A novidade agora é Serra no jogo. Se
decidir mudar de partido, seu destino natural seria o PSD e não o PPS.
Isso explicaria a recusa de Kassab a entrar no governo Dilma
Estado de Minas: 24/03/2013
Na noite de
quarta-feira, 15 de março, em que o presidente do PSD, Gilberto Kassab,
jantou com a presidente Dilma Rousseff, acenou com apoio eleitoral em
2014, mas recusou a oferta de um ministério para seu partido, já estava
acertado, para dois dias depois, o encontro entre seu aliado histórico
José Serra e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato a
presidente pelo PSB. A recusa de Kassab, inicialmente, desconcertou até
sua própria bancada. “Onde já se viu isso?”, disseram aqueles que
entraram no PSD para ganhar o crachá da base governista. Nas fileiras
petistas, o senador Jorge Viana (AC) matou a charada antes mesmo de
saber do encontro Serra-Campos: “Isso é um indicativo de que Serra não
está fora do jogo”. Revelado o encontro, Viana foi além: “Agora as
pegadas de Serra ficaram bem claras. Não por acaso quem articulou o
encontro foi o ex-senador Jorge Bornhausen, hoje no PSD”.
Só para
recordar: foi Serra quem anabolizou a carreira do ex-corretor de
imóveis e ex-vereador pelo PFL/DEM, ao fazer dele seu vice na disputa em
que ganhou a Prefeitura de São Paulo, em 2004. Quando Serra deixou o
cargo para disputar o governo estadual, dois anos depois, Kassab
herdou-lhe o mandato. Em 2008, reelegeu-se para mais quatro anos. Antes
de deixar o cargo, lançou-se na empreitada, bem-sucedida, de criar o
PSD. Pescando em legendas diversas, formou uma bancada de mais de 50
deputados. Sua relação com Serra é o que se pode chamar de umbilical.
Jorge
Viana recorda que, em 2012, tudo se encaminhava para uma aliança
PT-PSD, em torno do hoje prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Mas
Serra acabou viabilizando sua candidatura pelo PSDB e Kassab recuou para
apoiá-lo. “Para mim, trata-se agora de movimento da mesma natureza”,
diz Viana.
Para formar a maioria e aprovar projetos no Congresso,
Dilma passa muito bem sem o PSD em sua larga base. Seu interesse no
partido sempre foi mais eleitoral, pensando em 2014. Embora em alguns
estados o PSD já tenha declarado a intenção de apoiá-la, agora o jogo
embolou. O fato novo nessa sucessão antecipada é a volta de Serra ao
jogo. Ou melhor, a constatação de que, ao contrário do que alguns
pensavam, especialmente no PSDB, ele nunca saiu do jogo para 2014. Um
dos traços marcantes de sua complexa personalidade é a obstinação. Se
estiver decidido a concorrer pela terceira vez à Presidência, enfrentará
todos os obstáculos. Se for preciso deixar o PSDB, o PSD, de Kassab, e
não o PPS, de Roberto Freire (SP), é a legenda em que ele ficaria mais
confortável. Na conversa de segunda-feira passada com o senador Aécio
Neves (PSDB-MG), Serra não mencionou o encontro que tivera, na
sexta-feira anterior, com Eduardo Campos. Não reivindicou a presidência
do partido nem candidatura ao Senado nem nada. Apenas se queixou muito e
de muitos no partido. Atitude de quem pretende estar no jogo, seja
disputando a indicação com Aécio – o que é complicado, diante do amplo
apoio partidário ao senador mineiro e do engajamento decidido do
ex-presidente Fernando Henrique –, seja ingressando em outro partido que
lhe garanta a candidatura. O PSD é seu mais provável plano B.
E
com Eduardo Campos, qual é o jogo? Especulou-se sobre uma possível chapa
composta pelos dois, mas quem conhece Serra sabe que ele dificilmente
aceitaria o papel de vice. E o inverso carece de sentido. Quando Lula
cogitou a hipótese de Campos substituir Michel Temer como vice de Dilma,
deixando o PMDB em polvorosa, o governador mandou dizer que não estava
disponível para o papel.
Vazado seu encontro com Serra, eles
trocaram os elogios públicos de praxe. Serra disse que a candidatura do
pernambucano “é boa para o Brasil, é boa para a política”. Campos
afirmou que tem com Serra muito mais afinidade do que com algumas
pessoas da base governista. Suas declarações estão perdendo gradualmente
a suavidade, atiçando os petistas que defendem a ruptura imediata.
Jorge Viana, muito próximo de Lula e Dilma, verbaliza outra estratégia, a
de evitar um rompimento áspero. “Devemos receber com naturalidade a
candidatura de Eduardo. Quando um governo é tão forte como o da
presidente e a oposição muito débil, candidaturas alternativas acabam
surgindo na própria base. Mas as afinidades devem ser mantidas para que o
reencontro seja possível.” Faltou dizer, num eventual segundo turno.
Serra
viajou ontem para os Estados Unidos, onde passará 15 dias em
compromissos acadêmicos. E com isso não participará, amanhã, do encontro
de Aécio com uma plenária de dirigentes e militantes do PSDB paulista,
ao lado do governador Alckmin. Na sexta-feira, o instituto Datafolha
divulgou pesquisa de intenção de voto para presidente apontando grande
favoritismo de Dilma (58%) em relação a Marina (16%), Aécio (10%) e
Campos (6%). Pelo andar da carruagem, o nome de Serra ainda pode entrar
na cartela dos pesquisadores.
Desenho/Desejo
Eduardo
Campos teve também recentemente um encontro com o presidente do PPS,
Roberto Freire, pernambucano que hoje é deputado por São Paulo. Já
tiveram arestas, agora aparadas. O embrião de sua coligação eleitoral
vai tomando forma. O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) elocubra:
“Vislumbro uma aliança composta por PSB, PPS e PDT”. E talvez pelo PTB e
o PSD, acrescenta. Na convenção de sexta-feira, o PDT deu sinais de
que, apesar da troca de ministros, ainda não amarrou o cavalo no
obelisco de Dilma.
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