sábado, 8 de junho de 2013

O monge executivo - Coordenador da Jornada da Juventude, dom Orani Tempesta

folha de são paulo
O monge executivo
Coordenador da Jornada da Juventude, dom Orani Tempesta deixou a vida em mosteiro para colaborar com a estratégia de comunicação da Igreja Católica no Brasil
FABIO BRISOLLADO RIOAntes de se tornar santo, o monge francês Bernardo de Claraval conciliou a vida religiosa a uma intensa participação política na Igreja Católica. Foi escritor, conselheiro de papas, fundador de mosteiros e pregador da segunda cruzada no século 12.
São Bernardo de Claraval é uma inspiração para o monge Orani João Tempesta, 62, arcebispo do Rio encarregado de receber o papa Francisco em julho, durante a Jornada Mundial da Juventude.
"Claraval viveu a vida religiosa intensamente e, ao mesmo tempo, tinha uma preocupação com a sociedade e a igreja de sua época", disse à Folha dom Orani, que, assim como o santo de sua devoção, é monge da Ordem Cisterciense.
Na Igreja Católica do século 21, a influência do arcebispo do Rio se consolidou por sua interferência em rádios, jornais e emissoras de TV.
Além de responsável pela organização do encontro mundial de jovens católicos, dom Orani acumula funções estratégicas associadas ao plano de comunicação de massa da igreja no Brasil.
Ele é o presidente da Redevida de Televisão (emissora de TV católica), do conselho de comunicação do Congresso Nacional e do Instituto Brasileiro de Marketing Católico (IBMC). Participa ainda da comissão de comunicação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
O especialista em comunicação expressa sua opiniões sempre com muita cautela. Evita usar frases categóricas a respeito de temas polêmicos. Questionado sobre o distanciamento entre a igreja e uma parcela da sociedade, como os gays, afirmou: "Respeitamos o que cada um pensa, mas acreditamos que existe outro tipo de ser, de pensar. Se alguém não concordar, está no seu direito."
Sobre a possibilidade de um casal gay adotar um filho, disse: "A criança não pode optar. Então, devemos passar aquilo que faz parte da tradição humana."
Em sua trajetória religiosa, dom Orani sempre buscou a aproximação do evangelho com as mídias de grande alcance. Quando assumiu sua primeira paróquia, intermediou a compra de uma rádio.
Já bispo, reestruturou a Fundação Nazaré, grupo de comunicação católico com sede em Belém (PR). Soma-se ao perfil de gestor a experiência como apresentador de rádio e televisão. "Não é um exímio comunicador, mas é esforçado", brincou o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, amigo dos tempos de São José do Rio Pardo, cidade natal de dom Orani (280 km de São Paulo).
"Orani entende o valor da comunicação na igreja. Por isso, passou a ser reconhecido como especialista no assunto, além de bom administrador," avaliou dom Dadeus.
A estreia como locutor custou US$ 150 mil aos cofres da igreja, em 1991, valor pago pela rádio Difusora Casabranca, próximo a São José do Rio Pardo. Para viabilizar a compra, a arquidiocese da região vendeu uma fazenda, que havia sido doada à igreja.
Alçado a bispo em 1997, Orani virou colaborador da Redevida, emissora de TV aberta fundada dois anos antes. Em 2004, já arcebispo de Belém, assumiu a presidência da Fundação Nazaré.
"Ele imprimiu uma gestão profissional. Estruturou a fundação como uma empresa", diz Mário Jorge Alves, diretor de comunicação da fundação. Em fevereiro passado, assumiu a presidência da Redevida. E, desde 2012, conduz os trabalhos do conselho de comunicação do Congresso Nacional, que reúne representantes de empresas de comunicação e da sociedade.
"Não acredito em Deus, sou materialista, sindicalista e talvez seja o cara mais problemático do conselho. Há discussões em que tenho vontade de bater em alguns colegas", conta José Nascimento Silva, representante dos trabalhadores de rádio e TV.
"Mas dom Orani não interfere na sua fala, espera que todos se manifestem e depois ajuda a criar um consenso", completa o sindicalista.
A teóloga Maria Clara Bingemer identifica duas características opostas no arcebispo: "A vocação dele é monástica, de isolamento, silêncio, na reclusão de um mosteiro. Ao mesmo tempo, ele percebeu a importância de se comunicar e propagar o evangelho com os recursos atuais."
Dom Orani tem seu próprio site, assim como perfis no Twitter e Facebook. No iPhone, baixou os aplicativos WhatsApp, Viber e Voxer para despachar com os padres de sua equipe, já acostumados a receber mensagens de texto a qualquer hora.
Recentemente, postou em uma rede social uma foto ao lado do papa Francisco.
Nela, dom Orani usa a batina de bispo, com adornos e solidéu na cor violeta. Talvez, a paciência habitual dos monges ajude na espera pelos adornos vermelhos que caracterizam um cardeal.
Sua indicação é aguardada desde 2009, quando veio para o Rio, já que a arquidiocese da cidade sempre foi comandada por cardeais.
Será outro capítulo decisivo na sua vida, já registrada em três livros escritos pelo jornalista Carlos Moioli, seu biógrafo. Possivelmente, ele terá outras histórias para contar: "Nem de longe esperava receber a Jornada e o Santo Padre. É o ponto alto na vida de qualquer bispo".
    RAIO-X
    NOME E IDADE
    Dom Orani João Tempesta, 62
    ORIGEM
    São José do Rio Pardo (SP)
    TRAJETÓRIA
    Ingressa no mosteiro da Ordem Cisterciense aos 18 anos. Ordenado padre em 1974, assume a paróquia São Roque, em sua cidade. Torna-se bispo de São José do Rio Preto em 1997, arcebispo de Belém em 2004 e arcebispo do Rio de Janeiro em 2009
    CARGOS ATUAIS
    Presidente do Comitê Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude, presidente do Conselho de Comunicação do Congresso Nacional, presidente do Instituto Brasileiro de Marketing Católico, presidente da emissora de televisão católica Redevida e integrante da Comissão para Comunicação da CNBB
      Papa Francisco vai fazer celebrações em português na jornada
      Evento tem como uma de suas características priorizar língua do país sede, diz organizador
      DO RIOO papa Francisco vai falar em português nas principais cerimônias da Jornada Mundial da Juventude.
      Em visita ao Rio, o responsável pela organização dos atos litúrgicos do pontífice, monsenhor Guido Marini, confirmou a escolha do idioma nas participações de Francisco no encontro mundial de jovens católicos.
      Na quinta-feira, dia 25 de julho, em sua chegada à jornada católica, o papa vai discursar em português na praia de Copacabana.
      O idioma vai prevalecer também nas intervenções do pontífice na encenação da Via Sacra (no dia 26, em Copacabana), na vigília com os jovens (no dia 27, em Guaratiba) e na missa de encerramento da Jornada (no dia 28, em Guaratiba).
      "É uma característica da Jornada priorizar as celebrações na língua do país sede do encontro", afirmou o padre Arnaldo Rodrigues, um dos diretores executivos do comitê organizador, que acompanhou o emissário do Vaticano em vistorias pelas igrejas e capelas no roteiro da viagem papal.
      Guido Marini visitou o templo de São Jerônimo Emiliani, na favela de Varginha, em Manguinhos (zona norte da cidade), a capela do hospital São Francisco de Assis, na Tijuca (também na zona norte), e a Catedral Metropolitana do Rio (centro).
      Ontem, o emissário do Vaticano foi ao santuário de Aparecida, onde o papa vai celebrar missa no dia 24 de julho, uma quarta-feira.
      Marini embarcou na manhã de ontem de volta a Roma.
        AGENDA DO PAPA NO BRASIL
        22.JUL
        O papa vai desembarcar à tarde no Rio, com a presença da presidente Dilma Rousseff; em seguida, fará seu primeiro discurso no país no Palácio Guanabara, sede do governo
        24.JUL
        Antes de participar da Jornada Mundial da Juventude, o papa irá a Aparecida (SP), onde celebrará uma missa
        25.JUL
        Pela manhã, visitará uma comunidade carente na zona norte do Rio; à noite, se encontrará pela primeira vez com os participantes da Jornada Mundial da Juventude
        26.JUL
        O pontífice vai assistir à encenação da Via Crucis, na orla de Copacabana
        27.JUL
        Passagem do papa pelo campo em Guaratiba, onde os participantes da jornada estarão concentrados
        28.JUL
        O papa Francisco celebra a missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude

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