folha de são paulo
Nascido pronto
RIO DE JANEIRO - Hoje, quando me dizem que o disco X, considerado clássico, está fazendo "aniversário" (de 20 ou de 30 anos), pergunto se é de gravação ou de lançamento. Na verdade, sei muito bem que é de lançamento -talvez o dia em que os primeiros exemplares saíram da prensa, ou que chegaram às lojas de Nova York ou do Rio. Pode ser tudo, menos o aniversário da gravação propriamente dita.Este, se existisse, deveria ser o dia em que o cantor "pôs voz" em cima das bases, não? Mas qual dia, se isso leva semanas ou meses? Ou aquele em que os "convidados" -e haja- também apuseram seus instrumentos ou vozes. Ou o dia em que o disco foi submetido às correções eletrônicas que fazem com que até os afônicos consigam gravar. Enfim, qualquer dessas datas pode ser, no futuro, a do "aniversário" do disco -basta a gravadora decretar.
Enquanto isso, nos próximos 18 e 19 de março, completar-se-ão incríveis 50 anos que João Gilberto e o saxofonista Stan Getz foram reunidos pelo produtor Creed Taylor no estúdio A&R, em Nova York, para gravar o LP que se chamaria "Getz / Gilberto". Ao piano, Tom Jobim, também autor dos arranjos; ao contrabaixo, Tião Neto, embora seu nome não apareça nos créditos; e, à bateria, Milton Banana. Astrud, mulher de João, também estava por ali, e sua participação, cantando "Garota de Ipanema" em inglês, faria do disco um estouro comercial.
Essas datas, 18 e 19 de março de 1963, não são simbólicas. As oito faixas do disco foram integralmente gravadas naqueles dois dias, com "takes" diretos e tão perfeitos que o engenheiro de gravação, Phil Ramone, não pediu repetecos. Por direto entenda-se: todos cantando e tocando juntos, para valer.
Parecia simples. Punha-se um grande cantor e grandes músicos no estúdio e, em dois dias, nascia pronto um dos maiores discos da história.
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