sexta-feira, 3 de maio de 2013

SP prepara pacote contra aumento da criminalidade

folha de são paulo

Governo vai criar 2.000 cargos na polícia e reduzir tempo de formação de PMs
Além de contingente maior nas ruas, objetivo é dar resposta diante de piora da violência e atenuar crítica eleitoral
ROGÉRIO PAGNANAFONSO BENITESDE SÃO PAULODiante da piora contínua dos principais indicadores da violência no Estado, o governo paulista prepara para os próximos dias um pacote de medidas que incluirá a criação de cargos na polícia e a redução do tempo de formação de PMs para acelerar a ida deles para as ruas.
O objetivo é dar uma resposta à opinião pública devido ao aumento da criminalidade, com ações que podem colocar mais policiais em atividade e melhorar a investigação a médio prazo, além de atenuar as críticas previstas no próximo ano de eleições.
Para aumentar a visibilidade nas ruas, o Estado também divulgou um reforço de policiamento noturno desde ontem na região metropolitana de São Paulo, com a utilização de equipes administrativas de 50 batalhões para atuar em blitze e bloqueios.
Entre as medidas futuras do pacote preparado estará a criação de mais de 2.000 cargos para a Polícia Científica, como peritos e médicos legistas, elevando em mais de 50% a quantidade atual de funcionários do órgão.
A Secretaria da Segurança Pública não informou quando houve a última ampliação desses quadros, mas, de acordo com peritos ouvidos pela reportagem, isso ocorreu nos anos 1980.
Outra mudança prevista pelo governo Geraldo Alckmin (do PSDB, partido que está no poder no Estado desde 1995) é a redução, de quatro para três anos, no tempo de formação de oficiais da Polícia Militar. A medida deve colocar mais cedo nas ruas cerca de 200 oficiais todos os anos.
A PM havia elevado de três para quatro anos seu curso para oficiais em 1996 --ano em que contratou a Fuvest para fazer seus vestibulares.
Na prática, a mudança deve reduzir a duração do estágio dos futuros oficiais nos batalhões --para antecipar a entrada deles em atividade.
BÔNUS
O governo também já começou a reduzir a quantidade de companhias da PM e de delegacias (no interior, algumas já foram fechadas).
A justificativa é diminuir a máquina administrativa e ampliar os operacionais.
Deve ser criado ainda um bônus a policiais que conseguirem cumprir metas de redução de índices de violência. Uma empresa trabalha com o governo para definir como será essa bonificação.
O aumento de homicídios no Estado e na capital se repete há oito meses seguidos. Os latrocínios (roubos seguidos de morte) tiveram expansão de 24,7% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2012.

    Tempo menor para formar oficial é criticado
    Especialistas em segurança são contra a redução da carga horária; reforço na área de perícia criminal é apoiado
    Bônus para policial que reduzir a violência, previsto no pacote de Geraldo Alckmin contra o crime, divide opiniões
    DE SÃO PAULOEspecialistas consultados pela Folha afirmam ser contrários à redução do tempo de formação de oficiais da Polícia Militar e favoráveis à ampliação do quadro funcional da área de perícias criminais, duas das principais medidas que devem ser anunciadas pelo governo paulista.
    O único ponto em que os três profissionais ouvidos pela reportagem divergem é no pagamento de bônus para policiais que conseguirem reduzir a criminalidade.
    O professor José dos Reis Santos Filho, do Núcleo de Estudos da Violência da Unesp, diz que a urgência na ampliação dos quadros de policiais não pode prevalecer sobre a qualificação.
    "Qual disciplina vão tirar do currículo? Direitos humanos? Essa redução do tempo é prejudicial", afirmou.
    Até quem já fez parte da corporação condenou a medida. O tenente-coronel da reserva Ricardo Jacob, vice-presidente da Associação dos Oficiais Militares de São Paulo, diz que a redução do tempo de formação é "tapar o sol com a peneira".
    "Você bota o PM mais rápido na rua, mas ele vai menos preparado", afirmou.
    O professor Ignacio Cano, membro do Laboratório de Análise de Violência da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), diz que o ideal é intensificar a qualificação dos policiais.
    "Em alguns países, quem quer seguir a carreira de oficial da polícia precisa cumprir alguns créditos na faculdade antes de entrar na área de fato. Sem isso, você terá profissionais menos qualificados e menos habituados ao nosso tempo."
    PRÊMIOS
    Com relação à proposta de premiação dos policiais por redução dos índices criminais, Santos Filho diz que pode haver uma série de falsas elucidações de crimes ou até mesmo a subnotificação de casos para que os prêmios sejam pagos.
    Para o tenente-coronel Jacob, o ideal é reajustar o salário dos policiais e padronizá-lo em todo o país.
    "Não podemos voltar ao Velho Oeste', em que as pessoas recebiam prêmios para prender bandidos."

      VILA MARIANA
      Ladrão é morto em tiroteio em frente ao metrô
      Um homem foi morto por volta do meio-dia de ontem em um tiroteio com policiais na avenida Domingos de Morais, em frente à estação Ana Rosa do Metrô, na Vila Mariana, zona sul, após tentativa frustrada de assalto a clientes de uma agência bancária. Nenhum policial ou pedestre ficou ferido.

        ANÁLISE
        Criminalidade em alta ajuda a antecipar disputa eleitoral em SP
        RANIER BRAGONEDITOR-ADJUNTO DE "PODER"Políticos adoram afirmar nas entrevistas que não estão preocupados com eleição.
        Ontem mesmo o ex-presidente Lula disse que é muito cedo para comentar um troço que só ocorrerá daqui a 17 meses. Mesmo assim, deitou falação sobre a disputa de 2014.
        Mais especificamente sobre a tarefa que, excluída a reeleição de Dilma Rousseff, é a prioridade máxima do PT: desbancar o PSDB e seus 20 anos no Palácio dos Bandeirantes. Missão mais próxima "do que nunca", na visão de Lula.
        E inexiste até agora, para os petistas, flanco de ataque tão claro como a questão da criminalidade em São Paulo. Que viveria uma "epidemia de insegurança" nas palavras do próprio vice-governador do Estado, cuja filha foi vítima de tentativa de assalto.
        Assim como Lula, Geraldo Alckmin repetirá que eleição é em "ano par" e que agora é hora de "amassar o barro". É o que pretende demonstrar com o pacote antiviolência e a cruzada para endurecer punições de jovens infratores.
        Mas fica evidente que, para os dois lados, a sova no barro eleitoral já está a todo vapor.

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