Tivemos nas comemorações do Dia do Trabalho uma prova do vigor da democracia no Brasil e de sua importância na preservação de conquistas passadas da sociedade.
Faço referência aos encontros promovidos pelas maiores centrais sindicais do país, em São Paulo -com a presença de mais de 1 milhão de pessoas segundo a mídia-, e nos quais o tema da inflação dominou as palavras de muitos líderes presentes.
Nem mesmo o absurdo das propostas defendidas por alguns -como é o caso da volta do gatilho salarial- reduz a importância da volta da inflação como tema político relevante. E a repercussão desses acontecimentos na imprensa ampliou na opinião pública o debate sobre os riscos com a inflação que existem hoje no Brasil.
Muitos poderão dizer que as palavras de algumas lideranças têm objetivos eleitorais de curto prazo e reagem com menos entusiasmo a esses acontecimentos. Respondo eu com a observação singela, mas verdadeira, de que eleições são os momentos mais ricos de uma democracia e, se a perda do vigor no controle da inflação no Brasil de hoje é um fato real, nada mais correto que fazer dele um tema eleitoral.
O compromisso com o controle da inflação é uma das cláusulas pétreas da democracia brasileira nas últimas duas décadas e não pode ser esquecida por nenhum governante. Afinal, tivemos entre 1979 e 1994 um período de mais de 15 anos em que a renda real média do brasileiro reduziu-se em mais de 2,5% ao ano em razão da inflação. Somente em 1994, com o Plano Real, é que a sociedade reconquistou a estabilidade de preços como valor social e um novo futuro no campo econômico.
Nos anos seguintes, graças ao trabalho político de dois presidentes é que essa característica de cláusula pétrea da nossa democracia tomou forma.
E ficou, como herança desse período, o compromisso com um arcabouço macroeconômico que garanta a estabilidade de preços de forma sistêmica e perene.
Pois no governo Dilma -pouco a pouco- esse compromisso com a estabilidade de preços foi se enfraquecendo. Vivendo uma realidade econômica diversa da que marcou os anos dourados de seu antecessor, tivemos gradualmente a volta do pensamento que prevaleceu no Brasil dos militares depois do segundo choque do petróleo, em 1979: é preferível ter um pouco mais de inflação se o resultado for um crescimento econômico maior. Foi esse mantra que nos levou -lenta e gradativamente- ao período citado acima de hiperinflação e queda de renda real.
A nossa presidenta, neste mesmo Dia do Trabalho, apresentou-se em cadeia nacional de televisão para reafirmar seu compromisso com a estabilidade de preços, compromisso reafirmado também por um importante ministro da área social de seu governo no encontro da CUT.
Nos meses que nos separam das eleições do próximo ano, muita água vai passar pela ponte da inflação. E os dois lados -governo e oposição- terão tempo e informação suficientes para desenvolver seus discursos e seduzir os eleitores nas urnas com esse tema.
Mas uma verdade se impõe a partir das comemorações do Dia do Trabalho neste ano de 2013: a questão da inflação -e seu controle pelo governo- passará a ser um item prioritário do debate político eleitoral. Esse fato em si representa um reconhecimento de que a inflação ainda é, para o brasileiro, um elemento importante, apesar de um período longo em que essa questão ficou afastada do debate político. Fico feliz com isso e mais otimista com a condução da política econômica daqui para a frente.
Apesar de não fazer parte do grupo de analistas que entendem estarmos vivendo um período agudo de perda de controle da inflação, preocupava-me a volta ao centro das decisões do Palácio do Planalto dos "conselheiros" que preferem UM POUCO MAIS DE INFLAÇÃO PARA TER UM POUCO MAIS DE CRESCIMENTO.
Os indícios de que a presidenta escuta seus argumentos são crescentes e temo que, sem a pressão da opinião pública e da oposição política mobilizada pelas eleições do próximo ano, o governo vai acabar por trilhar o caminho da época dos militares.
Luiz Carlos Mendonça de Barros é engenheiro e economista, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações (governo FHC). É sócio e editor do site de economia e política 'Primeira Leitura'. Escreve às sextas, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.
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