Fama na lama
SÃO PAULO - Nas ruas enlameadas de Xerém (no Rio de Janeiro), onde se contavam até ontem 2.500 desabrigados e pelo menos uma pessoa morta, apareceu um Zeca Pagodinho diferente. Sem o copo de cerveja de sempre -quase um apêndice-, o sambista arrecadou roupas, doou cestas básicas e hospedou em sua própria casa uma família de flagelados. Tornou-se "trending topic" no Twitter:"Ele é muito humano", "É por isso que o Brasil o ama", "O sambista-herói de Xerém", e por aí vai.
"É que, no Brasil, celebridade é quem vai à ilha de 'Caras' posar em uma cama de massagem ao lado do banner do patrocinador", diz o publicitário Roberto Barros, há seis anos mantendo o blog Boa Causa (boacausa.wordpress.com). "Aqui, o famoso, quando muito, deita falação sobre Belo Monte, mas não se envolve publicamente com nada que não seja seu corpo e sua carreira."
No Boa Causa, descobre-se que Lady Gaga destacou-se em 2011 na luta contra o "bullying" e a propagação do HIV; que Brad Pitt leiloou um jantar em sua companhia para ajudar as vítimas do Katrina; que Justin Bieber arrecadou US$ 40.668 vendendo uma mecha de cabelos em prol da proteção dos animais. Que Scarlett Johansson assinou uma linha de escarpins para financiar pesquisas sobre câncer de ovários.
Quer bombar no hiperconcorrido mercado das "celebs" globais? Tem de saber: as boas ações fazem parte do show. E não é de agora. Lembre-se de Audrey Hepburn e Lady Di.
Seria injusto cobrar das celebridades locais aquilo que a maioria da população não dá. Mas não deixa de ser preocupante os marqueteiros dos artistas não estarem nem aí em que eles pelo menos pareçam solidários. No Twitter, um menino postou o comentário: "Quem diria que seria o cachaceiro quem nos lembraria da solidariedade?". A pergunta, penso, é outra: quem diria que ser solidário no Brasil seria assim solitário?
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