Pesquisa desenvolvida na Federal de Ouro Preto busca investigar
evolução geológica no Norte de Minas Gerais e pode contribuir com estudos sobre os tremores que têm abalado a região desde 2007
Silas Scalioni
Estado de Minas: 29/04/2013
Pesquisador do
Programa de Pós-graduação em Evolução Crustal e Recursos Minerais da
Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o professor André Danderfer,
do Departamento de Engenharia Geológica da instituição, está coordenando
um projeto de pesquisa que busca investigar a evolução geológica de um
antigo segmento de crosta continental – conhecida por crosta
arqueana-paleoproterozoica –, exposta no Norte de Minas Gerais, onde se
encontram rochas graníticas e sedimentares metamorfisadas (formadas por
transformações físicas ou químicas de outras rochas) com idade que
supera 1,6 bilhão de anos.
A pesquisa, segundo o coordenador,
tem a colaboração dos professores Cristiano de Carvalho Lana e Hermínio
Arias Nalini Júnior, além do aluno de doutorado Francisco Robério de
Abreu, e recebeu o nome de “Evolução tectônica e geocronológica da
porção central do bloco Itacambira – Monte Azul, borda leste do
paleocontinente São Francisco, Norte de Minas Gerais”. Para seu
desenvolvimento, já conta com recursos garantidos de mais de R$ 40 mil
da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). “O estudo
vai jogar luz sobre uma área que abrange parte das cidades de
Porteirinha e Riacho dos Machados, na Região do Espinhaço Central”,
revela Danderfer.
De acordo com o professor e pesquisador, a
região em questão carece de estudos de campo e de investigações
laboratoriais sobre aspectos petrográficos (constituição mineralógica),
geoquímicos (composição química) e geocronológicos (idade) das rochas.
Para ele, os terrenos do bloco Itacambira – Monte Azul fazem parte de um
antigo continente, conhecido na literatura brasileira e internacional
como “paleocontinente São Francisco”, que ‘vagou’ pelo planeta até se
juntar a outros continentes maiores e menores, em torno de 600 milhões
de anos atrás, vindo a formar o atual subsolo do território brasileiro.
Ao
finalizar o projeto, os pesquisadores pretendem compreender melhor a
história geológica desses terrenos e contribuir para o entendimento de
questões relativas à formação de depósitos minerais do Norte de Minas.
Segundo André Danderfer, já se destacam na região as jazidas de ouro de
Riacho dos Machados e o depósito de zinco do Salobro. O local foco dos
estudos está a 120 quilômetros a Nordeste de Montes Claros, cidade polo
do Norte de Minas Gerais, onde tremores de terra vêm ocorrendo com
frequência. Segundo Danderfer, o entendimento das antigas estruturas
tectônicas dessa região poderá fornecer algumas indicações sobre o
controle de sismos por falhas geológicas mais profundas, ou seja, não
expostas em superfície. Para ele, falhas antigas são susceptíveis de
experimentar reativações induzidas por esforços tectônicos originados
nos limites de placas tectônicas. A duração prevista da pesquisa
prevista é de dois anos, podendo ser prorrogada por mais um ano.
Estação
sismográfica própria No dia 18, um tremor de terra assustou os
moradores de Montes Claros. O abalo sísmico ocorreu às 7h11 e atingiu
3,7 pontos na escala Richter (que mede a magnitude dos tremores),
segundo apurou o Observatório Sismológico de Brasília (Obsis), da
Universidade de Brasília (UnB). O epicentro do tremor foi identificado
como sendo no Bairro Vila Atlântida, na Região Noroeste da cidade, e foi
sentido por moradores de pelo menos 11 bairros.
A obtenção de
tais informações foi possível graças a uma rede de estações
sismográficas móveis instaladas na região e que monitora os abalos. “São
nove sismógrafos, cinco sob responsabilidade da UnB e quatro da
Universidade de São Paulo (USP), que estão na região desde junho do ano
passado, logo depois do tremor mais intenso até hoje, de 4,2 pontos, em
19 de maio de 2012”, informa o professor Expedito José Ferreira,
coordenador do Centro de Estudos de Convivência do Semi-árido e
coordenador de implantação de estudos sismográficos da Universidade
Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Segundo ele, já a partir
dos próximos dias o Centro de Estudos de Tremores da cidade contará com
sua própria estação sismográfica, uma vez que a Unimontes adquiriu dois
sismógrafos de altíssima precisão. Eles estão sendo instalados com apoio
técnico da UnB e da USP. “Os equipamentos emprestados atenderam uma
demanda inicial de forma rápida. Com eles pudemos pesquisar o fenômeno,
identificar as falhas e criar um importante banco de informações”,
revela, afirmando que a desabilitação dos antigos equipamentos não
causará nenhuma perda, uma vez que os estudos terão agora continuidade
por meio dos novos aparelhos e da cooperação técnica entre as três
instituições de ensino. “Os sismógrafos desativados serão desmontados e
instalados pelas universidades em outras regiões onde sejam
necessários.”
Palavra de especialista
Falhas geológicas
expedito josé ferreira
professor da unimontes
“Os
estudos feitos em Montes Claros começaram há menos de um ano e apontam
que os tremores na região devem atingir magnitude máxima de cinco
pontos. O Brasil está localizado em cima de uma única placa tectônica, a
Sul-americana, mas caso se situasse em um encontro de duas, como o
Japão, a intensidade dos sismos seria bem maior, assim como os estragos
provocados. Sobre as causas dos abalos, isso ocorre porque existe uma
falha geológica na Região Noroeste de Montes Claros. E quando há
movimentação de placas ocorre geração de energia, que é dissipada em
forma de ondas, causando os tremores. Não há uma periodicidade para a
ocorrência de tais abalos. E eles podem ocorrer a qualquer momento e
parar repentinamente."
Documento explica fenômenos
Silas Scalioni
Uma fratura geológica
de orientação NNW-SSE (na direção Noroeste/Sudeste) e movimentação
inversa devido a tensões compressivas que atuam na parte central do
craton do São Francisco – craton são porções bastante antigas da crosta
continental. Tecnicamente falando, essa é a causa dos tremores de terra
que têm atingido Montes Claros há alguns anos e que faz parte do
documento “Estudo dos tremores de terras de Montes Claros (MG), de
2012”, criado pelo Centro de Sismologia da USP e pelo Observatório
Sismológico da UnB. O trabalho revela que os tremores ocorrem entre um e
dois quilômetros de profundidade, bem abaixo da camada superficial de
calcário, e que, embora os abalos estejam bem próximos às áreas de
extração do mineral, não há nenhuma evidência direta de que a atividade
extrativista tenha a ver com os fenômenos.
O chefe do
Observatório Sismográfico da UnB, professor Lucas Vieira Barros, informa
que, apesar da baixa magnitude dos sismos no Norte de Minas (em relação
aos grandes terremotos que ocorrem mundo afora), há sim perigo de
significativas perdas (humanas e materiais) quando tais fenômenos
ocorrem. E isso se deve justamente à pouca profundidade onde há o abalo.
“Por ter um foco raso, a área abrangida é menor. Porém, e justamente
por isso, mesmo a magnitude sendo baixa os efeitos são mais agressivos”,
afirma o professor. Foi no Norte do estado e por conta de um desses
abalos que o Brasil teve o registro da primeira morte por terremoto no
país, quando um tremor de 4,9 pontos abalou a localidade de Caraíbas,
distrito de Itacarambi, matando uma criança.
Segundo Barros, à
medida que não há uma preparação especial para lidar com esses
fenômenos, como ocorre em países que já têm história com abalos
sísmicos, e devido aos sismos de Montes Claros se concentrarem dentro de
uma área urbana, os estudos na região são importantíssimos para se
conhecer o porquê do fenômeno e como se preparar para ele. “Tremores no
Brasil são mais frequentes do que se imagina, já ocorreram em vários
locais e até em magnitudes mais amplas. Só que não causaram estragos
justamente por ter epicentros distantes, ao contrário dos de Montes
Claros”, completa.
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