É importante que São Paulo se assuma como parte do Brasil
NOVO SECRETÁRIO DA CULTURA DA CIDADE DEFENDE ABERTURA A MANIFESTAÇÕES DE TODO O PAÍS, SE DIZ FAVORÁVEL A ORGANIZAÇÕES SOCIAIS E PLANEJA MUDAR VIRADA CULTURAL
Karime Xavier/Folhapress | |
O secretário Juca Ferreira em seu gabinete no centro de São Paulo |
MATHEUS MAGENTADE SÃO PAULOANNA VIRGINIA BALLOUSSIERDA COLUNA MÔNICA BERGAMOO baiano Juca Ferreira comemora triplo aniversário: fez 64 anos anteontem, um mês à frente da Secretaria da Cultura paulistana ontem e um ano de filiação ao PT hoje. "No dia de Iemanjá", diz.
O ex-ministro da Cultura (2008-2010) chega a São Paulo com a meta de garantir uma "identidade plural e complexa" à "cidade mais negra e nordestina do Brasil".
Cita coluna no site da Folha em que Gilberto Dimenstein discute a importação de "um baiano" para a pasta da Cultura. "Acho que foi brincadeira. A cidade já ultrapassou esse nível de provincianismo contra quem é de fora."
E defende uma abertura a novos segmentos culturais e à periferia. "Parte desta São Paulo do século 21 ou é proibida ou é criminalizada ou é invisível", explica.
Juca assume a pasta com um recorde negativo. Em 2013, terá menos de 1% do orçamento municipal de R$ 42 bilhões (cerca de R$ 370 milhões). A média histórica era de 1,3%.
Depois do MinC, Juca passou os últimos dois anos trabalhando na Espanha, com a mulher e o filho de dois anos, mas diz que já sentia ser a hora de voltar ao país.
Depois de um telefonema do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ex-colega na Esplanada, topou chefiar a pasta da cidade que "tem importância de ministério".
Seu primeiro programa será o lançamento, na próxima terça-feira, do movimento #existedialogoemsp. "Vi que, em torno da música do Criolo ["Não Existe Amor em SP"], há todo um sentimento de atualização da cidade."
Leia trechos da entrevista.
Folha - Como o sr. avalia a cena cultural de São Paulo?
Juca Ferreira - A cidade já tem a maior noite do mundo e uma cultura contemporânea que não deve a nenhuma cidade no mundo. Mas é preciso incluir e integrar a periferia e segmentos culturais importantes que ainda não têm reconhecimento do poder público.
Um artigo do colunista da Folha Gilberto Dimenstein discutiu a necessidade de São Paulo importar um baiano como secretário da Cultura.
Aquele artigo teve uma importância para mim porque gerou solidariedade. A cidade já ultrapassou esse nível de provincianismo contra quem é de fora. Só que tem de haver uma atualização da autoimagem de São Paulo. Ela não é monotemática. Pela sua complexidade, inevitavelmente terá de ter uma identidade plural e complexa. Acho que posso contribuir para o sentimento de que São Paulo faz parte do Brasil.
É a maior cidade nordestina do país. Numericamente, São Paulo é a cidade mais negra e mais nordestina do Brasil. Isso é algo que não pode ficar invisível.
E acho que a Virada Cultural tem que ter forró também. Falei com o [ex-ministro da Cultura Gilberto] Gil sobre a importância de São Paulo se assumir como parte do país.
Como ministro da Cultura, o sr. criticava a concentração de recursos da Lei Rouanet em São Paulo e no Rio. Há um conflito agora em pleitear mais recursos para São Paulo?
Isso é um equívoco. Nos oito anos em que eu e Gil fomos ministros, São Paulo teve mais recursos. Pulamos de um orçamento de R$ 287 milhões para R$ 2,3 bilhões em 2010. Então, sem concentrar em São Paulo e no Rio, fomos mais capazes de atender às demandas de São Paulo do que o modelo anterior: mesquinho, restrito e ilegítimo. São Paulo tem que trabalhar por recursos não em detrimento do Brasil, mas junto.
O sr. defende uma fatia mínima do orçamento para Cultura?
Sim. Um percentual mínimo para a cultura garante que o orçamento não seja pequeno. Por coincidência, este ano tem o menor percentual em muitos anos, menos de 1%. A média histórica é 1,3%. Se já era pouco, ficou pior. O prefeito Haddad dá importância à cultura e participarei ativamente da discussão do orçamento para 2014. Acho que 2% seria um percentual bom.
Integrantes do PT criticam o modelo de gestão indireta, via organizações sociais, e a criação de uma fundação para gerir o Theatro Municipal.
Toda instituição pública que tem corpo estável -e o nosso Theatro Municipal tem vários- não pode funcionar no regime da administração direta; senão é inviável.
Sou favorável a fundações de direito público [como a proposta pelo ex-secretário Carlos Augusto Calil]. E, em certas situações, sou favorável à combinação de gestão pública com organizações sociais. Contanto que fique garantida a predominância da administração pública.
O que será da Virada Cultural?
Será criada uma curadoria. Como novidade, teremos uma política de eventos para São Paulo, algo articulado, que não exija que tudo aconteça dentro da Virada. Teremos a Virada e outros eventos grandes, médios e pequenos distribuídos ao longo do ano e no território da cidade.
O Vale Cultura perdeu seu poder de compra. O que dá pra fazer com R$ 50 em SP?
Os R$ 50 dão para dois CDs, para um livro ou para um espetáculo... São Paulo é cara. Até hoje estou morando em hotel porque não consegui encontrar um apartamento.
Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1224252
FRASE
"Sou favorável à combinação de gestão pública e participação de organizações sociais. Contanto que fique garantida a predominância da administração pública [na gestão]"
JUCA FERREIRA
secretário municipal da Cultura de SP
JUCA FERREIRA
secretário municipal da Cultura de SP
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