O tucanato botou o dinheiro para trabalhar
Com os juros a 8%, FHC saiu da paz da renda fixa, que durante seu governo pagava 26,6%, e foi para a produção
Fernando Henrique Cardoso, dois de seus ex-ministros e mais seis sócios criaram uma empresa que investirá num empreendimento imobiliário. Chama-se Sarlat e tem R$ 1,9 milhão de capital, com R$ 222 mil dele.
O ex-presidente explicou: "É difícil encontrar investimento em renda fixa que dê alguma coisa".
Investimento em renda fixa é aquele em que o sujeito fica em casa e seu dinheiro rende os juros fixados pelo Banco Central. Durante o tucanato, esse tipo de aplicação rendeu, na média, 26,6% ao ano, com um pico de 45%. Hoje, a Selic paga 8%.
Em 1995, quem botava dinheiro em fundos de renda fixa nos Estados Unidos faturava 10,9%. Em Pindorama, naquele ano, renderam 18% em valores reais.
FHC tem toda razão: "É difícil encontrar investimento em renda fixa que dê alguma coisa". Portanto, é melhor botar o dinheiro para trabalhar.
Os tucanos da Sarlat mostraram que confiam no país e patrocinaram uma linda peça de propaganda para a doutora Dilma.
NA ARENA
No domingo passado o ministro Joaquim Barbosa estava no Maracanã. Assistiu ao jogo Brasil x Inglaterra com o filho no camarote do apresentador Luciano Huck e de sua mulher, Angélica.
Um curioso viu a fila de pessoas que esperavam uma oportunidade para se deixarem fotografar a seu lado e contou pelo menos 20 torcedores.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e está inteiramente de acordo com o que disse o advogado de Thor Batista depois que ele foi condenado a pagar uma multa de R$ 1 milhão e a prestar dois anos de serviços comunitários por ter atropelado Wanderson dos Santos, matando-o:
"Ele só foi punido porque é rico."
O idiota acredita que a recíproca é verdadeira: Wanderson, de 30 anos, só morreu porque era pobre. Ajudante de caminhoneiro, pedalava sua bicicleta numa noite de sábado na rodovia Washington Luís.
RECORDAR É VIVER
"Eu estou começando a achar que os problemas deste país não são produto da inflação, como geralmente se acredita, mas em velhos problemas de monopólio, mau marketing, especulação e uma banca imediatista. Com certeza, a inflação tem alguma coisa a ver com isso."
Quem escreveu esse texto, em 1945, foi Adolf Berle Jr., um dos grandes teóricos do capitalismo moderno. Ele acabara de chegar ao Brasil como embaixador dos Estados Unidos e surpreendera-se ao ver que não havia quem lhe dissesse qual era o PIB brasileiro.
Em 1945 a inflação estava em torno de 7%.
REGISTRO
Em 2007, quando foi decidido que a Copa do Mundo de 2014 seria disputada no Brasil, a doutora Dilma estava na Casa Civil, convencida de que o problema dos aeroportos não era a primeira prioridade para o evento.
Ela acreditava, e nunca deixou de acreditar, que o problema tráfego aéreo seria resolvido com a construção de puxadinhos nos aeroportos existentes. Todas as declarações oficiais informando as obras de expansão real dos aeroportos tiveram um componente de ficção. Se os puxadinhos funcionarem, a gerentona leva. Se não, paga.
GEOMETRIA
O doutor Luís Roberto Barroso, novo ministro do STF, informou ao Senado que, a seu ver, as condenações do mensalão foram "um ponto fora da curva" na jurisprudência da corte. Trata-se de uma observação gráfica. Resta saber se Barroso aproximará a curva do ponto ou se ajudará a puxá-lo de volta.
O PODER DA CURVA
O Judiciário brasileiro livrou a cara dos estudantes de medicina da USP que em 1999 participaram do trote que resultou na morte do estudante Edison Tsung Chi Hsueh. Eles se chamam Frederico Carlos Jana Neto, Ari de Azevedo Marques Neto, Guilherme Novita Garcia e Luís Eduardo Passarelli Tirico. O Supremo Tribunal Federal encerrou o litígio por cinco votos contra três (Joaquim Barbosa, Marco Aurélio Mello e Teori Zavascki). O caso está encerrado e, como diria o ministro Barroso, foi um ponto dentro da curva. Vale a pena lembrar que a China não esquece quando seus nacionais ou mesmo seus descendentes são tratados de forma que considera discriminatória. Ainda bem. Todo mundo fez seu serviço, a polícia, o Ministério Público e a imprensa, mas são enormes os poderes da curva.
A PRIVATARIA PETISTA CHEGOU À FIOCRUZ
A pesquisa científica brasileira tem duas joias na sua coroa, a Embrapa e a Fiocruz. Uma cuida de agricultura, e a outra, da saúde pública. Infelizmente, pela segunda vez em menos de dois anos, a instituição fundada por Oswaldo Cruz pula do catálogo das citações científicas para o noticiário dos negócios.
Em 2011 seus diretores firmaram (sem licitação) um contrato de R$ 365 milhões com a empresa portuguesa Alert para receber um sistema de gestão eletrônica de dados. Seu credenciamento foi justificado com a certificação de uma instituição internacional que, expressamente, vedava o uso de seu nome para "validação" de empresas ou programas. Ao apito, o contrato foi suspenso temporariamente, mas teve no ministro Alexandre Padilha um explicador da iniciativa. Passou o tempo, o cancelamento tornou-se definitivo e, para tranquilidade dos interessados, não se falou mais no assunto.
Agora a Fiocruz volta ao palco. Desde 1991 seus 5.000 servidores e seus familiares estão associados ao plano da instituição, o FioSaúde. Como quase todos os planos de funcionários públicos ou de empresas estatais, ele é deficitário. Em 2012 o buraco ficou em torno de R$ 4 milhões.
Quando um cidadão pensa num plano de saúde da Fiocruz, associa-o à excelência do conhecimento das pessoas que lá trabalham. Como o plano é deficitário, alguma coisa está errada. Desde sua criação a FioSaúde foi dirigida por servidores da Fiocruz. No ano passado o comissariado entregou sua diretoria-executiva ao doutor José Antonio Diniz de Oliveira, que vinha da Axismed, uma empresa de produtos de gestão de planos que, em 2011, prestava serviços à operadora da Funasa. A diretora-presidente da firma vinha a ser sua mulher. Posteriormente ela deixou a empresa e fundou uma associação de prestadores de serviços, na qual é a superintendente-executiva.
Em janeiro deste ano o doutor Diniz rescindiu o contrato com a empresa que geria o FioSaúde, e contratou quem? A Axismed. Em março a FioSaúde transferiu para a mesma empresa a gestão do seu programa próprio de tratamento de pacientes crônicos e na semana passada cancelou o serviço de visitas hospitalares.
Se a Fiocruz precisa da porta giratória para administrar a gestão da saúde de seus funcionários, não entende de medicina, ou não sabe fazer contas. Nesse caso, com um orçamento de R$ 2,4 bilhões, o nome do doutor Oswaldo Cruz está em perigo.
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