SILVIA BITTENCOURT
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA de são paulo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA de são paulo
O que Poderia ter coroado a carreira do político franco-alemão Daniel Cohn-Bendit, o ex-rebelde "Dany, o Vermelho" e hoje deputado europeu, acabou deflagrando uma onda de indignação na Alemanha. Tudo por causa de uma declaração infeliz feita nos anos 70 e que voltou à tona em abril, quando o político recebeu o prestigiado Prêmio Theodor Heuss, por seu engajamento na consolidação da democracia alemã.
Em "O Grande Bazar" (Brasiliense), Cohn-Bendit disse ter "acariciado" sexualmente crianças, a pedido delas, quando trabalhava como educador num jardim de infância em Frankfurt --para onde foi depois de liderar o movimento estudantil em Paris, em 1968, e perder a nacionalidade francesa. Publicadas na Alemanha em 1975, no auge da campanha pela libertação sexual, as declarações de Cohn-Bendit passaram (quase) despercebidas na época.
Traumatizada em face dos recentes escândalos de pedofilia envolvendo célebres educadores e padres de escolas de elite, a Alemanha desenterrou a obra de Cohn-Bendit e retomou o assunto. Políticos boicotaram a entrega do prêmio, manifestantes importunaram a cerimônia com vaias e até hoje cartas de leitores ocupam os jornais.
PEDRA NO SAPATO
Na biografia "Richard Wagner "" Um Campo Minado" (Propyläen), o historiador Gottfried Wagner não poupa adjetivos ao seu bisavô, um dos monstros da música alemã: além de antissemita, intrigante, carreirista, autólatra e necrófilo, um homem que desprezava as mulheres.
Por seu antissemitismo e pela proximidade de sua família com Hitler, Wagner sempre foi uma figura polêmica na Alemanha: de um lado, os wagnerianos e sua meca, a cidade bávara Bayreuth; de outro, os que exigem um tratamento crítico da biografia e obra do compositor ou que o boicotam.
O livro abalou as comemorações do bicentenário de Wagner, que vem sendo lembrado em uma série de eventos em todo o país. E tornou-se uma pedra no sapato da família do compositor, que sempre cultivou o mito Wagner acriticamente.
INSOLVENTE
A Alemanha vem assistindo com pesar às querelas envolvendo a mais tradicional de suas editoras, a Suhrkamp, que acaba de abrir um processo de insolvência. É o ápice de uma briga entre a viúva do editor Siegfried Unseld e o sócio, Hans Barlach.
Segundo a última decisão judicial, Ulla Unseld-Berkéwicz, atual chefe da Suhrkamp, deve pagar a Barlach mais de € 2 milhões em dividendos. Os conflitos começaram anos atrás e se acirraram de tal forma que vários autores vêm ameaçando deixar a editora. Célebre é a coleção "Edition Suhrkamp", livros de bolso trazendo grandes obras de autores como Bertold Brecht, Hans Magnus Enzensberger, Jürgen Habermas e Peter Sloterdijk.
VAIAS EM CANNES
Enquanto a cena cinematográfica alemã lamentou ficar mais um ano fora da competição em Cannes, a cineasta Katrin Gebbe comemora até hoje a participação de seu primeiro longa, "Tore Dança", na programação paralela, a única contribuição do país no evento.
Trata-se de um drama baseado em fatos reais: um jovem chamado Tore, integrante de um grupo de "punk-cristão", acaba martirizado e escravizado por um casal sadomasoquista.
Violento ao extremo, o filme até recebeu vaias em Cannes. Mas revelou jovens atores (como Julius Feldmeier) e abriu as portas, dentro e fora da Alemanha, para Gebbe, aos 30 anos e recém-formada.
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