domingo, 9 de junho de 2013

A Copa e são Pedro e Um outro olhar para as eleições do Irã - Tendências/debates

folha de são paulo
W. MOREIRA FRANCO
A Copa e são Pedro
Aos passageiros, peço desculpas. Nosso poder de negociação com são Pedro é baixo. Mas investimos na melhoria dos aeroportos
Nas últimas semanas, passageiros ficaram retidos no aeroporto Santos Dumont, no Rio, depois de alguns fechamentos devido ao mau tempo. Houve protestos. "Imagina na Copa", diziam cartazes improvisados exibidos por um grupo de usuários. Sua mensagem não poderia ser menos sutil: para eles, os aeroportos brasileiros não funcionam bem e vão ficar ainda piores no Mundial de 2014.
O recado é de causar preocupação em qualquer gestor público. Eu mesmo não sei se teria encarado os acontecimentos com o mesmo estoicismo e bom humor. A mensagem, porém, precisa ser bem analisada para que a crítica faça sentido.
De um lado, há a situação atual da infraestrutura aeroportuária, sabidamente insatisfatória. De outro, há vicissitudes climatológicas e geográficas nas quais a capacidade de intervenção do poder público, como se sabe, é limitada.
Nem sempre os passageiros podem contar com são Pedro. O aeroporto O'Hare, em Chicago, por exemplo, costuma fechar devido a nevascas. O Afonso Pena, em Curitiba, por causa da neblina. No Rio, os períodos de interrupção pelo clima são relativamente poucos: apenas 0,34% do tempo de operação.
Evidentemente, não dá para comparar Chicago com o Rio em conforto e na agilidade. Pior ainda, com o aumento dos eventos climáticos extremos, o quadro tende a se agravar.
Uma forma de mitigar o problema é uma gestão adequada nos aeroportos e planos de contingência. Outra é equipá-los com sistemas de pouso por instrumentos, conhecidos como ILS.
Existem três grandes categorias de ILS. A categoria 3, instalada em alguns aeroportos dos EUA e da Europa, permite o pouso em condições de visibilidade e teto praticamente nulas. Porém, exige largura de pista e condições de entorno que simplesmente não existem em aeroportos como o Santos Dumont, espremido entre o movimento dos navios na baía da Guanabara, as montanhas e os arranha-céus.
O aeroporto de Guarulhos já está recebendo o sistema mais moderno --que exigirá, por sua vez, um esforço de adequação das companhias aéreas. O Santos Dumont demanda mais visibilidade. Portanto, está fadado a permanecer com o ILS categoria 1. Se o céu cair ele vai fechar, mesmo em dia de jogo da Copa.
O governo intervém ativamente. Essa é, afinal, uma das razões pelas quais a Secretaria de Aviação Civil foi criada. Serão investidos até a Copa R$ 8,5 bilhões nos grandes aeroportos, sendo R$ 4,9 bilhões pelo governo no PAC-2, que tem 23 aeroportos. Outros R$ 3,6 bilhões estão sendo investidos pela iniciativa privada nos aeroportos concedidos em 2012 --Guarulhos, Viracopos, Brasília e São Gonçalo do Amarante (RN).
Lançamos um programa de estímulo à aviação regional, de R$ 7,3 bilhões, que inclui 270 aeroportos. A capacidade de passageiros dos 15 principais aeroportos do país crescerá 41% após essas reformas.
É importante lembrar que a capacidade do governo de mobilizar recursos para investimentos dessa monta é recente: o país passou muitos anos, da crise da dívida de 1982 até o segundo governo Lula, sem dinheiro para gastar. Isso criou excesso de burocracia para barrar os gastos. Empresas fecharam, engenheiros migraram para o mercado financeiro. Como resultado, alguns projetos hoje são feitos por empresas que não têm massa crítica para garantir sua qualidade. Precisam ser refeitos, e isso atrasa as obras.
Se quisermos uma infraestrutura aeroportuária à altura do que o nosso cliente --o contribuinte-- merece e paga impostos para ter, precisamos do melhor da engenharia e da arquitetura. Isso custa caro. Os preços praticados pela Infraero estão abaixo do valor de mercado. Estamos conversando com o Tribunal de Contas da União para solucionar a questão. Gastar não é pecado.
Aos passageiros retidos no Santos Dumont, peço desculpas pelo transtorno e reafirmo: nosso poder de negociação com são Pedro é baixo. Porém, a melhoria dos aeroportos é um desafio que o governo está enfrentando e confia em que resolverá.
    ALI MOHAGHEGH
    Um outro olhar para as eleições do Irã
    Alguns países até tentam influenciar as eleições do Irã. Mas, na sexta, como sempre, o voto do povo será a primeira e a última palavra
    A democracia é resultado de um contrato social que coordena as relações entre o indivíduo e a sociedade. Se determinado povo se comporta conforme orientações religiosas, neste caso, a religião exerce papel central no contrato social. Isso acontece na sociedade teocrata iraniana.
    O sistema da democracia religiosa no Irã não começou com a vitória da Revolução Islâmica de 1979, há 34 anos. A luta pela democracia tem uma história de pelo menos 107 anos, durante os quais clérigos e teólogos se encarregaram da liderança, teorizando movimentos libertadores e mobilizando o povo, os intelectuais e os ativistas civis.
    A conjuntura histórica contemporânea iraniana está dividida em três momentos importantes: a Revolução Constitucional, a formação do governo do Mossadegh e a vitória da Revolução Islâmica.
    A Revolução Constitucional em 1906 gerou grande expectativa no povo iraniano no sentido de gozar de um Estado de Direito. Suspensa em 1921 por um golpe de Estado planejado pela Inglaterra, deu lugar a um regime ditatorial instalado por Reza Pahlavi.
    O governo de Mohammed Mossadegh, com o apoio do grande aiatolá Kachani e dos movimentos sociais, revitalizou a Constituição por meio de uma luta contra a colonização. Nacionalizou o petróleo, provocou a fúria das potências.
    Em 8 de agosto de 1953, Mossadegh foi destituído do poder por um golpe de Estado planejado pelos EUA e pela Inglaterra. Ao apoiarem o xá Reza Pahlavi, fizeram do Irã sua principal base no Oriente Médio.
    Como continuidade do processo democrático, em 11 de fevereiro de 1979, ocorreu a Revolução Islâmica, com a liderança do aiatolá Khomeini. Nos 34 anos que se sucederam, as tentativas do Ocidente de lidar com a Revolução Islâmica reforçaram a nossa luta pela soberania contra a intervenção estrangeira.
    A imposição da guerra contra o Irã, amplas e injustas sanções, assassinatos de cientistas e dignitários, o apoio a grupos terroristas e a cobertura pejorativa da mídia fortaleceram as aspirações da revolução.
    O paradoxo é que a maioria dos atuais aliados dos EUA na região são países não democráticos. O povo iraniano considera a ingerência externa como a principal ameaça à sua democracia. Por isso, questiona se a tentativa de influenciar o processo eleitoral do Irã tem o mesmo intuito do passado de assegurar os seus interesses e ir contra os nossos.
    Durante os últimos 34 anos, foram realizadas mais de 30 eleições no Irã. Elas têm ganhado repercussão internacional, inclusive entre altas autoridades ocidentais. Seria incompleta um análise que não incluísse a Constituição e o funcionamento das instâncias encarregadas do processo eleitoral no Irã.
    Naturalmente, cada país adota um procedimento legal diferente para campanhas eleitorais e não há um modelo-padrão universal. A aprovação da qualificação de candidatos no Irã tem o seu próprio mecanismo. Vê-se que alguns países até tentam influenciar na escolha dos nomes dos candidatos presidenciais da República Islâmica do Irã.
    Atualmente, estão nos comícios candidatos de diferentes tendências. E vários espectros políticos chegaram ao poder ao longo dos últimos 34 anos. Na eleição de sexta, como sempre, o voto do povo será a primeira e a última palavra.

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