sábado, 8 de junho de 2013

Adolescente alerta sobre intolerância à união civil entre pessoas do mesmo sexo‏

Philippe Ridet

04/06/2013
Será que um jovem rapaz de 17 anos, Davide Tancredi, fará mais pelo reconhecimento da união civil entre duas pessoas do mesmo sexo do que anos de debates improdutivos? Em uma carta publicada no dia 25 de maio pelo jornal "La Repubblica", inspirada no suicídio cometido alguns dias antes, na catedral de Notre-Dame de Paris, pelo historiador de extrema direita Dominique Venner, ele também conta ter vontade de morrer. Por razões diametralmente opostas.


"Sou gay e tenho 17 anos", ele escreve. "Esta carta é a única alternativa ao suicídio em uma sociedade atrasada, em um mundo que não me aceita. A verdadeira coragem não é se suicidar à beira de seus 80 anos, mas sim sobreviver a uma adolescência com um peso desses, com a consciência de não ter feito nada de mal além de seguir seus próprios sentimentos. Nem todo mundo tem a sorte de ser heterossexual. Quem dera houvesse um pouco menos de discriminação e mais caridade cristã."


Alguns dias mais tarde, em Roma, "Simone", segundo o nome que a imprensa italiana lhe deu, não se deu ao trabalho de escrever nenhuma linha de explicação. Exposto às gozações de sua família e de seus colegas, ele se jogou da janela do terceiro andar de seu colégio em Porta Portese. Ele teve ferimentos nas pernas, mas deve se recuperar.




Esses dois acontecimentos e as repercussões que o debate sobre o assunto na França tiveram na Itália trouxeram novamente à tona a questão dos direitos dos homossexuais e, para além disso, sua aceitação em uma sociedade machista e marcada pela influência do catolicismo. Laura Boldrini (Esquerda, Ecologia e Liberdade, SEL), presidente da Câmara dos Deputados, prometeu a Davide Trancredi fazer de tudo para conseguir a votação de uma lei que garanta direitos aos casais homossexuais.

"Falas bonitas"

Essas falas bonitas não são novidade. O governo de esquerda de Romano Prodi primeiramente tentou, entre 2006 e 2009, criar um contrato civil seguindo o modelo do Pacs (união civil da França), sem sucesso. Depois foi a ministra da Igualdade de Oportunidades, Mara Carfagna (Povo da Liberdade, PDL, direita), que tentou incluir na legislação o crime de homofobia. Sem sucesso, também. Todos lembram que a RAI, a rede pública de TV, fez um papel ridículo ao censurar as cenas de sexo entre os dois heróis do filme "O Segredo de Brokeback Mountain", que, no entanto, foi exibido durante a noite. Quanto a Silvio Berlusconi, no auge dos escândalos, ele encontrou a aprovação de boa parte dos italianos ao declarar que era melhor "gostar de mulheres do que ser gay".


Mas as coisas estão mudando. Enquanto o cardeal Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana, enviou uma mensagem tanto à França quanto à Itália condenando veementemente o casamento homossexual, algumas personalidades de direita decidiram abrir o debate. A sociedade italiana está evoluindo. Hoje, 60% dos italianos, tanto de direita quanto de esquerda, católicos ou não, seriam a favor da união civil.

"Uniões homoafetivas"

"Estamos muito atrasados", acredita Giancarlo Galan, deputado do Povo da Liberdade (PDL, direita), autor de uma proposta de lei que fala pudicamente em "uniões homoafetivas" e garante os mesmos deveres dos casais heterossexuais para proclamas, proteção social e herança. Mas a palavra "casamento" --sem falar em adoção-- não consta em seu texto. Ao mesmo tempo em que critica o "medo" dos políticos em relação à "autoridade eclesiástica", Galan considera que essa palavra "evoca uma certa sacralidade e ofenderia a sensibilidade de muitos".
As associações interessadas estão esperando para ver. Já cansadas de promessas não cumpridas, elas lembram que a direita --ajudada por algumas vozes da direita, deve-se dizer-- boicotou todas as tentativas de avanços na questão. Galan quer acreditar que agora "existe uma maioria transversal no Parlamento". "Os políticos devem estar à frente da sociedade", explica Sandro Bondi, ele também ex-ministro da Cultura e membro do PDL. No caso, eles teriam é perdido o bonde.

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