Bruna Sensêve
Estado de Minas: 03/05/2013
Brasília – O
simples ato de colorir os lábios com batom pode ser mais perigoso do que
se imagina. Pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Berkeley, da
Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, analisaram 32 marcas de
batom e brilho labial buscando identificar a presença de metais pesados
na composição desses cosméticos. Os resultados mostram que a maior parte
dos produtos labiais testados contém altas concentrações de titânio e
alumínio, além de todos eles apresentarem níveis detectáveis de
manganês. Outros metais, como chumbo, cromo e cádmio, também foram
encontrados em diferentes amostras. Os dados, publicados na edição desta
semana da revista do Instituto Nacional de Ciências de Saúde Ambiental
dos Estados Unidos, querem alertar as agências de vigilância sanitária
sobre a necessidade de fiscalização e investigação dos possíveis
malefícios do contato dessas substâncias com o organismo.
O trabalho foi bastante aprofundado. Inicialmente, analisaram-se as amostras por uma técnica avançada de espectometria, o que possibilitou o cálculo da quantidade de cada metal nos produtos. Depois, usando estimativas feitas em um estudo anterior, sobre as taxas de uso de batom entre 360 mulheres norte-americanas, os cientistas estimaram a quantidade de substâncias metálicas que uma usuária ingere a cada dia. Com isso, os pesquisadores acreditam que é possível verificar se o uso de cosméticos pode afetar, de alguma forma, a saúde.
Os investigadores relataram que, em média, as mulheres passam o batom 2,35 vezes por dia, e aplicam cerca de 10mg do produto em cada uma dessas vezes. O resultado sugere a ingestão de 24mg por dia. No entanto, aquelas consumidoras inveteradas podem alcançar uma ingestão de 87mg diários. “Partimos da ideia de que todo produto aplicado, se não for retirado pela usuária voluntariamente, acabaria sendo absorvido por seu organismo”, explicam os autores. Depois, bastou comparar as quantidades ingeridas com aquelas consideradas aceitáveis, de acordo com os objetivos de saúde pública para água potável, definidos pela Agência de Proteção Ambiental da Califórnia.
As estimativas de ingestão desses metais chamaram bastante a atenção da equipe de Sa Liu, principal autora do estudo. Para consumidoras medianas (24mg/dia), 31% dos produtos analisados levariam a uma ingestão de cromo acima do recomendado. Já para aquelas que apresentam um consumo alto dos cosméticos (87mg/dia), 3% das amostras provocariam uma superexposição ao alumínio; 68%, ao cromo; e 22%, ao manganês. O consumo estimado de níquel, cobre e chumbo ficou abaixo do máximo aceitável em todas as marcas, mesmo que 47% das amostras apresentem um índice de chumbo mais alto que o recomendado pela FDA, a agência reguladora de remédios e alimentos dos Estados Unidos.
Maior atenção Segundo os autores, a simples presença desses metais não é um problema. O risco está na quantidade, já que alguns dos metais tóxicos têm concentração que pode causar efeitos nocivos a longo prazo. Os cientistas afirmam que não é o caso de queimar os batons e nunca mais colorir a boca, mas sim iniciar uma discussão na busca por uma fiscalização mais atenta pelos órgãos reguladores de saúde. “Acredito que a FDA deve prestar atenção a isso”, ressalta Sa Liu.
“Nosso estudo é pequeno, usando produtos para os lábios que foram identificados por jovens mulheres na Califórnia. Mas os batons e brilhos labiais investigados são marcas comuns disponíveis nas lojas em toda parte. Baseados em nossas descobertas, mostramos a necessidade de uma maior e mais completa pesquisa de produtos para os lábios e cosméticos em geral.” A especialista destaca que, no momento, não existem normas americanas para conteúdos de metal em cosméticos e, segundo os autores, a União Europeia considera o cádmio, o cromo e o chumbo ingredientes inaceitáveis em cosméticos em qualquer nível.
O químico Luiz Eduardo Benedito, do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), explica que o organismo humano necessita de pequenas quantidades de alguns metais, como ferro, cobalto, cobre e zinco, que desempenham papéis em importantes processos biológicos. Quantidades adequadas desses elementos são fornecidas pelos alimentos, por meio de uma dieta saudável. A falta ou o excesso desses elementos podem trazer prejuízos à saúde. “Já outros metais, como o chumbo, o cádmio e o mercúrio, são considerados extremamente tóxicos, mesmo em pequenas quantidades. Essa toxicidade se deve, em parte, a esses elementos estarem propensos ao fenômeno de bioacumulação, que ocorre quando um organismo absorve uma substância tóxica a uma taxa maior do que a de eliminação pelo organismo.”
No entanto, o processo nem sempre é tão simples, já que diferentes tipos de um mesmo metal podem causar efeitos diversos. Benedito afirma que o cromo trivalente é considerado relativamente inofensivo, desde que em pequenas quantidades, porém o cromo hexavalente é considerado extremamente tóxico e até cancerígeno. Ele diz que o perigo existe mesmo que as concentrações encontradas pelos pesquisadores sejam muito baixas, da ordem de ppm (partes por milhão). Isso significa, por exemplo, que em um batom que apresenta uma concentração de 1ppm de cádmio apresenta 1g desse elemento para cada mil quilos de produto. “Pensando dessa maneira, parece muito pouco. Mas o perigo está na exposição crônica a esses elementos, já que não são facilmente eliminados pelo organismo.”
Palavra de especialista
Gilvan Alves,
presidente do Congresso Brasileiro de Dermatologia 2013
“O veneno está na dose”
“Qualquer batom pode ter metais pesados, até porque algumas cores são fornecidas por alguns metais. Mas, em todos eles, a concentração é ínfima e não chega a fazer efeito. É preciso um caminhão de batom para haver problema. Para que qualquer cosmético seja liberado para comercialização, é necessário passar pela Câmara Técnica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O veneno está na dose. A água pode matar uma pessoa se ela beber 15 litros, por exemplo. Pode ter metal pesado, mas a quantidade é inócua. E é importante que a pessoa não vá comprar qualquer batom, mas que observe a fiscalização e o selo da Anvisa com a liberação.”
O trabalho foi bastante aprofundado. Inicialmente, analisaram-se as amostras por uma técnica avançada de espectometria, o que possibilitou o cálculo da quantidade de cada metal nos produtos. Depois, usando estimativas feitas em um estudo anterior, sobre as taxas de uso de batom entre 360 mulheres norte-americanas, os cientistas estimaram a quantidade de substâncias metálicas que uma usuária ingere a cada dia. Com isso, os pesquisadores acreditam que é possível verificar se o uso de cosméticos pode afetar, de alguma forma, a saúde.
Os investigadores relataram que, em média, as mulheres passam o batom 2,35 vezes por dia, e aplicam cerca de 10mg do produto em cada uma dessas vezes. O resultado sugere a ingestão de 24mg por dia. No entanto, aquelas consumidoras inveteradas podem alcançar uma ingestão de 87mg diários. “Partimos da ideia de que todo produto aplicado, se não for retirado pela usuária voluntariamente, acabaria sendo absorvido por seu organismo”, explicam os autores. Depois, bastou comparar as quantidades ingeridas com aquelas consideradas aceitáveis, de acordo com os objetivos de saúde pública para água potável, definidos pela Agência de Proteção Ambiental da Califórnia.
As estimativas de ingestão desses metais chamaram bastante a atenção da equipe de Sa Liu, principal autora do estudo. Para consumidoras medianas (24mg/dia), 31% dos produtos analisados levariam a uma ingestão de cromo acima do recomendado. Já para aquelas que apresentam um consumo alto dos cosméticos (87mg/dia), 3% das amostras provocariam uma superexposição ao alumínio; 68%, ao cromo; e 22%, ao manganês. O consumo estimado de níquel, cobre e chumbo ficou abaixo do máximo aceitável em todas as marcas, mesmo que 47% das amostras apresentem um índice de chumbo mais alto que o recomendado pela FDA, a agência reguladora de remédios e alimentos dos Estados Unidos.
Maior atenção Segundo os autores, a simples presença desses metais não é um problema. O risco está na quantidade, já que alguns dos metais tóxicos têm concentração que pode causar efeitos nocivos a longo prazo. Os cientistas afirmam que não é o caso de queimar os batons e nunca mais colorir a boca, mas sim iniciar uma discussão na busca por uma fiscalização mais atenta pelos órgãos reguladores de saúde. “Acredito que a FDA deve prestar atenção a isso”, ressalta Sa Liu.
“Nosso estudo é pequeno, usando produtos para os lábios que foram identificados por jovens mulheres na Califórnia. Mas os batons e brilhos labiais investigados são marcas comuns disponíveis nas lojas em toda parte. Baseados em nossas descobertas, mostramos a necessidade de uma maior e mais completa pesquisa de produtos para os lábios e cosméticos em geral.” A especialista destaca que, no momento, não existem normas americanas para conteúdos de metal em cosméticos e, segundo os autores, a União Europeia considera o cádmio, o cromo e o chumbo ingredientes inaceitáveis em cosméticos em qualquer nível.
O químico Luiz Eduardo Benedito, do Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB), explica que o organismo humano necessita de pequenas quantidades de alguns metais, como ferro, cobalto, cobre e zinco, que desempenham papéis em importantes processos biológicos. Quantidades adequadas desses elementos são fornecidas pelos alimentos, por meio de uma dieta saudável. A falta ou o excesso desses elementos podem trazer prejuízos à saúde. “Já outros metais, como o chumbo, o cádmio e o mercúrio, são considerados extremamente tóxicos, mesmo em pequenas quantidades. Essa toxicidade se deve, em parte, a esses elementos estarem propensos ao fenômeno de bioacumulação, que ocorre quando um organismo absorve uma substância tóxica a uma taxa maior do que a de eliminação pelo organismo.”
No entanto, o processo nem sempre é tão simples, já que diferentes tipos de um mesmo metal podem causar efeitos diversos. Benedito afirma que o cromo trivalente é considerado relativamente inofensivo, desde que em pequenas quantidades, porém o cromo hexavalente é considerado extremamente tóxico e até cancerígeno. Ele diz que o perigo existe mesmo que as concentrações encontradas pelos pesquisadores sejam muito baixas, da ordem de ppm (partes por milhão). Isso significa, por exemplo, que em um batom que apresenta uma concentração de 1ppm de cádmio apresenta 1g desse elemento para cada mil quilos de produto. “Pensando dessa maneira, parece muito pouco. Mas o perigo está na exposição crônica a esses elementos, já que não são facilmente eliminados pelo organismo.”
Palavra de especialista
Gilvan Alves,
presidente do Congresso Brasileiro de Dermatologia 2013
“O veneno está na dose”
“Qualquer batom pode ter metais pesados, até porque algumas cores são fornecidas por alguns metais. Mas, em todos eles, a concentração é ínfima e não chega a fazer efeito. É preciso um caminhão de batom para haver problema. Para que qualquer cosmético seja liberado para comercialização, é necessário passar pela Câmara Técnica da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O veneno está na dose. A água pode matar uma pessoa se ela beber 15 litros, por exemplo. Pode ter metal pesado, mas a quantidade é inócua. E é importante que a pessoa não vá comprar qualquer batom, mas que observe a fiscalização e o selo da Anvisa com a liberação.”
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