Um dos pioneiros da bossa nova, Roberto
Menescal é o convidado especial do show que o mineiro Thiago Delegado
fará amanhã no Teatro Bradesco, em Belo Horizonte
Eduardo Tristão Girão
Estado de Minas: 29/04/2013
ão
custava nada e nem de cara de pau foi preciso. Como o capixaba e ícone
da bossa nova Roberto Menescal havia prestigiado um show do violonista
Thiago Delegado no Rio de Janeiro e elogiado pessoalmente o jovem
mineiro ao final, foi moleza convidá-lo para a apresentação que fará
amanhã em Belo Horizonte, no Teatro Bradesco. Os dois vão alternar suas
canções, fazendo a ponte entre duas gerações de talentos do violão
brasileiro.
“A gente só se encontrou uma vez, mas senti que daria
coisa boa”, lembra Menescal. “Gostei dele porque tinha medo que fosse
só um cara que toca seu instrumento, exibição em vez de música. Vi que
ele tem um bom gosto danado, realmente é ‘o cara’. Ele tem 30 anos e,
pela frente, um caminho de composição muito bom. Fiquei animado por ter
sido chamado para tocar com ele”, completa. Se houver convite do mineiro
para que gravem disco juntos, continua Menescal, ele vai aceitar.
“Gosto
da guitarra do Menescal, e não só do violão, pela mistura de samba e
jazz, pelo timbre”, responde Thiago Delegado. “É elegante, tem improviso
e as composições são muito boas. São benfeitas, têm modulação, boas
melodias. Na hora de compor, ele é uma referência para mim. Lembro-me de
ouvi-lo quando ainda era criança, é um dos nomes da bossa nova que ouço
há mais tempo. Dos artistas com quem já toquei, ele é o que mais me
remete ao momento da minha musicalização.”
Roberto Menescal já
ensaiou em casa Eu queria ser João Gilberto, composição de Thiago que
achou “muito legal” e que vai tocar amanhã. Do mineiro, o público ouvirá
também Cansei de ser enganado, Saudades do Joninhas e De Caratinga a
Guanhães (com Juarez Moreira). No repertório também estão, claro,
sucessos de Menescal, como O barquinho (com Ronaldo Bôscoli), Bye, bye
Brasil (com Chico Buarque), Rio (com Ronaldo Bôscoli) e Agarradinhos
(com Rosália de Souza).
O show começa com o violonista mineiro
acompanhado pela banda com a qual tem tocado ultimamente, formada por
Christiano Caldas (piano), Aloízio Horta (baixo), Ricardo Acácio
(percussão) e André “Limão” Queiroz (bateria) – este último é o mais
novo integrante do grupo, em substituição a Matheus Bahiense. Mais ou
menos na metade do espetáculo, Menescal subirá ao palco e permanecerá
até o fim com Thiago e o grupo no palco.
Projetos Paralelamente,
Thiago recomeça no bar A Casa, em Belo Horizonte, seu projeto
DelegasCia, tocando toda quarta-feira por lá, com Limão, Pedro Trigo
(baixo) e Sergio Danilo (saxofone e flauta). Ele também se prepara para a
gravação de seu terceiro disco, Viamundo, ainda este ano. Entre as
faixas que serão incluídas nele estão Malandrote (com Edu Krieger),
Sarau pro Sr. Mozart (homenagem ao nonagenário do choro em BH Mozart
Secundino) e Cansei de ser enganado. A intenção é lançá-lo no primeiro
semestre do ano que vem.
Com 30 anos completados este mês, o
violonista mineiro não tem do que reclamar. Não faltam compromissos no
Brasil e no exterior em sua agenda. Incluindo o show de amanhã, serão
quatro só este mês, fora as apresentações semanais n’A Casa. Mês que
vem, Thiago viaja para Lisboa e Paris acompanhando a cantora Aline
Calixto, cujos shows dirige há cinco anos. E o músico não quer perder a
chance de marcar shows durante sua passagem por lá.
THIAGO DELEGADO CONVIDA ROBERTO MENESCAL
Amanhã,
às 20h, no Teatro Bradesco (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos a
R$ 30 e R$ 15 (meia-entrada). Informações: (31) 3516-1027.
MENESCAL PERGUNTA, DELEGADO RESPONDE
Como e quais foram e como são seus estudos de música e violão? Foi tudo no Brasil ou também no exterior?
Na
verdade, quando novo, meus estudos sempre foram meio relapsos, porque
demorei demais a acreditar que seria verdadeiramente um músico. Era
essencialmente um ouvinte assíduo de música brasileira que gostava de
tocar violão. Mais tarde, quando comecei a tocar na noite, realmente
acreditei que poderia viver daquilo que eu gosto e resolvi estudar
mesmo. Meus estudos sempre foram baseados em trocas de experiência com
os músicos de BH. É uma geração muito privilegiada e generosa e dessa
troca eu retiro a maior parte da minha evolução musical.
Está dando para viver somente de música? Se não der, vai dar com certeza, pois seu talento é muito grande.
Sim,
hoje eu vivo essencialmente de música, seja como fruto dos meus shows,
acompanhando artistas ou produzindo. Ainda é difícil. Tem meses que são
ótimos, outros terríveis, mas acho que as coisas vêm evoluindo e estou
muito feliz trabalhando com aquilo que gosto e acredito.
DELEGADO PERGUNTA, MENESCAL RESPONDE
O que você acha da nova geração de compositores e instrumentistas que tem por aí? Quem tem chamado
a sua atenção nessa nova cena?
Tenho
ouvido muitos bons instrumentistas por todo o Brasil, pois o número de
escolas de música aumentou muito, mas vejo também muito músico que
procura mais o caminho de exibição do que tocar bem e mostrar um bom
trabalho, como você faz.
Gosto muito de pescar, sempre
que posso vou à represa de Três Marias pescar tucunaré e tal. Você ainda
pesca aí no Rio? Se sim, qual tipo de pesca?
Fui um grande
predador durante 35 anos, pois fazia caça submarina, mas agora sou um
ecólogo convicto e estou pagando meus pecados cuidando das minhas
bromélias queridas. Se eu tivesse usado meu tempo gasto na caça
submarina estudando meu instrumento, talvez hoje eu estivesse tocando
tão bem como você!
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