Querem fritar o embaixador
Exposta, a gestão da EBX para tungar o estaleiro capixaba virou um simples 'ruído de comunicação'
Deve-se ao repórter Leandro Loyola a demonstração de que a gestão para que a empresa Jurong transferisse seu estaleiro do Espírito Santo para o porto do Açu, no Estado do Rio, não partiu da cabeça do embaixador do Brasil em Cingapura, Luis Fernando Serra, um diplomata com 40 anos de serviço.
A ideia de que o embaixador tivesse tomado essa iniciativa era meio girafa. Felizmente, de acordo com as normas do Itamaraty, ele estava documentado. Um mês antes da denúncia da maracutaia pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e pelo senador Ricardo Ferraço, o diplomata recebeu um e-mail e um telefonema do doutor Amaury Pires, diretor de Relações Institucionais da EBX de Eike Batista, para intermediar um encontro da empresa cingapurense com "um ministro" brasileiro, em Brasília.
Não deu outra: dois dias depois o ministro de Desenvolvimento, Fernando Pimentel, telefonou-lhe e, de acordo com a praxe, mandou-lhe um ofício solicitando seus "bons ofícios" para marcar o encontro.
No dia 6 de fevereiro, Amaury Pires explicitou num telefonema o interesse pela transferência do estaleiro. Ela convém à sua empresa, pois transfere encomendas e absorve um concorrente. Ferra o Espírito Santo, que perde um investimento de até R$ 500 milhões, capaz de gerar 5.000 empregos, mas quem manda não ter padrinhos?
O doutor Pires é um novato na EBX. Em 2010 e 2011, graças ao notável deputado Valdemar Costa Neto, foi diretor do Fundo da Marinha Mercante, que emprestou às empresas do grupo X R$ 1,5 bilhão dos R$ 7 bilhões que tem em suas arcas. Já o ministro Pimentel encrencou-se ao receber uma Bolsa Consultoria de R$ 1 milhão da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais.
Pimentel nega que tenha tratado da transferência do estaleiro para incorporá-lo, total ou parcialmente, ao porto do Açu. Segundo ele, discutiu apenas investimentos da empresa de Cingapura. Fica combinado assim, até porque a operação parece ter ido a pique. Um diretor da EBX estava na comitiva da Jurong durante a audiência com ele.
O embaixador fez o que devia. Atendeu a uma solicitação de uma empresa, respaldada formalmente por um ministro. Quando deu bolo, viu-se jogado às feras, como se estivesse traficando interesses. Exposto, o episódio virou um "ruído de comunicação". O ruído estava acima dele, muito acima.
Quando ruídos de outras orquestras acabam em CPI, o comissariado diz que caixa dois é apenas crime eleitoral.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e leu a bula da doutora Dilma (hospedada no hotel Excelsior de Roma) diante da morte de 16 pessoas nos desabamentos de Petrópolis:
"A nossa prevenção hoje avisa as pessoas. Acho que deverão ser tomadas medidas mais drásticas, para que as pessoas não fiquem nas regiões que não podem ficar, porque aí não tem prevenção que dê conta."
O cretino soube que a União e os governos estadual e municipal só conseguiram gastar R$ 4,7 milhões das verbas destinadas à contenção de encostas da região. As famílias desabrigadas pelas chuvas de 2011 continuam sem ter onde morar.
Eremildo estimou que a viagem da doutora a Roma tenha custado pelo menos R$ 500 mil. Foram 22 horas de AeroLula, mais 52 quartos de hotel, 17 carros, um caminhão-baú, dois furgões, motoristas e diárias. A doutora ficou no hotel que hospedava o xá da Pérsia. A patuleia mantém em Roma uma embaixada (com residência para o embaixador) num dos mais belos palácios da cidade, o Doria Pamphili.
Pelo ritmo da prevenção, ao fim do governo da doutora os mortos das águas do Rio poderão chegar a mil, por falta de reservas no Excelsior.
O cretino desconfia que a responsabilidade pela bula e pela regalesca "villeggiatura" romana é dos 55,75 milhões de eleitores que votaram nela.
ARREPENDIMENTO
Se arrependimento matasse, seria breve a vida do vice-presidente e constitucionalista Michel Temer, de Sérgio Cabral Filho, governador do Rio, e de Eduardo Paes, prefeito da cidade.
Os três estiveram na carga de cavalaria que fez do deputado Eduardo Cunha líder do PMDB na Câmara.
FOGUETE
A doutora Dilma entrou para a história do Itamaraty. Promoveu ao posto de conselheiro o primeiro-secretário Rodrigo Estrela, lotado no Planalto. Passou na frente de 93 colegas, num quadro de 273.
Quebrou-se a marca de JK, que promoveu o seu amigo Sette Câmara dando carona em dezenas de diplomatas.
METROPOLITAN
Enquanto no Brasil constroem-se cada vez mais museus com pobres acervos e horários de visitas apertados, o Metropolitan de Nova York anunciou que a partir de julho abrirá sete dias por semana. Às sextas-feiras e aos sábados ele funciona até as 21h. No ano passado o Metropolitan recebeu 6,3 milhões de visitantes.
Doze renomadas instituições de Pindorama, entre as quais os museus Histórico Nacional, de Belas Artes, o Imperial, o de Arte Moderna paulista e o Masp, receberam 3 milhões.
Fazendo justiça aos Centros Culturais do Banco do Brasil do Rio, de São Paulo e de Brasília, eles tiveram 4,5 milhões de visitantes. Em 2012 cortaram-lhes R$ 5 milhões de verbas orçamentárias.
HIRSCHMAN
No domingo que vem estará na rede o livro "Wordly Philosopher" ("Um Filósofo do Mundo"), uma biografia do economista Albert Hirschman, mestre de uma geração de acadêmicos, colega de Fernando Henrique Cardoso e professor de Pedro Malan. Calado e rigoroso, Hirschman morreu em dezembro passado, aos 97 anos, depois de uma vida rocambolesca. Muita gente convivia com ele sem saber que fora voluntário na Guerra Civil Espanhola e militante na Resistência Francesa. FHC leu e gostou. Se Hirschman soubesse o que estão dizendo dele, ficaria encabulado e mudaria de assunto.
O VERMEER DO ISABELLA PODE REAPARECER
O FBI anunciou na semana passada que identificou os dois ladrões que há 23 anos levaram 13 quadros do Museu Isabella Stewart Gardner, de Boston. Sumiram com um magnífico Vermeer ("Concerto") e um Rembrandt ("Tempestade"). O pacote vale US$ 500 milhões.
Até hoje esse é o maior mistério do gênero. Nunca apareceu uma mísera pista, e o saque já serviu de tema para livros e documentários. Se o FBI estiver certo, o caso poderá acabar numa grande história policial. Isso porque o crime prescreveu, e o museu oferece US$ 5 milhões de dólares de recompensa por uma informação que leve às obras, sem fazer perguntas.
Admitindo-se que os quadros e desenhos ainda existam, o FBI pode estar convidando os ladrões a devolver o butim em troca do sossego. É provável que isso aconteça. Nesse caso, as obras voltarão para seus lugares, pois as molduras, vazias, estão nas mesmas paredes, esperando-as. Caso a manobra dê certo, criou-se por vias tortas uma nova e arriscada modalidade de aposentadoria privada: o sujeito furta obras de arte, esconde-as e, 23 anos depois, embolsa a recompensa.
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