A força das raízes
O Brasil iniciou de forma duríssima um programa de estabilização no primeiro semestre de 2003, que rapidamente ganhou a confiança da sociedade e do mercado.
O país voltou a crescer e, em julho de 2004, entrou numa sucessão de 51 meses de expansão econômica só interrompida pela crise de 2008, voltando a crescer desde então.
Nesse período, o Brasil usufruiu o que chamo de bônus da estabilização, que abriu grande espaço para o aumento do crédito e a absorção gradual de um número enorme de desempregados numa economia em expansão.
Esgotado esse período, com o desemprego já baixo e o crédito em fase de moderação de crescimento, entramos na época da produtividade.
É um assunto discutido extensivamente na mídia, na academia e entre analistas. Todos concordam com o diagnóstico e com soluções conhecidas, como os investimentos em infraestrutura e em educação, as reformas tributária e trabalhista etc.
Mas devemos olhar também outra questão importante: a nossa tradição ibérica.
Portugal e Espanha, grandes potências marítimas, dividiram o mundo não europeu ao meio no final do século 15 com o Tratado de Tordesilhas.
A Espanha, em alguns anos, descobriu reservas abundantes de ouro no México e de prata e de ouro no Peru. Em poucas décadas, extraiu uma quantidade de ouro três ve- zes superior ao total então existente na Europa antes da expedição de Colombo. E, como ouro e prata eram as moedas correntes na época, a Espanha tornou-se a grande potência mundial.
Aspecto relevante ao Brasil de hoje é entendermos o que a Espanha fez (e não fez) com essa riqueza. O Estado espanhol logo criou uma enorme burocracia para controlar a produção, a distribuição e a comercialização desses metais até o ponto em que a atividade produtiva perdeu relevância e a economia espanhola passou a girar em torno da administração e do controle da riqueza extraída das Américas. Processo muito semelhante ocorreu em Portugal.
Enquanto isso, os países do norte da Europa, sem acesso àquela riqueza bruta, tiveram de criar condições para gerar recursos por meio do empreendedorismo e do desenvolvimento comercial, que alguns séculos depois levaram essas nações à industrialização.
A grande lição a tirar dessas experiências históricas é que o caminho para o crescimento passa pela maior eficiência do Estado nas suas funções básicas de prover serviços fundamentais e de criar regras estáveis que promovam a livre competição, desenvolvam os mercados e assegurem liberdade para a sociedade empreender, trabalhar e buscar produtividade.
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