quarta-feira, 8 de maio de 2013

Delfim Netto

folha de são paulo

Tragédia
A recente redução das perspectivas de crescimento do PIB de 2013 (que começou em torno de 4% e já anda em torno de 3%, com viés de baixa) deve-se, essencialmente, à pequena resposta da demanda da produção industrial nacional aos enormes estímulos fiscais, monetários, creditícios e subsídios que lhe têm sido concedidos.
Em outras palavras, o estímulo à demanda nacional "vaza" para a indústria estrangeira em lugar de ser suprida pela indústria nacional. Esse é um fenômeno geral, como prova o crescente saldo negativo do nosso balanço de transações correntes. E é fenômeno relativamente recente, como se vê no gráfico abaixo.
Nele se registram o crescimento das vendas do comércio varejista e o crescimento da indústria de transformação com relação ao triênio anterior no período 2004-2006 e 2010-2012.
A diferença dá uma ideia do aumento da penetração da oferta estrangeira. Vemos que em 2004-2006 (com referência a 2003-2005) as vendas do varejo cresceram praticamente à mesma taxa da produção industrial, 12,0% e 11,5%, respectivamente. No período 2010-2012 (com referência a 2007-2009), o varejo cresceu 27,2% e a indústria nacional 5,1%, revelando o "vazamento" da demanda interna para a oferta externa.
Notemos que a diferença entre os dois períodos é de apenas seis anos. Neles, de exportadores de produtos de linha branca, de vestuário, de bicicletas, de automóveis etc. transformamo-nos em importadores. Hoje nossas fábricas pedem recuperação industrial porque não têm como enfrentar a desleal concorrência externa (China, Índia, Taiwan, Coreia, México, Bangladesh e outros).
Há muitas explicações e múltiplas causas para isso. As mais importantes, entretanto, são duas: 1ª) destruímos o nosso sistema de tarifas efetivas protegendo os setores de insumos básicos e 2ª) produzimos uma violenta valorização do câmbio pelo aumento do salário nominal muito acima da taxa de câmbio nominal.

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