Folha de são paulo
ANÁLISE
VERA MAGALHÃESEDITORA DO PAINELRenan Calheiros esperou até a undécima hora para lançar oficialmente sua candidatura à presidência do Senado. Ignorou discursos pedindo para desistir do posto.Manteve silêncio olímpico e sorriu diante dos [poucos] colegas que subiram ao plenário para condenar sua volta ao comando da Casa. No discurso depois de já eleito, ignorou a denúncia do Ministério Público Federal, esmiuçada pelo site da revista "Época" horas antes, e preferiu falar em transparência e modernização da Casa e fazer uma defesa inflamada da liberdade de imprensa.
Por quê? Simples: porque ele sabia desde sempre que seria eleito por uma margem consagradora de votos. E, de novo, por quê? Porque os que votaram nele protegidos pelo escrutínio secreto sabem dos favores que deviam ao alagoano, chamado de "Mandacaru" pelos colegas pela pele grossa e espinhenta.
O governador tucano Marconi Perillo explicitou o dilema ao se mudar para Brasília na última semana pedindo votos para Renan -seu desafeto na crise de 2007, mas que articulou a derrubada do relatório final da CPI do Cachoeira, que pedia o indiciamento de Perillo, no ano passado.
Assim como Perillo, senadores de PSDB, DEM e PSB, que em público se rebelaram contra a recondução de Renan, em privado foram confrontados com anotações em seu nome na caderneta dos favores. E deram ao "despachante" da Casa uma vitória consagradora, com mais votos que a eleição anterior.
O aval suprapartidário vai garantir a Renan fôlego para enfrentar as críticas até que o STF se pronuncie sobre a denúncia do procurador-geral, Roberto Gurgel. Atarefado com os embargos do mensalão e a pauta congestionada, o Supremo deve levar alguns meses para decidir se torna réu o terceiro nome na linha sucessória do país.
Quando isso ocorrer, nem a camaradagem evitará que o Senado viva nova crise institucional, com consequências também para a presidente Dilma Rousseff, que lavou as mãos na eleição de ontem.
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