O novo racismo
SÃO PAULO - Acaba de sair nos EUA um livro que muda nossas concepções sobre o racismo. É "Blindspot" (ponto cego), de Mahzarin Banaji (Harvard) e Anthony Greenwald (Universidade de Washington).
A tese central dos autores é a de que o racismo mudou. O sujeito que maltrata negros e os agride verbalmente é uma espécie em extinção. O contingente cada vez menor de gente que acredita em conceitos como o de raça inferior aprendeu a ficar calado. Não obstante, os efeitos do racismo continuam firmes e operantes, como se pode constatar nas diferentes posições ocupadas por brancos e negros numa série de estatísticas, como renda, desemprego, evasão escolar, performance acadêmica, taxa de encarceramento etc.
Para a dupla de autores, a explicação está em nosso racismo implícito ou inconsciente, do qual nós mesmos não nos damos conta, mas que pode ser medido objetivamente através de um teste específico chamado IAT, que avalia a facilidade com que associamos negros e brancos a conceitos positivos e negativos. Cerca de 75% das dezenas de milhares de pessoas que fizeram o teste nos EUA revelaram preferência automática por brancos. Outros estudos apontam uma correlação moderada entre preconceito implícito e atos discriminatórios contra negros.
Esses dados todos, porém, já eram mais ou menos conhecidos. O grande "insight" do livro é a constatação de que o novo racismo, em vez de envolver atos que prejudicam membros de outro grupo, assume cada vez mais a forma de atos de favorecimento a membros do próprio grupo. Num mundo que utiliza intensamente cartas de recomendação, "networking" e amigos no lugar certo, isso pode fazer toda a diferença.
Se o novo racismo traz o benefício de não ser violento como o tradicional, apresenta a desvantagem de ser algo muito mais difícil de combater. Afinal, não dá para recriminar alguém por tentar ajudar seus amigos.
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