Livro de Jaime Pinsky quer ampliar o
diálogo dos especialistas com o leitor interessado nas grandes e
pequenas questões do nosso tempo
João Paulo
Estado de Minas: 08/06/2013
O historiador Jaime
Pinsky é autor de mais de 20 livros, entre eles estudos sobre
civilizações antigas, história da cidadania, escravidão, preconceito e
fanatismo. Como editor responsável pela Contexto, coordena um catálogo
que se distingue pela busca de obras de referência, de instrumentos de
trabalho para profissionais da área das ciências humanas e do homem
comum, curioso e interessado em conhecer melhor o seu tempo. E é com
essas credenciais que ele lança seu novo livro Por que gostamos de
história, reunião de artigos publicados no Correio Braziliense.
A
origem e o estilo dos textos poderiam ser limitações, já que se trata
de trabalhos de circunstância, que dividiam espaço com as notícias do
dia, escritos sempre com a preocupação em não complicar a vida do
leitor, sem uso de jargão ou notas de pé de página. No entanto, o que
poderia se mostrar superficial acaba ganhando sentido pela busca de
diálogo com o leitor. E é exatamente por competir com a notícia que os
artigos se mostram ainda mais interessantes. Afinal, quem gosta de
história sabe que há muito o que desvelar por trás da pretensa
objetividade dos fatos.
A grande questão que mobiliza o autor é:
como dar historicidade ao cotidiano? Na verdade, quem procura leituras
na área de história – e o sucesso de livros com essa temática, canais de
televisão, revistas e festivais, como o que será realizado este ano em
Diamantina – sabe que não sabe. Há um sentimento socrático por trás dos
amantes da história, que responde a princípio pela busca do contexto e
que depois vai se espalhando por vários momentos da vida, dos grandes
acontecimentos aos fatos do cotidiano. Tudo é história, como foi
batizada uma coleção de livros de divulgação que fez sucesso nos anos
1970 e 1980.
Mundo e família
Jaime
Pinsky dividiu o livro em oito seções. Na primeira, “História”, coloca
em cena o próprio interesse pela disciplina, discutindo aspectos como a
relação entre história e jornalismo, a sensação de aceleração do tempo
por parte da cultura jovem, o lugar das mulheres na história e, num
capítulo mais informativo, apresenta a obra de Jack Goody, um
antropólogo da civilização que ensina a respeitar o outro, atitude nem
sempre comum num mundo marcado pela intolerância.
A segunda
parte, “Cultura”, a partir de exemplos tirados do dia a dia, analisa
temas importantes, como a relação entre cultura oral e escrita, a
diferença entre sabedoria e erudição, o valor da arte popular, o sentido
civilizador de uma visita ao museu e até uma singela sugestão de
presente a ser dado às pessoas que prezamos: livro (“um objeto feito de
papel impresso, muita imaginação e um pouco de sabedoria”). As seções
seguintes têm sempre o mesmo estilo provocador e capaz de despertar a
curiosidade do leitor. Em “Mundo”, Pinsky fala a questão do
nacionalismo, da identidade e da paz; em “Povos e nações”, faz
exercícios de análise sobre questões relevantes de países europeus, da
África e do Oriente Médio.
As seções que completam o livro reúnem
textos agrupados sob a chancela de “Cotidiano”, sobre cidades,
politicamente correto e corrupção, entre outros temas; “Educação”, que
trata do professor, das diferenças culturais entre países e enumera
sugestões para melhorar o ensino no país; e “Brasil”, que disseca a
cultura de corrupção que cerca o Estado e a sociedade, na indistinção
anacrônica e atávica entre os setores público e privado – quando não em
oposições ainda mais antigas, como as que escondem os negócios do homem e
os interesses de Deus.
Ao final, Pinsky pede permissão para
mergulhar em suas referências mais pessoais, mostrando que família
também tem história e muitas estórias.
POR QUE GOSTAMOS DE HISTÓRIA
De Jaime Pinsky
Editora Contexto, 222 páginas, R$ 29,90
Nenhum comentário:
Postar um comentário