A dificuldade de entender um governo de arbitragem, como o que temos no Brasil, é o mesmo do câmbio flutuante: ele flutua. Oscila ao sabor das forças em luta, como evidenciam dois exemplos recentes.
O primeiro é o caso da disputa entre indígenas e fazendeiros em Mato Grosso do Sul. As evidências disponíveis indicam tratar-se daqueles contenciosos que vêm se construindo há décadas, quando não séculos, até chegar a um ponto em que as partes se preparam para a guerra.
Embora na origem dos anos 1980 não houvesse dúvida quanto à solidariedade do partido principal hoje no Executivo com a causa dos indígenas --vítimas históricas de uma colonização cruel e genocida--, os ruralistas estão agora bem representados no mandato de Dilma Rousseff, ao lado de figuras comprometidas ainda com o passado de esquerda do PT.
No meio e acima da briga, a presidente, fiel ao estilo do antecessor, deixará a corda esticar até encontrar, quem sabe pelo cansaço, uma saída in-termediária. Um pedaço do território ficará com uma turma, enquanto o pessoal do campo oposto recebe o restante. Interessa notar que nenhuma das duas restará satisfeita com o resultado.
O segundo episódio refere-se à demissão na terça passada do diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde por ter divulgado campanha de prevenção que incluía a frase "sou feliz sendo prostituta". A decisão do ministro Alexandre Padilha parece responder à pressão dos setores evangélicos que rejeitam a liberação dos costumes e que já haviam inviabilizado em 2011 a divulgação do kit anti-homofobia do MEC.
Caso as associações que defendem os interesses das prostitutas consigam, com aliados como o movimento LGBT, uma mobilização parecida com a das tribos mato-grossenses, o comportamento das autoridades será o mesmo. Negociar à exaustão até chegar a um termo médio que acabaria por deixar descontentes conservadores e progressistas em assuntos morais.
Alguém poderia perguntar: se, no final das contas, todos ficam contra o governo, quem vai votar em Dilma em 2014? Reparem que os únicos pontos inegociáveis são os que importam ao subproletariado, de onde saem os votos que garantem a continuidade do lulismo.
Entre eles estão a continuidade e expansão do Bolsa Família bem como a intolerância com a inflação, diante da qual o trabalhador sem carteira assinada não tem proteção. É isso que explica o giro à direita na política econômica, com apoio da presidente ao aumento dos juros e a decisão de extinguir o IOF para os investidores estrangeiros, explicitando o fim do ensaio desenvolvimentista. Mas essa é outra coluna.
O primeiro é o caso da disputa entre indígenas e fazendeiros em Mato Grosso do Sul. As evidências disponíveis indicam tratar-se daqueles contenciosos que vêm se construindo há décadas, quando não séculos, até chegar a um ponto em que as partes se preparam para a guerra.
Embora na origem dos anos 1980 não houvesse dúvida quanto à solidariedade do partido principal hoje no Executivo com a causa dos indígenas --vítimas históricas de uma colonização cruel e genocida--, os ruralistas estão agora bem representados no mandato de Dilma Rousseff, ao lado de figuras comprometidas ainda com o passado de esquerda do PT.
No meio e acima da briga, a presidente, fiel ao estilo do antecessor, deixará a corda esticar até encontrar, quem sabe pelo cansaço, uma saída in-termediária. Um pedaço do território ficará com uma turma, enquanto o pessoal do campo oposto recebe o restante. Interessa notar que nenhuma das duas restará satisfeita com o resultado.
O segundo episódio refere-se à demissão na terça passada do diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde por ter divulgado campanha de prevenção que incluía a frase "sou feliz sendo prostituta". A decisão do ministro Alexandre Padilha parece responder à pressão dos setores evangélicos que rejeitam a liberação dos costumes e que já haviam inviabilizado em 2011 a divulgação do kit anti-homofobia do MEC.
Caso as associações que defendem os interesses das prostitutas consigam, com aliados como o movimento LGBT, uma mobilização parecida com a das tribos mato-grossenses, o comportamento das autoridades será o mesmo. Negociar à exaustão até chegar a um termo médio que acabaria por deixar descontentes conservadores e progressistas em assuntos morais.
Alguém poderia perguntar: se, no final das contas, todos ficam contra o governo, quem vai votar em Dilma em 2014? Reparem que os únicos pontos inegociáveis são os que importam ao subproletariado, de onde saem os votos que garantem a continuidade do lulismo.
Entre eles estão a continuidade e expansão do Bolsa Família bem como a intolerância com a inflação, diante da qual o trabalhador sem carteira assinada não tem proteção. É isso que explica o giro à direita na política econômica, com apoio da presidente ao aumento dos juros e a decisão de extinguir o IOF para os investidores estrangeiros, explicitando o fim do ensaio desenvolvimentista. Mas essa é outra coluna.
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