Dos 564 assassinatos registrados na última década, 319 foram no Estado
Antropóloga atribui dados ao avanço do agronegócio; federação de produtores afirma que há problema social
Balanço do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), órgão de defesa dos índios ligado à Igreja Católica, mostra que 319 dos 564 casos registrados na última década no Brasil ocorreram no Estado.
Desde 2005, o número de mortes em MS é maior que no restante do Brasil. O Estado tem a segunda maior população indígena do país (77.025).
Dos 61 índios assassinados no ano passado, 37 morreram em Mato Grosso do Sul.
Nem todas as mortes foram resultado de conflito com produtores rurais. Há casos em que um índio matou o outro, segundo o Cimi, que não tem os números de cada tipo de caso. Independentemente da autoria, o conselho diz que todas as mortes estão ligadas à disputa por terra.
"Além de casos frequentes de mortes em conflitos com o agronegócio, os povos indígenas vivem em confinamento, em vulnerabilidade social devido ao pouco espaço por eles ocupado, o que acaba resultando em violência", diz o secretário-executivo do Cimi, Cleber Buzatto.
Nas últimas duas semanas, um índio morreu em confronto com as polícias Federal e Militar e outro levou um tiro na coluna e pode ficar tetraplégico. Os casos motivaram a maior crise indígena do governo Dilma --anteontem, a presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Marta Azevedo, deixou o cargo.
PROPRIEDADE
A antropóloga Lucia Helena Rangel, da PUC-SP, também atribui o elevado número de mortes ao avanço do agronegócio. "Hoje há mais visibilidade [da situação], mas também há um agravamento com essa sede do agronegócio, que aumenta assustadoramente no Brasil", diz.
Os ruralistas se defendem e dizem que dados do Cimi escondem a realidade.
Segundo Carlo Coldibelli, assessor jurídico da Famasul, federação que representa produtores de MS, dados do governo estadual comprovam que, na maioria dos casos, índio matou índio, houve consumo de álcool e uso de armas brancas, como facas.
"Atribuir [as mortes] ao conflito fundiário é manipular a informação e camuflar o problema social", diz.
Mas os ruralistas não descartam que possa haver reação dos fazendeiros na defesa de suas propriedades. "A postura geral do produtor rural em MS sempre foi buscar na Justiça a preservação dos seus direitos. Mas a própria legislação confere a qualquer cidadão [o direito] à defesa do seu patrimônio", afirma.
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