domingo, 12 de maio de 2013

Sem cura, mas sob controle Lúpus-Sara Lira‏

Doença autoimune acomete mais mulheres, com idade entre 20 e 45 anos. Sintomas são variados e podem atingir a pele e também órgãos, como coração, rins e pulmões 


Sara Lira

Estado de Minas: 12/05/2013 


Uma doença que pode surgir em qualquer época da vida e não tem cura. Ainda assim, é possível conviver com ela desde que o paciente siga o tratamento de forma adequada. Estamos falando do lúpus eritematoso sistêmico (LES), cujo dia mundial foi lembrado na sexta-feira, e que pode se manifestar atingindo diversos órgãos. Existem dois tipos da doença e o primeiro, o eritematoso, atinge apenas a pele, provocando manchas avermelhadas em áreas mais expostas à luz solar, como braços, orelhas, rosto e colo. Já o segundo, o sistêmico, pode prejudicar coração, rins e pulmões.

Os principais sintomas são mal-estar, febre, dor e inchaço nas articulações, queda de cabelo, feridas na boca, manchas na pele, entre outras manifestações. “A gama de sintomas é vasta e pode acometer qualquer órgão ou tecido do organismo”, explica o médico reumatologista Gustavo Lamego de Barros Costa, vice-presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia.

Rara, a doença pode acometer qualquer pessoa, porém sua incidência é mais comum em mulheres jovens, entre 20 e 45 anos, manifestando-se com maior frequência em mestiços e nos afrodescendentes (independentemente do sexo). De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Reumatologia, a estimativa é de que existam cerca de 65 mil pessoas com lúpus no país, sendo a maioria do sexo feminino. Ainda segundo a entidade, uma em cada 1.700 brasileiras possivelmente tem a doença. Informações do Ministério da Saúde constatam que apenas no ano passado, 4.475 pessoas foram internadas em decorrência da doença em unidades hospitalares do Sistema Único de Saúde (SUS), o que custou cerca de R$ 3,5 milhões aos cofres públicos.

Segundo Barros Costa, o lúpus pode surgir em qualquer fase da vida, sem motivos aparentes. Questões genéticas podem ou não influenciar o aparecimento da doença, mas, em geral, a causa ainda é desconhecida. “É uma doença autoimune. Temos um sistema de defesa que é o sistema imunológico e às vezes há uma desregulação. Ele passa, então, a atacar algumas células do organismo e isso é o que chamamos de doença autoimune. O lúpus não é causado por infecção ou bactéria, é o próprio organismo que o desenvolve”, afirma.

A doença se manifesta de diferentes formas no organismo, podendo ser de maneira leve ou mais grave. Na maioria dos casos surgem lesões na pele, especificamente nas bochechas e no nariz, formando um desenho semelhante ao de “asa de borboleta”. Além disso, muitos doentes com lúpus têm fotossensibilidade à luz do Sol. “Os raios ultravioleta são capazes de ativar o lúpus, sobretudo na pele, e a pessoa desenvolve, depois da exposição à luz solar, manchas avermelhadas na bochecha”, acrescenta. Alterações no sangue e dores ou inchaços nas juntas também são comuns. Em casos mais graves ela pode afetar os rins ou causar inflamações nas membranas do pulmão e coração. Alterações neuropsiquiátricas como depressão, alteração de humor e até convulsões são mais raras, mas também podem ocorrer.

Gustavo Barros Costa explica que o diagnóstico é feito após uma análise criteriosa das manifestações que o paciente apresenta e por meio de exame denominado FAN (fator ou anticorpo antinuclear), obtido no exame de sangue. “Quase 100% dos pacientes com lúpus têm o FAN positivo. Mas muita gente que tem o FAN positivo não necessariamente vai desenvolver a doença. Esse fator ajuda para o diagnóstico, mas não é o único avaliado para se descobrir o lúpus”, explica.

MEDICAMENTOS O lúpus não tem cura, mas sim controle. Segundo o médico, os remédios com corticoide, cloroquina e os imunosupressores são os mais indicados, mas a recomendação varia de pessoa para pessoa. “O tratamento é à base de medicamentos que vão modular o sistema imunológico. Vai depender da manifestação de cada paciente”, salienta o médico. Já os sintomas mais leves podem ser tratados com analgésicos e anti-inflamatórios. Segundo o Ministério da Saúde, dois medicamentos indicados para tratar o lúpus – a azatioprina e a ciclosporina (há diversas dosagens) – são ofertados gratuitamente na rede pública.

O vice-presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia ainda explica que outras duas formas de lúpus também são comuns, porém mais leves e têm cura. “O lúpus discoide é quando a pessoa tem só uma lesão na pele e o tratamento é simples, podendo ser com pomada ou remédio. Já o lúpus induzido por drogas é aquele causado após o uso de algum medicamento que dê efeito colateral semelhante aos sintomas do lúpus”, finaliza.
Personagem  da notícia

Fabiana Rodrigues
Professora

Foi um susto

Quando a professora Fabiana Rodrigues, de 27 anos, descobriu a doença há três anos foi um susto, pois sempre teve boa saúde e não havia histórico da doença na família. Ela tinha um mês de casada e os sintomas surgiram de repente. “Comecei a sentir muita dor nas juntas, depois inchaço, e meu cabelo caiu muito." Logo após o diagnóstico, as manifestações vieram mais fortes. Fabiana teve nefrite (inflamação nos rins) e pressão alta, chegando a 20/10, levando-a para o hospital. Devido à doença, entrou em depressão. Proibida de tomar anticoncepcionais, porque afetavam os rins, descobriu-se grávida. “Fiquei assustada. Procurei o médico e fiz o pré-natal certinho. Suspendi alguns remédios para não afetar a formação do bebê. Considero minha filha um milagre, pois e ela nasceu saudável”, conta, se referindo à Vitória, de 1 ano e 5 meses. Atualmente a doença está controlada, por quatro remédios regulares. “Trabalho e levo uma vida normal”, afirma.

MITOS E VERDADES

Quem tem lúpus pode engravidar?

Sim, desde que a doença esteja controlada. Por isso,
é necessário que a mulher se programe antes de decidir engravidar.

Estresse emocional causa lúpus?

Não, mas pode contribuir para desencadear os sintomas iniciais da doença ou reativá-la.

Quem tem LES tem mais chance de ter uma infecção?

O lúpus interfere no sistema imunológico e esse desequilíbrio facilita o aparecimento de infecções. Elas também pode surgir devido ao uso dos medicamentos para o tratamento contra a doença.

Tenho lúpus. Posso usar remédios para outras doenças concomitantemente?

Possivelmente sim, mas é interessante conversar com seu reumatologista antes.

Os remédios para lúpus sempre deixam a pessoa inchada?

Não, mas os corticoides em doses altas e ingeridos nas fases mais ativas e graves da doença podem deixar a pessoa mais inchada. Eles também aumentam o apetite, ou seja, o paciente deve ficar atento à dieta e manter atividade física regular.

Outras doenças podem ter os mesmos sintomas de LES?

Sim, os sintomas do lúpus não são exatamente exclusivos. Pessoas que têm hanseníase, hepatite C, rubéola ou outras doenças autoimunes podem desenvolver sintomas muito parecidos e ter o exame de FAN positivo sem que tenham lúpus.

Quando o tempo está nublado é necessário proteger-se com fotoprotetor?


Sim, a maioria das pessoas com lúpus tem sensibilidade ao sol, e essa sensibilidade não é só à luz direta do Sol, mas à claridade. Logo, mesmo nos dias nublados e na sombra de uma forma geral é necessário usar fotoprotetor e preferencialmente cobrir-se com uma blusa fina.

Existem produtos “naturais” ou vacinas que melhorem a imunidade?

Não. A melhor atitude para melhorar a imunidade é manter uma vida saudável, incluindo uma dieta balanceada, sem álcool, cigarro ou excessos dietéticos. Não existem produtos que melhorem a imunidade e alguns podem mesmo prejudicar a sistema imunológico.

Fonte: Cartilha da Sociedade Brasileira de Reumatologia para orientação aos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico.

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