que lhe foi contemporânea, é de grande relevância para compreender a separação entre a América do Sul e a África, que já estava acontecendo nessa época.
"[A descoberta dessa espécie] é mais uma peça no quebra-cabeças que ajuda a explicar como animais tão bem-sucedidos foram, aos poucos, sendo substituídos pelos tubarões atuais", afirma o paleontólogo.
Camarão fóssil é descoberto no sul do Estado
DE SÃO PAULOOutra descoberta de fóssil no Ceará foi anunciada neste mês: uma nova espécie de camarão, achada também no sul do Estado, foi relatada por cientistas.A descoberta ocorreu numa região de rochas conhecida como Formação Romualdo, surgida há 110 milhões de anos.
Esta é a primeira vez que um fóssil deste tipo de invertebrado é encontrado em concreções calcárias, também conhecidas como "pedras de peixe".
Segundo um dos pesquisadores envolvidos, Alamo Saraiva, da Universidade Regional do Cariri, a descoberta ajuda a comprovar que a bacia do Araripe, que hoje é uma região de sertão, já teve a presença de mar no passado, ou pelo menos possuía lagoas com certo nível de salinidade.
A espécie foi batizada de Kellnerius jamacaruensis e pertence a família Caridea, que está na linha evolutiva dos camarões atuais criados em fazendas.
O nome é uma homenagem a Alexander Kellner, pesquisador que ajudou a estabelecer um núcleo de paleontologia na região, e ao local onde ocorreu a descoberta.
O fóssil tem 1,8 cm de comprimento e foi encontrado após 11 dias de escavação numa profundidade de 9,5 metros.
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