A votação fora de hora estigmatiza como autoritária e casuística uma medida necessária para coibir a libertinagem partidária
Estado de Minas: 18/04/2013
Num plenário
conflagrado, a Câmara entrou pela noite tentando aprovar um projeto que
representaria um aprimoramento do sistema político se tivesse sido
votado em outra hora. A rigor, ele impõe a observância da Constituição
quando diz, em respeito à vontade popular, que as maiores frações do
tempo de TV e do fundo partidário serão divididas proporcionalmente ao
tamanho das bancadas que saíram das urnas. Nos anos seguintes,
entretanto, as migrações intensas ignoraram a previsão. A reação tardia,
no ano passado, diante da criação do PSD, levou o STF a decidir
contrariamente. Garantiu-lhe o tempo de TV e os recursos do fundo
proporcionalmente à bancada aliciada de outros partidos. Mas a votação
agora, por iniciativa dos governistas, quando duas forças de oposição
organizam novos partidos, estigmatizou como autoritária e casuística a
medida necessária. O resultado acabará sendo mais judicialização da
política.
O debate exaltado e a pressa na tramitação aumentaram a
desinformação sobre o significado da vedação proposta. A começar pelo
fato de que ela não impede a formação de novos partidos. Embora tenhamos
partidos demais, e talvez propostas partidárias de menos, uma barreira à
criação de novas siglas exigiria mudança na Lei Orgânica dos Partidos
Políticos, de 1995, hoje considerada um pilar (a meu ver trincado) da
nova democracia. Nisso, não se está mexendo. Assim, não haverá
impedimento à criação da Rede de Marina Silva nem à Mobilização
Democrática de Roberto Freire. Entretanto, se o projeto for aprovado
pelas duas Casas, como se tentava ontem, o partido oriundo da fusão
contará apenas com os recursos proporcionais ao tamanho das bancadas
originais: 13 do PPS e três do PMN. A pescaria de adesões não trará
ganhos adicionais de tempo de TV e dinheiro do fundo. Já o partido de
Marina, que está sendo criado do marco zero, ganharia apenas uma fração
da parcela de tempo e de recursos (5% e 10% respectivamente) que são
divididos igualmente entre todos os partidos.
No Brasil, assim
como os empresários gostariam que existisse o capitalismo sem risco, os
políticos preferem que não existam regras partidárias. Aprovado, embora
fora de hora, o projeto começaria a colocar ordem nesta libertinagem.
Mas dificilmente o Judiciário deixará de garantir à Rede, bem como à
Mobilização Democrática, o que garantiu ao PSD. A Rede, diz o deputado
Alfredo Sirkis, um dos organizadores, vai recorrer ao Judiciário. A
outra nova sigla, nascida ontem, também. E, mais uma vez, por não
legislar ou legislar fora de hora, o Congresso entregará prerrogativas
ao outro poder.
Inflexão no STF
Foram
oito ministros contra o presidente do STF, Joaquim Barbosa, a favor da
duplicação do prazo de recurso, de cinco para 10 dias, para os réus do
mensalão. O que houve ontem no STF pode refletir o que andam dizendo
alguns advogados de defesa: que a unidade absoluta do dias do julgamento
se trincou. Alguns ministros teriam se dado conta de falhas e de
excessos cometidos.
Com o novo prazo, os advogados poderão
formular embargos declaratórios mais consistentes. Estes são os recursos
cabíveis agora. Depois de julgados é que serão apresentados os embargos
infringentes, cabíveis quando pelo menos quatro ministros não seguiram a
maioria na condenação.
Eles agora estão trabalhando em maior
sintonia, mirando as teses do julgamento e não a defesa individual dos
clientes, o que não deu resultados. Uma das teses, a de que houve desvio
de recursos públicos, será contestada com documentos dos autos que
foram praticamente ignorados. O julgamento dos embargos confirmará, ou
não, se houve mesmo quebra da hegemonia no Supremo, em parte alimentada
pelos antagonismos internos.
Eles na liça
Aécio
Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) tricotaram muito nas últimas horas
em Brasília. Cada qual por seu lado, mas preservando a hipótese de
convergência lá na frente. “Não subestimem a candidatura do Aécio. Ele
tem a juventude a seu favor, um partido estruturado e o legado de um bom
governo em Minas”, disse Campos aos senadores com os quais jantou
anteontem. Falou basicamente de economia, mas impressionou bem. Eles
combinaram de atuar, doravante, como um bloco informal no Senado.
Por
onde passou, Aécio criticou a visita da presidente Dilma Rousseff (PT) a
Minas, segundo ele para cumprir agenda petista e não do estado. Cobrou
uma dezena de obras não realizadas e de projetos desviados para outros
estados. De longe, monitorou a eleição da executiva de São Paulo, onde
os serristas foram derrotados. De perto, acertou a estratégia para a
reorganização do PSDB no Distrito Federal, onde dois grupos se
digladiavam. Uma comissão provisória, presidida por Eduardo Jorge, vai
preparar a eleição de uma nova direção regional, sintonizada com os
planos nacionais. Por fim, elogiou também o concorrente, interessado na
fusão PPS-PMN. “A presidente parece assustada com a eleição
presidencial, a ponto de seus aliados estarem dispostos a cometer um
casuísmo para atingir as candidaturas de Eduardo Campos e Marina Silva.
Os verdadeiros democratas devem saudar a pluralidade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário