Aos 72, Betty Faria não reluta em exibir o corpo de bíquini na praia
A atriz Betty Faria, 72, tem uma coleção de biquínis. Um para cada dia da semana. Nos últimos tempos, passou a falar bastante sobre eles. Não para comentar cores, estampas ou modelos. E sim para questionar o padrão vigente na orla carioca.
Betty Faria defende direito de usar biquíni
Ver em tamanho maior »
Betty em 2010, no lançamento da novela "Uma Rosa com Amor", do SBT, na qual atuou
*
"Por que não posso usar biquíni?", pergunta Betty. "A mulher vai envelhecendo e passa a viver com restrições: algumas físicas e outras impostas pela sociedade. Não vou ser uma coroa boazinha e seguir as regras estabelecidas", diz, antes de cruzar os braços numa "banana". "Estão querendo que eu use uma burca?", já chegou a dizer, defendo o direito de "ser velha".
*
Nos dias de sol, Betty observa da janela de seu apartamento o tom do mar no Leblon. Se estiver bonito, sem sinais de sujeira, ela atravessa a rua e vai até a praia. Gosta da sensação de caminhar pela areia molhada. Diz que faz bem para a alma, assim como um bom mergulho.
*
Ela se ajeita na cadeira do restaurante próximo de sua casa, onde conversou com o repórter Fabio Brisolla. E revela: "Soube que os donos de quiosques dão o serviço para os paparazzi".
*
Neste caso, o serviço é a chance de fotografar a atriz em trajes de banho, assim como ocorre com outros artistas a flanar pelo badalado bairro da zona sul do Rio. Já nem sabe quantas vezes foi clicada nas areias do Leblon.
*
Um dos primeiros registros ocorreu há cerca de três anos: Betty saía da água com os cabelos revirados e o biquíni torto, imagem eternizada minutos depois pelos sites de celebridades. "É uma foto horrorosa, mas não me aborreceu. O que me deu raiva foi a reação das pessoas, os comentários. Fiquei assustada com aquilo."
*
Ao acessar a internet, encontrou no espaço reservado aos leitores uma sequência de insultos. Muitos consideraram o traje inapropriado para a idade da atriz.
*
Em fevereiro, outro fotógrafo captou uma variação sobre o mesmo tema. A nova foto de biquíni passou a ser compartilhada em blogs, sites e redes sociais. "Lidei melhor com essa situação quando percebi que, sem querer, virei uma referência para muitas mulheres da minha idade. Significou uma carta de alforria para elas."
*
Pelo Twitter, a atriz costuma responder às críticas e aos elogios. Abriu uma conta na rede social (@betty_faria_) em 2012. Online, ela também sabe provocar.
*
Recentemente, postou a mensagem: "A presidente está gorda".
*
"Tenho uma lente para rir de mim mesma e também dos outros. Você leu a história da presidente gorda?" Diante da resposta afirmativa, ela prossegue: "Mas ela está gorda mesmo e tem usado roupas muito feias. Precisa de um personal stylist".
*
A patrulha a aborrece. Outro dia pensou em comentar notícia sobre missões em Marte, mas anteviu as críticas e desistiu. "Já existem candidatos interessados em morar lá. Sabia disso? Eu só espero que o processo de povoamento seja mais criterioso do que a colonização do Brasil. "Pra cá, veio um bando de filhos da puta."
*
Já criticou também, em mensagens na rede, as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) instaladas em favelas cariocas. "Disse que não acreditava nessa pacificação das favelas. Me xingaram de todos os nomes", lembra Betty. "Está aí o resultado. Turista levando tiro em favela [referindo-se ao alemão baleado em passeio pela Rocinha]. Os traficantes continuam por lá. Eu sou do Rio. Sou carioca. Vou acreditar em pacificação? Isso é história..."
*
A carreira da atriz também garante uma boa parcela de elogios nas redes sociais. São mais de 30 novelas, mais de 20 filmes e dois ensaios para a revista "Playboy", quando era considerada um símbolo sexual, nos anos 70 e 80. Seu trabalho mais recente é uma participação no novo longa do amigo Hugo Carvana, "A Casa da Mãe Joana 2", previsto para ser lançado ainda neste ano.
*
No mês passado, Betty agradeceu as mensagens de carinho recebidas após uma cirurgia. Ela operou o olho direito. A catarata foi um efeito colateral causado pelo uso prolongado de cortisona, substância que age como um potente anti-inflamatório. "Estava com apenas 40% da visão", afirma ela. "Por isso, meu carro estava sempre com batidas na lateral", diz.
*
Até hoje, a atriz não tem o diagnóstico exato da doença que enfrenta há muitos anos e que a obriga a tomar os medicamentos.
*
Os sintomas são semelhantes aos da polimialgia, que pode causar rigidez muscular. "Sentia dores pelo corpo inteiro. Inflama tudo. É uma coisa paralisante."
*
A atriz tomou cortisona por cinco anos, incluindo o período entre 2009 e 2011, quando encenou o monólogo "Shirley Valentine". Além de consumir diariamente comprimidos, passou a recorrer também a injeções. "Com isso, não sentia nada. Entrava em cena pronta para dançar 'A Noviça Rebelde'. A cortisona é uma maravilha, mas causa efeitos terríveis."
*
Betty tinha medo de literalmente travar em cena e não conseguir se mover diante do público. O término da temporada representou o fim de um tormento.
*
"Comecei a diminuir as doses até conseguir me livrar da cortisona. Dizem que é um processo de desintoxicação semelhante ao da heroína", diz, com olhos arregalados.
*
Ao longo da conversa, a atriz pontua suas frases com expressões exageradas e gestos largos, encontrados em muitos de seus personagens. "Há um ano e meio, estou me tratando com remédios naturais. Consegui negociar com todos os diagnósticos e estou aqui, feliz."
*
Em função dos problemas, a única atividade física na agenda de Betty é a sessão de hidroterapia, em uma academia no bairro do Humaitá, na zona sul. "Como fiz balé a vida inteira, o que me dá prazer mesmo é uma aula de dança. Mas infelizmente já não tenho mais joelho para isso." Mesmo não tendo tendência a ganhar peso, está atenta à silhueta. "Às vezes, engordo aqueles dois ou três quilos que as mulheres odeiam. Começo imediatamente um regime." Já se recusou a responder se algum dia fez plástica.
*
Nos dias de sol, também é vista na praia do Leblon na companhia de seus quatro netos. Na função de avó, a atriz abandona o biquíni e saca do fundo do armário... um maiô. "Uso quando preciso de mobilidade para mergulhar de repente e puxar um deles pela mão, se for preciso. É mais prático."
Mônica Bergamo, jornalista, assina coluna diária publicada na página 2 da versão impressa de "Ilustrada". Traz informações sobre diversas áreas, entre elas, política, moda e coluna social. Está na Folha desde abril de 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário