Ailton Magioli
Estado de Minas: 09/06/2013 04:00
Quando o formato parecia esgotado, diante da utilização excessiva, Leila Pinheiro, de 52 anos, e Nelson Faria, de 50, lançam Céu e mar (Biscoito Fino), retomando antiga fórmula de duo voz e guitarra (no caso, eletroacústica). Verdade que o repertório, além da atuação exemplar de ambos, é grande responsável pelo acerto do disco.
Inspirado em série gravada nos anos 1970-80 por Ella Fitzgerald e o guitarrista Joe Pass, Céu e mar tem tudo para se tornar clássico, a exemplo de Voz & suor, de Nana Caymmi (voz) e César Camargo Mariano (piano), de 1983, entre poucos no Brasil. Há quem, como Roberto Menescal, à primeira audição tenha identificado também Julie London e Barney Kessel no célebre encontro fonográfico da Musidisc, que teria influenciado papas da bossa nova.
A idealização e a produção de Céu e mar, lançado no mercado internacional ano passado, pelo selo inglês Far Out, é de Marcus Fernando. O produtor viu a oportunidade de reunir a musicalidade de Leila (que, além de pianista, ele diz ter intuição rítmica) a um guitarrista virtuoso, para interpretar clássicos de Tom Jobim (Sucedeu assim, com Marino Pinto); Johnny Alf (a música-título do disco); Marcos e Paulo Sérgio Valle (O amor é chama); Edu Lobo (Dos navegantes, com Paulo César Pinheiro); Francis Hime (Embarcação, com Chico Buarque); e Doris Fischer (That old devil called love, com Alan Roberts, do repertório de Billie Holiday), entre outros.
“É a essência da essência da essência”, resume Leila, dizendo que o primeiro disco que fez no formato nada mais é do que a continuação do que vem fazendo ao piano. “Aqui, dividindo com Nelson Faria, um dos instrumentistas que mais tem a consciência e o prazer do acompanhamento, além de ser grande arranjador”, diz a cantora. Leila planeja sair em turnê com o guitarrista mineiro, que atualmente vive na ponte aérea entre Orebro-Rio (ele ministra aulas em universidade da cidade sueca).
Em casa Nelson acredita que Leila esteja entre as melhores cantoras do Brasil. “É uma intérprete incrível”, afirma. Segundo ele, o disco gravado no estúdio de Leila foi feito em clima de ao vivo. “Eu tocando e ela cantando junto comigo, em ambiente superdescontraído, na casa dela, como se fosse uma sala de estar”, recorda o guitarrista. O repertório, segundo ele, “é o sumo das cerca de 40 composições” que selecionaram, inicialmente. Entre as 12 músicas do CD estão Doce presença, de Ivan Lins e Vitor Martins; Cada um tem seu lugar, de Gilberto Gil; Armadilhas de um romance, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro; Bolero de satã, de Guinga e Paulo César Pinheiro; e Dupla traição, de Djavan. “É um disco muito profundo”, acrescenta Nelson Faria.
Apesar da prática em duo nos palcos (em shows com Guinga ou Lula Galvão), o formato é inteiramente novo para Leila em disco. “Na verdade, fizemos o CD para Europa e Estados Unidos, que se interessam pela coisa mais acústica e íntima”, revela a cantora. “A intenção foi visitar um cancioneiro inteiramente original na minha voz”, acrescenta, lembrando que, depois de 15 dias de ensaios, o CD foi gravado em apenas uma semana. Apesar da fartura do repertório, selecionado por Leila e Nelson ao lado do produtor, ela garante que a escolha não foi fácil.
“Nem tudo cai bem no formato”, justifica a intérprete, que até então nunca havia cantado canções como Céu e mar e Armadilhas de um romance. “Aos poucos, elas foram vindo”, conclui, feliz com o resultado. Paralelamente ao duo, Leila vem se dividindo entre show solo (voz e piano), outro no qual canta apenas mulheres, e o mais recente, Eu canto samba, no qual defende pérolas de Ari Barroso, Noel Rosa, Cartola, Arlindo Cruz, Almir Guineto e Zeca Pagodinho, ao lado de cinco jovens músicos da Serrinha, comunidade ligada ao Império Serrano, no Rio.
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