A eternidade das pirâmides
SÃO PAULO - Li na Folha que os velhos esquemas de pirâmide seguem teimosamente reaparecendo sob novas roupagens -e, agora, com o auxílio da internet. É um fenômeno fascinante, tanto pelas teses que refuta quanto pelas que corrobora.
A primeira pergunta a fazer é: como é possível que sobreviva em plena era da comunicação um sistema cujas limitações matemáticas não são difíceis de demonstrar (ou, pelo menos, de imaginar) e cujos insucessos práticos são conhecidos há pelo menos cem anos? No caso mais gritante, que foi o da Albânia em 1997, o colapso dos fundos resultou na derrubada do governo e numa rebelião popular que deixou 2.000 mortos.
Como mostra Gad Saad em "The Consuming Instinct" (instinto consumidor), a resposta clássica para explicar problemas de consumo mal-adaptativo, que incluem, além de pirâmides, compras compulsivas, transtornos alimentares, dependência de drogas, jogo patológico, tem sido má socialização e falta de informação.
As pessoas cometeriam erros porque recebem maus exemplos, em geral pela mídia, que é, ao mesmo tempo, acusada de estimular a obesidade infantil e a anorexia, ou porque não foram corretamente instruídas. Bastaria ensinar o consumidor a comportar-se bem que tudo isso desapareceria. Não é tão simples assim. A própria persistência desses problemas é um forte indício de que há forças mais profundas atuando aqui.
Para Saad, que faz coro aos achados de psicólogos evolucionistas e economistas comportamentais, o que temos é o darwinismo transposto das savanas para o mundo dos negócios. De um lado, está o fraudador, tipicamente um macho dominante de boa lábia, que, embalado por muita testosterona e apetite por risco (pense em Bernard Madoff), explora mecanismos individuais e coletivos de autoengano para fazer com que suas vítimas fiquem cegas para a inconsistência do suposto investimento. Basicamente, funciona.
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