Bruna Sensêve
Estado de Minas: 02/07/2013
A população que sofre
uma epidemia de gripe pode elevar o risco de contágio pela bactéria
pneumococo – responsável pela pneumonia – em até 100 vezes. A taxa de
coinfecção é bastante elevada, mas tem uma pequena duração, cerca de uma
semana, segundo estudo publicado na revista científica Science
Translational Medicine. A suscetibilidade da pessoa acometida pela gripe
a desenvolver a infecção bacteriana já é uma velha conhecida da clínica
médica, mas nunca pôde ser mensurada para medidas de saúde pública no
caso de situações extremas. Os dados, por muitas vezes mascarados em
termos populacionais, foram calculados com exatidão pela primeira vez
por uma equipe de pesquisadores liderada por Sourya Silva, da
Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Ele acredita que os
resultados poderão ampliar as estratégias em saúde pública para
controlar a propagação da pneumonia pneumocócica, que, em muitos casos,
pode levar à morte.
Estudos em seres humanos mostram alterações fisiológicas durante a infecção gripal que propiciam um ambiente mais favorável à instalação do tipo de bactéria que causa a pneumonia, podendo, inclusive, torná-la mais grave. O artigo, publicado na quinta-feira, apresenta um modelo computacional de transmissão da pneumonia depois de analisar diversas hipóteses sobre os possíveis efeitos de uma infecção anterior de influenza – vírus mais comum causador da gripe. Os integrantes do estudo analisaram relatórios epidemiológicos de hospitalizações por pneumonia e registros semanais de pacientes infectados com a influenza. Os dados foram coletados em Illinois, no Centro-Oeste dos Estados Unidos, entre 1989 e 2009, e possibilitaram a classificação de hipóteses que associavam a transmissão de ambas doenças.
A hipótese destacada pelo modelo matemático é conhecida como impacto de suscetibilidade. Isso é, aqueles infectados com a influenza são mais suscetíveis à pneumonia pneumocócica. No pico da “estação da gripe”, a equipe de Sourya Silva afirma que a interação da infecção viral e por pneumococo chega a 40%. Anualmente, isso significa que entre 2% e 10% das pessoas infectadas com gripe tiveram esse fator como uma predisposição ao desenvolvimento da pneumonia. Esse dado seria capaz de justificar a hipótese por que ainda não tinha sido possível mensurar essa interação, que, em termos anuais, é bastante sutil.
Segundo o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, quando a pessoa está gripada, existem alterações estruturais e imunológicas nas células do pulmão que favorecem a infecção bacteriana. O pulmão desenvolve uma pneumonite viral, um processo inflamatório pulmonar que promove modificações nos alvéolos – a unidade de funcionamento do pulmão onde se dão as trocas gasosas. “São dois processos, um inflamatório e outro componente chamado vasculite, que é uma alteração inflamatória dos vasos, elevando o risco de sangramento e promovendo o acúmulo de secreção local, o que favorece o desenvolvimento de processos infecciosos bacterianos”, detalha Gorinchteyn.
O infectologista ressalta ainda que esses processos levam a alterações imunológicas locais, debilitando o sistema de defesa do organismo e, mais uma vez, deixando o caminho livre para a instalação da bactéria pneumococo. “São dois mecanismos que se somam e a infecção bacteriana acaba sendo, de certa forma, oportunista. Ela aproveita a baixa imunidade para se desenvolver.” A pneumonia é encarada como uma complicação sutil do quadro viral. Em vez de a febre passar, ela continua aumentando. O pigarro da tosse passa a ter uma cor amarelada ou esverdeada. Por esse motivo, Gorinchteyn alerta: só quem pode fazer essa avaliação precisa é o médico.
“A primeira coisa é não banalizar os sintomas da gripe. Percebemos que aqueles que evoluíram de forma insatisfatória e chegaram ao óbito não tinham nenhum fenômeno de risco, eram pacientes que banalizaram os sintomas e postergaram a ida ao médico.”
Professor do Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Renato Seligman lembra dados importantes que puderam ser percebidos durante a última grande epidemia gripal no Brasil, em 2009. “Vimos que pessoas gripadas tratadas com o antiviral tinham menos complicações, internavam menos, iam menos para a UTI, usavam menos respiração mecânica e menos hemodiálise do que as pessoas que não tratavam (a gripe)”, conta.
Segundo Seligman, é bastante comum, nessa situação, encontrar pessoas que desenvolvem também otite e sinusite bacteriana. Isso porque as alterações celulares e anatômicas provocada pela infecção viral dificultam o combate de infecções bacterianas. Um exemplo é a obstrução nasal e o consequente acúmulo de secreção nos seios da face, que ficam com uma drenagem insuficiente, aumentando o risco de sinusite bacteriana. O comprometimento da drenagem da secreção no ouvido é o que aumenta o risco de otite.
Para evitar a infecção inicial, a recomendação básica é a vacinação contra a influenza, ressalta Seligman. “Ela não é 100%, pois o vírus sofre muitas mutações no mundo inteiro, mas, em princípio, a vacina dá uma proteção epidemiológica de 80%.” Quando há a população vacinada, o número de casos de influenza cai, assim como as consequências posteriores à infecção viral.
Estudos em seres humanos mostram alterações fisiológicas durante a infecção gripal que propiciam um ambiente mais favorável à instalação do tipo de bactéria que causa a pneumonia, podendo, inclusive, torná-la mais grave. O artigo, publicado na quinta-feira, apresenta um modelo computacional de transmissão da pneumonia depois de analisar diversas hipóteses sobre os possíveis efeitos de uma infecção anterior de influenza – vírus mais comum causador da gripe. Os integrantes do estudo analisaram relatórios epidemiológicos de hospitalizações por pneumonia e registros semanais de pacientes infectados com a influenza. Os dados foram coletados em Illinois, no Centro-Oeste dos Estados Unidos, entre 1989 e 2009, e possibilitaram a classificação de hipóteses que associavam a transmissão de ambas doenças.
A hipótese destacada pelo modelo matemático é conhecida como impacto de suscetibilidade. Isso é, aqueles infectados com a influenza são mais suscetíveis à pneumonia pneumocócica. No pico da “estação da gripe”, a equipe de Sourya Silva afirma que a interação da infecção viral e por pneumococo chega a 40%. Anualmente, isso significa que entre 2% e 10% das pessoas infectadas com gripe tiveram esse fator como uma predisposição ao desenvolvimento da pneumonia. Esse dado seria capaz de justificar a hipótese por que ainda não tinha sido possível mensurar essa interação, que, em termos anuais, é bastante sutil.
Segundo o infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, quando a pessoa está gripada, existem alterações estruturais e imunológicas nas células do pulmão que favorecem a infecção bacteriana. O pulmão desenvolve uma pneumonite viral, um processo inflamatório pulmonar que promove modificações nos alvéolos – a unidade de funcionamento do pulmão onde se dão as trocas gasosas. “São dois processos, um inflamatório e outro componente chamado vasculite, que é uma alteração inflamatória dos vasos, elevando o risco de sangramento e promovendo o acúmulo de secreção local, o que favorece o desenvolvimento de processos infecciosos bacterianos”, detalha Gorinchteyn.
O infectologista ressalta ainda que esses processos levam a alterações imunológicas locais, debilitando o sistema de defesa do organismo e, mais uma vez, deixando o caminho livre para a instalação da bactéria pneumococo. “São dois mecanismos que se somam e a infecção bacteriana acaba sendo, de certa forma, oportunista. Ela aproveita a baixa imunidade para se desenvolver.” A pneumonia é encarada como uma complicação sutil do quadro viral. Em vez de a febre passar, ela continua aumentando. O pigarro da tosse passa a ter uma cor amarelada ou esverdeada. Por esse motivo, Gorinchteyn alerta: só quem pode fazer essa avaliação precisa é o médico.
“A primeira coisa é não banalizar os sintomas da gripe. Percebemos que aqueles que evoluíram de forma insatisfatória e chegaram ao óbito não tinham nenhum fenômeno de risco, eram pacientes que banalizaram os sintomas e postergaram a ida ao médico.”
Professor do Departamento de Medicina Interna da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Renato Seligman lembra dados importantes que puderam ser percebidos durante a última grande epidemia gripal no Brasil, em 2009. “Vimos que pessoas gripadas tratadas com o antiviral tinham menos complicações, internavam menos, iam menos para a UTI, usavam menos respiração mecânica e menos hemodiálise do que as pessoas que não tratavam (a gripe)”, conta.
Segundo Seligman, é bastante comum, nessa situação, encontrar pessoas que desenvolvem também otite e sinusite bacteriana. Isso porque as alterações celulares e anatômicas provocada pela infecção viral dificultam o combate de infecções bacterianas. Um exemplo é a obstrução nasal e o consequente acúmulo de secreção nos seios da face, que ficam com uma drenagem insuficiente, aumentando o risco de sinusite bacteriana. O comprometimento da drenagem da secreção no ouvido é o que aumenta o risco de otite.
Para evitar a infecção inicial, a recomendação básica é a vacinação contra a influenza, ressalta Seligman. “Ela não é 100%, pois o vírus sofre muitas mutações no mundo inteiro, mas, em princípio, a vacina dá uma proteção epidemiológica de 80%.” Quando há a população vacinada, o número de casos de influenza cai, assim como as consequências posteriores à infecção viral.
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