ZERO HORA - 08/05/2013
Ao
assistir à peça Arte, que esteve recentemente em cartaz em Porto
Alegre, no festival Palco Giratório Sesc, tive a mesma sensação de
quando assisti a Deus da Carnificina, não por acaso obras da mesma
autora, a fantástica Yasmina Reza. É incrível a capacidade que ela tem
de criar situações que nos desconstroem.
Sem piedade, ela
evidencia o quanto somos todos patéticos. Fazemos um dramalhão por
pequenas coisas, expomos carências infantis e perdemos a compostura por
nada. Somos experts em desproporção entre causa e efeito.
Será
que um dia conseguiremos equalizar nossas reações, dar a elas uma medida
exata? Acho improvável. Vida também é teatro. Por mais humildes que
sejamos ao reconhecer nossos exageros diante de alguns acontecimentos,
dificilmente conseguimos nos conter. Defendemos nossas opiniões com
todas as ferramentas de que dispomos: palavra, voz, gestos, paixão,
raiva. E dá-lhe atrapalhação. Agimos de forma farsesca acreditando estar
sendo espontâneos.
Fazemos piada de assuntos graves e, por
outro lado, levamos a sério as maiores bobagens. Amamos alguém e o
atacamos. Desprezamos alguém e o tratamos com mesuras. Somos
vigorosamente contra ou a favor, como se de nossas posições dependesse
nossa vida. E chegam a ser inocentes nossas tentativas de compreender a
nós mesmos, aos outros e ao mundo. Eu, particularmente, gosto muito
dessa busca, mas sem perder a consciência de que, onde quer que eu
chegue, ainda estarei a milhões de anos-luz da compreensão absoluta.
De certa forma, ainda bem. O que viria depois da compreensão absoluta?
Claro
que as coisas podem ser mais simples, mas nunca serão exatas. Não há
como ter controle sobre algo em constante movimento: a própria vida. É
tão grande o número de influências, ideias, sensações e circunstâncias
que nos impactam diariamente, que nunca teremos uma verdade pronta e
empacotada para lidar com elas – e muito menos uma estabilidade
emocional condizente com a experiência. Sempre estaremos falando num tom
mais alto, tentando assim nos defender contra o susto que é ser
confrontado diariamente com nossa vulnerabilidade.
O que admiro
nesses dois textos de Yasmina Reza, Arte e Deus da Carnificina, é que
ela mostra claramente o delírio de se levar a ferro e fogo situações
banais, a absurda insistência em querermos causar boa impressão e a
inutilidade de nos comportarmos como se estivéssemos diante de um
tribunal.
Sendo assim, o que nos resta? Rir. No que diz respeito
às nossas relações pessoais, a vida segue sendo mais cômica do que
trágica.
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