ZERO HORA - 12/05/2013
Mãe
é para sempre, presença necessária em qualquer etapa da vida, tanto
que, nos nossos momentos mais difíceis, é nela que pensamos mesmo que
ela já tenha falecido. Mãe é um consolo universal, pois sabemos que
ninguém nos ama ou amou tanto quanto ela. Na hora do sufoco, entre rogar
a Deus ou à nossa adorada progenitora, Deus fica de estepe e nem se
atreve a reclamar.
Porém, abnegação tem limite. Mães são
amorosas e dedicadas aos seus filhotes, mas, secretamente, contam os
dias para vê-los bem criados, tocando suas próprias vidas profissionais e
afetivas, dando a elas o descanso merecido e a certeza da missão
cumprida.
Como filha, fiz minha parte: com 19 anos já
trabalhava, com 24 morava sozinha, com 27 estava casada e aos 29
engravidei e comecei a formar minha própria família, enquanto minha mãe,
no mesmo período, foi fazer faculdade (aos 40 anos), trabalhar, viajar,
reposicionar-se na sociedade – claro que sempre por perto a fim de
paparicar as netas, só que agora de um jeito desobrigado, só love, só
love.
Pois as coisas mudaram bastante. Filhos saindo de casa na
faixa dos 20 anos, abrindo mão de mordomia? Melhor não contar com isso.
Não
faz muito tempo, na faixa dos 20, todos cumpriam os cinco marcos da
vida adulta: finalizavam seus estudos, conquistavam independência
financeira, casavam, tinham filhos e seu próprio endereço. Hoje, raros
cumprem cedo essas metas. Entre os 20 e 30, ainda estão zonzos diante de
tantas opções e preferem adiar o amadurecimento até... até que suas
mães os expulsem de casa. Só que mãe não expulsa filho. E eles, óbvio,
vão ficando.
Em defesa deles, há um estudo que diz que há uma
área do córtex cerebral que leva realmente até 30 anos para se formar,
justamente a área responsável por planejamentos e priorizações. Hum,
chegou em boa hora essa desculpa científica. Porém, depois dos 30, como
se explica que ainda haja adultos vivendo com os pais, sem darem um rumo
certo à vida?
O fato é que os jovens andam comodistas,
relutando em se jogar no mundo sem alguma garantia. Mas que garantia?
Ninguém constrói a própria história sem arriscar, errar, se frustrar,
tentar de novo, passar por dificuldades, erguer-se, cair, erguer-se
outra vez. Como irão amadurecer sem viverem essas experiências? Enquanto
eles analisam calmamente a questão, as mães veem o tempo passar e
continuam servindo o almoço todos os dias para marmanjos que ainda não
decidiram o que querem ser quando crescer.
Você não deve ser um
desses filhos, claro. Meus leitores são autônomos, donos do próprio
nariz, e visitam as mães por amor e saudade, não para pedir arrego. Mas,
se por uma hipótese remota, você ainda for um kidult, como se diz lá
fora (mistura de kid + adult), dê uma trégua para sua mãe ao menos nesse
domingo. Leve flores, e não sua roupa para ela lavar.
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