Demanda mineira pelas técnicas de 
extensão capilar cresceu 56% entre 2011 e 2012, acima da média do país 
(36%). Mercado aquecido provoca corrida pela formação de profissionais 
  
Geórgea Choucair
    Estado de Minas: 23/03/2013 
  
  
    
      A empresária 
Jussara Quintiliano está com a autoestima em alta e se sente mais 
bonita. Um dos motivos é o seu cabelo cacheado longo, volumoso e loiro. 
“Meu cabelo é o meu sucesso. Sem ele, eu não sou ninguém. É o meu 
cartão-postal. Quando entro em uma festa, ele sempre chama a atenção. 
Estou namorando um gringo, um colombiano que conquistei graças ao meu 
cabelo”, afirma. Mas as longas madeixas não vieram de graça. São fruto 
de um megahair que exige de Jussara um cuidado diário. 
Assim como
 Jussara, um batalhão de mulheres – e homens – estão em busca da técnica
 para melhorar o visual e a autoestima. Eles ajudam a engordar o mercado
 de beleza e cuidados pessoais, que deve movimentar neste ano US$ 50 
bilhões (R$ 100 bilhões) no país, com destaque para os gastos com 
cabelos, segundo levantamento da consultoria norte-americana AT Kearney.
 O segmento de beleza vem crescendo, em média, 10% ao ano, bem acima do 
Produto Interno Bruto (PIB). O valor do megahair em Belo Horizonte vai 
de R$ 400 (o pequeno liso) até R$ 15 mil (o chamado skin extension, em 
que as fitas de cabelo são preparadas com silicone). 
 A loja 
virtual Dona Chique é um dos destaques na importação e distribuição de 
megahair por todo o Brasil. O crescimento da procura do produto pelo 
público mineiro é o maior do país: 56% entre 2011 e 2012. No mesmo 
período, a demanda no país ficou 36% maior, segundo a sócia do site 
Tereza Cristina Brandt. “É um dos nossos principais clientes e a demanda
 vem crescendo muito”, diz. Ela vende dois modelos de megahair: com 51 e
 62 centímetros. O kit com 50 mechas custa, em média, R$ 100.
E 
foi-se o tempo em que colocar megahair era procedimento realizado em 
sala escondida nos fundos do salão e, depois, um segredo guardado a sete
 chaves pela cliente. O procedimento, adotado por diversos artistas e 
popularizado com a exposição das madeixas em novelas e programas de TV, 
atrai hoje não só o público feminino como também o masculino. E abre 
espaço para uma nova profissão: a “megahista”, profissional 
especializada em colocar megahair, que tem salário médio de R$ 3 mil a 
R$ 4 mil na capital. 
 “As mulheres estão perdendo o preconceito 
de usar. Antes, tinham vergonha. A desinformação era grande e o pessoal 
falava muito do uso de cabelo de defunto. De qualquer forma, eu ainda 
tenho uma salinha restrita no meu salão, para quem quer mais discrição”,
 diz Jane Babis, dona do JN Instituto de Beleza. Só no salão de Jane 
trabalham hoje seis megahistas, que fazem diariamente cerca de 12 
extensões. “Tem gente que chega sem um fio de cabelo e sai com ele 
cheio. Os homens, principalmente os carecas, começaram a aderir à 
prática”, afirma Jane. É o caso do auxiliar de produção Eduardo de 
Jesus, de 32 anos. Ele trocou a peruca por um megahair ondulado. “Eu sou
 calvo. A peruca, as pessoas notavam, o megahair não. Só tenho que fazer
 a manutenção mensal”, afirma.
E o megahair já dita tendência. 
Depois da ditadura das chapinhas e escovas progressivas, os cacheados 
estão em alta. “O cabelo cacheado não tinha valor, hoje tem. A mulher 
brasileira usou muita química no cabelo, fez escova progressiva e 
relaxamento. Com isso, o cabelo não volta a anelar. Entre as negras, por
 exemplo, é muito difícil ver uma com o cabelo natural”, observa Jane, 
que é especializada em cabelos afros. 
SALAS CHEIAS 
 Se a demanda pelo serviço é crescente, o mesmo acontece com a formação 
profissional. Nos cursos de estética, os alunos de megahair lotam as 
salas de aula. O salão Bronswick recebe hoje, em média, 120 alunos por 
mês nos cursos para megahistas, o dobro dos últimos dois anos. “As 
mulheres têm recorrido muito à técnica. “As pessoas com cabelo crespo 
querem liso e quem corta acaba se arrependendo. Eu mesmo tenho megahair.
 Se tirar, fico com aparência de bem mais velha”, diz Maria do Marmo Mol
 Cunha, dona do salão. 
Poliana Cristina Silva Nascimento decidiu 
ser megahista depois de colocar as madeixas extras. “Antes, meu cabelo 
era curto e só andava trançado. Agora ele está cheio e só fica solto. 
Minha autoestima melhorou, chamo mais atenção”, diz Poliana. Ela aplica 
de quatro a cinco megahairs por dia na clientela. “O cacheado voltou a 
ser o mais produrado. As novelas têm destacado muito o cabelo cacheado. 
As pessoas querem imitar. Elas já chegam falando que querem igual ao da 
Taís Araújo (atriz)”, afirma Poliana. 
BELEZA EM NÚMEROS
As vendas do mercado de beleza e cuidados pessoais devem movimentar cerca de US$ 50 bilhões (R$ 100 bilhões) neste ano 
Setor de cosméticos é o que mais cresce no mundo, mais de 10% ao ano
Há, hoje, 1,6 mil indústrias de cosméticos no país 
O Brasil é hoje o terceiro maior mercado de beleza do mundo, atrás dos Estados Unidos e do Japão
O megahair (a aplicação e o cabelo) custa de R$ 400 a R$ 10 mil
O megahista, em Belo Horizonte, tem salário médio entre R$ 3 mil e R$ 4 mil
Fonte: Consultoria AT Kearney e Abhipec  
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Há vários métodos 
de aplicação do megahair: com cabelo amarrado, queratina, silicone, nó 
americano, telinha, skin extension, tic-tac e próteses capilares. “Até 
os artistas estão perdendo o medo de colocar cabelo”, afirma o megahista
 Marcelo Rodrigues. Em alguns períodos do ano, como o fim do ano e o 
carnaval, o cabelo chega a faltar no mercado, segundo Rodrigues. Ele 
trabalha na Feira do Cabelo, empresa focada na comercialização dos fios.
 Na loja, o preço do grama do cabelo vai de R$ 1,58 (até 30 centímetros)
 até R$ 4,23 (acima de 80 centímetros). Na loja são vendidos cabelos 
indianos, europeus e brasileiros. Os mais caros costumam ser os 
nacionais. 
Apesar de a prática ter se disseminado, ainda há casos
 de usuários de megahair que preferem não ser identificados. “No salão, 
temos clientes que saem de cabelo amarrado, óculos escuro e boné. Outras
 não deixam o marido colocar a mão no cabelo”, diz Rodrigues. A 
instrutora de estética Grethiany Alves dá aulas de megahair há sete 
anos. “A cada semana aumenta o número de alunos. Temos gente do exterior
 e interior também. O megahair virou um acessório da mulher brasileira, 
assim como a bolsa”, diz. 
O recurso é conhecido como aplique ou 
simplesmente alongamento dos cabelos. O procedimento é feito com cabelos
 naturais, escolhidos de acordo com o tom de cabelo original do cliente.
 Os mais comuns costumam custar entre R$ 500 e R$ 2 mil na capital 
(aplicação e cabelos). Depois de colocado, o cliente precisa fazer 
manutenção de três em três meses. Para isso, o salão cobra taxas de R$ 
180 a R$ 350. “É como um vício. Depois que as pessoas colocam, não 
querem tirar. Eu mesma coloquei meu megahair com 13 anos. Depois, parei 
de estudar para me tornar megahista. Vale mais a pena, acho que consigo 
ganhar mais”, afirma Tayane Alice Rodrigues, megahista de 22 anos.
Mesmo
 com o orçamento apertado e o nível de endividamento mais elevado, os 
brasileiros não abrem mão da beleza, destaca o site da consultoria AT 
Kearney. A expectativa, inclusive, é de que o Brasil ultrapasse em breve
 o Japão e chegue à segunda colocação do ranking mundial de vaidade. 
(GC)
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